O fundador e presidente da cachaça Seleta, Antônio Rodrigues, é um exemplo de empreendedorismo e de sucesso. Com mais de 40 anos de mercado e uma produção anual de 1,5 milhões de litros da bebida, a empresa foi responsável por mudar o cenário da pinga que dominava a pequena cidade de Salinas (norte de Minas) para apresentar ao país as cachaças de grife e qualidade ímpar. Hoje, Toni Rodrigues, como é conhecido na região, é proprietário de três grandes marcas de cachaça regionais: a Seleta, a Boazinha e a Saliboa, cada uma com características peculiares.
No início, Rodrigues apenas envelhecia a cachaça e a comercializava a granel na região mesmo. Depois começou a engarrafar a bebida e os clientes não pararam de chegar. "Os processos são a alma do negócio, como a fermentação, destilação, envelhecimento e engarrafamento, que ainda são feitos no estilo artesanal para não perder a essência do produto", explica.
Feitas com cana crua, de fermentação natural e em alambiques de cobre, as cachaças produzidas pela empresa de Rodrigues são envelhecidas em tonéis de bálsamo, ipê amarelo e umburana. "A Boazinha foi a primeira marca que produzi, em 1970, e recebeu o nome dos consumidores que sempre pediam mais uma dose daquela ‘boazinha’. A Seleta é considerada a ‘estrela do show’, recomendada para quem gosta de sabores intensos; e a Saliboa é uma cachaça que tem toque de elegância e sabor característico", esclarece.
Com 120 colaboradores, Rodrigues diz que os funcionários são como uma grande família, pois possuem as mesmas ideias e o mesmo direcionamento para os negócios, por isso alcançam as metas estabelecidas pela marca. "Nosso foco é o mercado nacional, mas já exportamos para sete países e temos trabalhado parcerias para ampliar os negócios internacionais. Os Estados Unidos já reconheceram a cachaça como produto especialmente brasileiro", ressalta.
Embora não divulgue o faturamento da empresa, Rodrigues diz não gostar de se sentir na zona de conforto. "Gosto mesmo é de me sentir incomodado com algo, pois essa sensação não me permite parar e deixar de visualizar resultados maiores. Tenho muito a crescer ainda", conclui o fundador.
Os colaboradores da Seleta unidos ao milhares de fãs e consumidores da bebida em todo o mundo formam uma legião chamada de "seleteiros", são pessoas que consomem e acreditam na marca como algo único e muito especial.
Especialista explica certificado de IG
A cachaça artesanal de Salinas, Norte de Minas, recebeu em julho o certificado de indicação geográfica, concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), que torna o produto protegido de falsificações e da concorrência desleal de produtores de outras regiões que tentam vender suas bebidas como se fossem produzidas na cidade mineira. O projeto é amparado por lei desde 1996, e deferiu apenas 23 pedidos de indicação até hoje, em todo o Brasil. Os empresários do Norte do estado aguardavam o resultado do processo desde 2009.
De acordo com a advogada da Cone Sul Assessoria Empresarial e especialista em propriedade intelectual, Maria Isabel Monta¤es, o número de processos concluídos são raros, porque existem poucas regiões que são realmente reconhecidas pelo consumidor como procedência. "Esse registro é muito específico e sua titularidade não é dada a uma pessoa ou empresa. A solicitação deve ser feita por associação, sindicato ou outros grupos que representem os anseios comerciais de uma determinada região", afirma.
A análise do produto pode durar de três a quatro anos e está baseada em dois princípios: a qualidade e a história da marca. "O selo do Inpi resgata o passado do local, reconhece a região como detentora do nome e assegura ao consumidor a qualidade do produto que está sendo comercializado", esclarece a especialista.
Maria Isabel Monta¤es considera necessário desenvolver estudos com o objetivo de identificar produtos com propriedades ou tipificações específicas que possam ser diferenciados com características próprias ou particulares. "As indicações geográficas além de atestarem o nível de qualidade da produção, agrega-lhes valor econômico inestimável e atribui-lhes reputação", completa.
Após a certificação do Inpi para a cachaça de Salinas, ficou definido que só pode levar o nome da marca a bebida produzida no município de Salinas e em cinco cidades, também do Norte do Estado. São elas, Novorizonte e parte dos municípios de Taiobeiras, Rubelita, Santa Cruz de Salinas e Fruta de Leite. O pedido de indicação geográfica foi feito pelos produtores da cidade, que defendem que somente nessa região todas as etapas artesanais de fabricação da verdadeira Salinas são seguidas. A região mineira é a segunda no Brasil reconhecida como indicação de procedência de uma cachaça, depois de Paraty (RJ), que teve o selo deferido em 2007.
Outros produtos - Os produtos têxteis feitos com algodão colorido do estado paraíbano e os doces de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, também receberam o registro do Inpi no mês de julho. A certificação contempla 15 receitas da Associação dos Produtores de Doces de Pelotas, dentre eles, quindim, broinha de coco, olho de sogra, panelinha de coco, camafeu, queijadinha, pastel de Santa Clara, bem casado, fatia de Braga, trouxinha de amêndoa, amanteigado, papo de anjo, ninho e cristalizados.
Um pedido de indicação geográfica custa R$ 590 para indicação de procedência (ligada à origem do produto) e R$ 2.135 para denominação de origem (limitação da área onde é produzido).
Veículo: Diário do Comércio - MG