Lílian Cunha
A indústria brasileira de cervejas aperta o cinto. Desde as pequenas, como a Petrópolis, até as maiores, como a AmBev, todas estão de olho no aumento de custos que atinge o setor internacionalmente. A maior pressão vem do campo: a cevada, matéria prima do malte, subiu 48% nos últimos 12 meses. Milho e arroz, que também fazem parte dos ingredientes da bebida (são 40% da parte sólida), subiram até 94%.
Fora isso, contam também o aumento do gás industrial (40%), usado no engarrafamento, a alta dos combustíveis, com o diesel 10% mais caro, e também a lei de restrições à circulação de caminhões em São Paulo, que empurrou a distribuição para o período da noite. Tudo isso seria capaz de provocar um aumento na cerveja no varejo de mais de 10%, além dos 4,5% já registrados nos últimos 12 meses. Mas esse aumento tende a não ocorrer.
"O mercado não está muito católico para aceitar um repasse de preços agora", diz o consultor especializado em bebidas, Adalberto Viviani. A chamada Lei Seca, que apertou a fiscalização contra motoristas que bebem antes de dirigir, deixou o varejo apreensivo, com medo de queda nas vendas. Alguns bares falam em queda de até 30% no faturamento. Como são responsáveis por mais da metade das vendas de cerveja no país, não aceitam sequer discutir a possibilidade de um aumento.
De fato, pode haver, sim, uma queda nas vendas, conforme aponta a Nielsen. Em junho, último mês apurado pela empresa de pesquisas, foram vendidos 560, 4 milhões de litros no país. O número é 11,15% melhor que os 504 milhões de litros de junho de 2007, mas 3,22% pior que os 579 milhões de maio passado. O aumento nos 12 meses, segundo análise da Nielsen, tem a ver ainda com o crescimento do mercado iniciado no ano passado, com o maior poder aquisitivo das classes mais pobres. Já os 3% de queda seriam reflexo dos primeiros 9 dias da nova legislação.
De qualquer maneira, a indústria dá como certo que não há como repassar a alta. "E a tendência é continuar subindo", diz o especialista em cevada, Euclydes Minella, pesquisador da Embrapa Trigo de Passo Fundo (RS). Segundo ele, essa escalada é internacional. "A área de plantio diminuiu em favor de outras culturas ligadas aos biocombustíveis", afirma.
No Brasil, que importa 30% da cevada utilizada pelas cervejarias, outros fatores também contribuíram: o aumento da produção nacional de cervejas, que pulou de 8,23 bilhões de litros em 2000 para 10,34 bilhões no ano passado, e também o maior número de maltarias. Antes eram duas, agora são três, com a quarta já em construção.
Por isso, as cervejarias procuram maneiras de cortar gastos. A Femsa achou na Sol Shot, lançada há um ano, sua solução. A nova versão tem 250 ml, contra os 350 da lata e os 355 ml da garrafa "long neck". O preço caiu de R$ 1,69 para R$ 0,89. O sucesso foi grande. "Não podemos falar em número de vendas, mas alcançamos um resultado quatro vezes maior que o esperado", diz Riccardo Morici, diretor de marketing da Femsa Brasil. Tanto que a produção da Shot, antes restrita à fábrica de Araraquara (SP), foi estendida às plantas de Ponta Grossa, PR, e Feira de Santana (BA).
Já a Petrópolis preferiu outra saída. "Adotamos a política de racionalizar nossos custos internos e valorizar o mix", diz Agostinho Gomes da Silva, diretor administrativo da cervejaria. Dentro da estratégia, a marca está lançando a Itaipava Sem Álcool e a cerveja Petra, com álcool, nas versões pielsen premiun, bock e escura alemã.
Na distribuição, a empresa foi criativa: rearrumou os engradados no caminhão e aumentou a capacidade das carretas em cerca de 20%, respeitando a legislação, segundo Silva. "São menos viagens, menos combustível, menos emissão de gás carbônico e menos gastos", diz ele.
Veículo: Valor Econômico