Quando veio de Paris e desembarcou em Pernambuco, direto para a festa de São João em Caruaru, um dos maiores eventos populares do País, o francês Gilles Bogaert teve a certeza de que estava diante de um povo que gostava de celebrar seus momentos felizes. Refeito da alegria nordestina, chegou a São Paulo para um encontro gastronômico em plena rua Oscar Freire, num dos endereços mais sofisticados da cidade. A experiência foi esclarecedora sobre as características do País para o executivo que trazia na bagagem a missão de assumir o comando da Pernod Ricard no Brasil e implantar aqui a estratégia global traçada pela companhia. "Desde que cheguei, em junho deste ano, não parei um minuto. Já fui a boates e bares, inclusive durante o inverno em Campos de Jordão (SP). Tudo para conhecer de perto os hábitos e preferências dos brasileiros", diz.
O movimento parece até agradável ao jovem de 39 anos, que fala bem o português graças ao ano que passou no Rio de Janeiro, em 2002, quando dirigia a área financeira da companhia. Depois disso, Bogaert, que já está há 13 anos no grupo, assumiu um dos postos-chave na área de novos negócios, um dos segmentos mais movimentado do grupo e responsável por um período de aquisições agressivas. A última delas foi a compra da sueca Vin & Spirit AB, dona da marca de vodca Absolut, por €5,6 bilhões, que colocou a companhia francesa lado a lado com a então líder mundial Diageo, que produz a vodka Smirnoff. Atualmente a Pernod fatura € 6,6 bilhões e movimenta 91 milhões de caixas de 9 litros em todo o mundo, engolindo uma participação de 27% do mercado de bebidas premiun após a aquisição.
Passado o período de consolidação, a empresa deve "digerir" todas as aquisições e começar a traçar os planos para o que ele chama de crescimento orgânico. "Adquirimos muitas empresas, muitas marcas e, com elas, diversas operações de distribuição em mais de 70 países. Agora precisamos organizar tudo isso e crescer utilizando estrutura existente", explica o executivo, sem negar, porém, que a empresa vai continuar atenta às oportunidades.
Seu maior desafio no Brasil, será implantar a estratégia mundial global de reforço às marcas premium como Ballantine´´ s , Chivas Regal, entre outras. Isso porque este mercado é considerado um dos mais promissores mesmo no Brasil, atingindo a casa dos 10% ao ano. "Claro que a estratégia é global, mas o comando é descentralizado. O que nos permite tomar decisões locais e ter maior agilidade", explica o novo CEO. Isso significa muitas visitas a festas como São João, Carnaval, e outras comemorações e grandes eventos, aliás, uma das grandes estratégias da companhia para chegar bem perto dos consumidores finais. Especialmente com as marcas regionais tais como o Ron Montilla, Natu Nobilis, Passport e Almadén.
Segundo Bogaert, o Brasil figura entre os três mercados que mais crescem, ao lado de China e Rússia. No último ano fiscal, que foi de julho de 2007 a junho de 2008, a empresa faturou R$ 350 milhões líquidos no País, movimentando cerca de 6,5 milhões de caixas de 9 litros de bebidas. O mercado brasileiro de bebidas destiladas chega a 24 milhões de caixas 9 litros (excluindo cachaça). Na América Latina, a Pernod afirma qter crescido 20%, sem informar quanto é relativo a Brasil. O executivo não desanima nem diante da Lei Seca. "Já enfrentamos isso em outros países e sabemos que haverá acomodação. A indústria também tem de promover o consumo responsável", diz.
Veículo: Gazeta Mercantil