O ritmo lento de recuperação da economia brasileira este ano está levando a Ambev a projetar uma retomada mais consistente da demanda doméstica apenas no longo prazo, dizem executivos.
"Estamos otimistas sobre o crescimento de longo prazo para o Brasil, mas no curto prazo mantemos a cautela", afirmou ontem, durante entrevista a jornalistas, o vice-presidente financeiro e de relações com investidores da Ambev, Ricardo Rittes.
Após uma retração de cerca de 5% do volume vendido pelo mercado cervejeiro no ano passado, em 2017 vem ocorrendo "uma evolução positiva", destacou ele, em referência aos dados medidos pela Nielsen, que apontaram quedas de apenas 2,1% no primeiro trimestre e de 2,7% no segundo trimestre, ambos na comparação os mesmos períodos de 2016.
As vendas de cerveja da Ambev no Brasil somaram R$ 4,701 bilhões no segundo trimestre, uma retração de 3,3% na comparação com o mesmo período do ano passado. No entanto, em volume, a queda foi de 1,3% - desempenho superior ao do setor, indicando ganhos de participação de mercado da companhia ao longo do segundo trimestre sobre a concorrência.
Considerando todos os mercados no Brasil, a receita líquida recuou 4,1% entre abril e junho, para R$ 5,3 bilhões, ao passo que o volume vendido apresentou queda de 4,7%.
No mercado de refrigerantes e outras bebidas sem álcool, o volume das vendas caiu 14,1%. De acordo com o relatório de desempenho da companhia, especialmente neste segmento, seu desempenho foi inferior ao da média do mercado - já que a Nielsen estimou uma retração de 9,7% das vendas desta categoria. No caso dos refrigerantes, a retração vem ocorrendo pelo processo de substituição da bebida por marcas de preços menores, suco em pó ou mesmo água filtrada, destacou a empresa.
"Os resultados no Brasil novamente não ofereceram sinais mais fortes de recuperação", escreveram em relatório os analistas do BTG Pactual, Thiago Duarte e Vito Ferreira.
Consolidado
De forma consolidada, considerando os resultados dos 18 países de atuação da Ambev, a receita líquida apresentou um crescimento orgânico de 4,8%, atingindo R$ 10,268 bilhões no segundo trimestre de 2017. O volume de bebidas comercializado chegou a 35,660 milhões de hectolitros, total 1,1% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. Já o lucro líquido ajustado da cervejaria caiu 2,4%, totalizando R$ 2,141 bilhões entre abril e junho deste ano.
Segundo a empresa, todas as operações internacionais da Ambev registraram crescimento das vendas no segundo trimestre: América Latina Sul (+36,2%), América Central e Caribe (+6,9%) e Canadá (+1,4%) - o que contrasta com o desempenho brasileiro de retração da vendas.
"Reconhecemos o momento difícil do País", comentou Rittes, emendando que a empresa segue firme, porém, com suas estratégias de crescimento para os próximos trimestre.
Para driblar a crise, a empresa vem apostando na ampliação da exposição das marcas Skol e Antártica em festivais regionais, no incremento das vendas no mercado Premium (que, segundo a empresa, cresceu entre 17% e 19% no trimestre) e até mesmo no avanço na oferta de garrafas retornáveis. A empresa informou que o volume de vendas de garrafas de vidro de cerveja, especialmente de 300 mililitros, que contam com preços mais baixos, cresceu "mais de dois dígitos" na comparação anual. "Essa é uma opção que traz ganhos para o meio ambiente e para os consumidores", disse. Ele informou que o volume de garrafas retornáveis sobre as vendas saltou de 4%, em 2014, para 23% em 2016. Para este ano, Rittes projetou uma alta de dois dígitos.
O executivo evitou dar detalhes, mas afirmou que a Ambev vai manter no segundo semestre a política de reajuste de preços, acompanhando os índices de inflação.
Em relação à recente alta dos tributos sobre os combustíveis, Rittes minimizou o impacto, ressaltando que este não é um dos "custos mais importantes" da empresa, mesmo vendendo seus produtos em pontos de venda espalhados pelo Brasil.
Fonte: DCI São Paulo