Mudanças de hábitos de consumo nos últimos anos têm atraído marcas premium de bebidas alcoólicas ao Brasil. Desde a crise econômica, mercado tem visto preferência da qualidade sobre a quantidade.
“Há uma racionalização maior do consumo, investe-se em um produto de qualidade superior, diminuindo o volume”, aponta a consultora da indústria de bebidas alcoólicas da Euromonitor International, provedor de pesquisa de mercado, Angelica Salado.
Ela conta que a tendência é bem perceptível nos mercados de cerveja e vinho. “As marcas de cerveja premium e artesanal crescem muito. Já a indústria nacional de vinho tem modificado o portfólio para trazer produtos mais qualificados após sofrer muito com a concorrência de bebidas importadas de maior valor agregado.”
De acordo com levantamento da Euromonitor, a categoria que apresenta o desempenho em 2019 são as bebidas alcoólicas mistas e prontas para consumo. “Há um crescimento acelerado de bebidas à base de destilados, tanto as marcas de preço mais acessível quanto produtos premium, com ênfase nas mistas à base de gin”, conta Angelica.
A consultora destaca o crescimento do consumo desta bebida no País. “Foi uma surpresa, o gin é uma bebida com preço médio superior a vodca, considerada mais resiliente à crise. É uma categoria que vem crescendo ano a ano. Está acontecendo uma entrada massiva de marcas premium.”
De olho nesse mercado, a Beam Suntory, companhia de destilados premium, assumiu cem por cento da operação de suas marcas no Brasil. “O marketing e a distribuição eram feitos pela Bacardi. Decidimos internalizar esse trabalho para crescer de forma agressiva. Multiplicamos nosso investimento no Brasil”, explicou o presidente da Beam Suntory Paraguai, Uruguai e Brasil, Walter Celli.
A expectativa da empresa, detentora de marcas como a Jim Beam Bourbon e Teacher's Whisky, é aumentar dez vezes as vendas no longo prazo. “O Brasil vai entrar em uma rota de crescimento e a indústria de bebidas é um reflexo da economia”, diz o executivo.
Celi também assinala o forte desempenho do gin. “É uma categoria que está explodindo, caiu no gosto do brasileiro e está tomando o mercado da vodca. Vamos trazer uma proposta de uma marca mediterrânea, mais leve e mais adequada ao clima tropical”, disse.
Outra empresa do setor que se movimenta é a Diageo. Produtora de bebidas alcóolicas premium e proprietária das marcas Johnnie Walker, Smirnoff e Ypioca, anunciou um investimento de R$ 100 milhões em um novo complexo industrial em Itaitinga (CE).
Pesquisa
Um levantamento da Lockton National Food and Beverage Practice Group, setor da corretora Lockton voltado à indústria de alimentos e bebidas, apontou que 70% do setor considera a demanda por produtos saudáveis um fator de risco para o negócio. A pesquisa teve foco no continente americano.
O constante crescimento de expectativas do consumidor por melhores formas de distribuição, regulamentos de segurança de alimentos e ataques cibernéticos são outros fatores de riscos mencionados. “Ouvimos empresas de médio e grande porte de toda cadeia”, contou Paulo Vitor Rodrigues, líder da prática de agronegócios e alimentos & bebidas da Lockton Brasil.
Ele afirma que a demanda por saudabilidade já é uma realidade no País. “É um mercado enorme e, com as mudanças de hábitos alimentares, alguns ingredientes viram vilões, como a soja e a lactose.”
Entre as estratégias para atender a demanda, Rodrigues vê movimentos de aquisições. “As grandes companhias estão comprando empresas menores que são especializadas nesse tipo de produtos. Em outros casos, as fórmulas de produtos consolidados são alteradas.”
A pesquisa indicou ainda as principais preocupações do setor. Os preços de commodities, planejamento, falhas na cadeia de suprimentos, recall de produtos e danos à reputação da marca foram os grandes destaques apontados.
Fonte: DCI