A Anheuser-Busch InBev, que se tornou a maior fabricante de cervejas do mundo por meio de aquisições, poderá avançar sobre a Corona do México em seu próximo negócio, numa tentativa de repetir a fórmula de "comprar" o crescimento dos lucros via cortes de custos em um mercado estagnado.
Na semana passada, a AB InBev informou vendas de cervejas que ficaram abaixo das estimativas dos analistas. Andrew Holland, analista da Evolution Securities, diz que para continuar se beneficiando dos cortes de custos, à medida que os benefícios da aquisição da Anheuser-Busch forem diminuindo, a AB InBev poderá tentar comprar a participação de 50% que ainda não detém no Grupo Modelo, fabricante da Corona. Essa fatia é avaliada em cerca de US$ 7 bilhões.
O presidente da AB InBev, Carlos Brito, diz que a companhia tem "muito o que fazer" nas Américas. A Femsa, a única concorrente da Modelo, está discutindo sua venda para a SABMiller e a Heineken.
"Tenho certeza que eles já estão de olho em outra oportunidade" de aquisição, diz Holland sobre a AB InBev. Segundo ele, os resultados divulgados na quinta-feira mostram que a cervejaria, diferentemente de suas concorrentes, aumenta seus lucros principalmente por meio de cortes de custos, e não pelo talento em marketing. "É apenas a InBev que parece não conseguir fazer ambas as coisas. A gente fica pensando se a obsessão da empresa com a contenção de custos não tem implicações sobre sua capacidade de ampliar o faturamento", disse Holland.
Marianne Amssoms, porta-voz da AB InBev, não quis comentar o assunto. A companhia de Leuven, na Bélgica, não quis falar na sexta-feira sobre possíveis aquisições, com o diretor-financeiro Felipe Dutra dizendo que o pagamento das dívidas continua sendo o foco no momento. Jennifer Shelley, porta-voz da Modelo, não quis falar quando perguntada se haveria interesse da companhia em ser comprada pela AB InBev.
Na quinta-feira, a AB InBev disse que aumentou os lucros do terceiro trimestre em 11,9%, na chamada base orgânica, reduzindo as despesas em US$ 256 milhões -- com demissões em fábricas que eram da Anheuser-Busch e usando uma única agência de propaganda. O foco na redução das despesas é ainda mais urgente, já que a receita teve uma queda de 10,4%, uma vez que os americanos estão mudando para marcas mais baratas de cerveja. Esse desempenho ficou abaixo das estimativas dos analistas.
Brito, Dutra e os outros executivos brasileiros que comandam a AB InBev, são conhecidos pela abordagem chamada "orçamento base zero", em que os orçamentos para as atividades individuais ou departamentos não são automaticamente transferidos a cada ano. Na quinta-feira, eles deixaram inalterada a meta de economizar US$ 1 bilhão este ano, desapontando alguns analistas.
Além da Anheuser-Busch, os brasileiros também usaram o "orçamento base zero" quando combinaram a AmBev com a ex-Interbrew para formar a InBev, proporcionando quatro anos de valorização das ações entre 2004 e 2007, mesmo com a disparada dos preços da cevada e do alumínio.
Se a AB InBev voltar sua atenção para o México, ela terá um papel importante no sexto maior mercado de cerveja do mundo em volume. A companhia belga herdou sua participação de metade da Modelo da Anheuser-Busch. Os outros acionistas incluem seis famílias mexicanas e o restante das ações é negociado na bolsa de valores.
"A AB InBev definitivamente quer fazer esse negócio e eles certamente estão em posição de fazer isso em 12 meses", diz Trevor Stirling, analista da Sanford C. Bernstein em Londres. Até lá, a maior fabricante de cerveja do mundo já terá pago dívidas suficientes para comprar o controle pleno da Modelo, diz ele.
A Modelo, cuja Corona é a marca de cerveja importada mais vendida nos Estados Unidos, anunciou no mês passado um crescimento de 32% para o lucro líquido e superou as estimativas dos analistas, aumentando as vendas domésticas mesmo com a contração da economia. A marca Corona é forte o suficiente para que em agosto a Modelo tenha afirmado não ter planos de reduzir os preços nos EUA durante a recessão.
Um obstáculo poderá ser a arbitragem que está ocorrendo entre as duas companhias. A Modelo quer US$ 2,5 bilhões por danos sofridos, numa reivindicação que originalmente tentou impedir a Anheuser-Busch de vender sua participação de 50% na companhia para a antiga InBev. No entanto, Melissa Earlam, analista do UBS em Londres, disse acreditar que as partes resolverão a disputa antes do fim do ano.
Para a AB InBev, o México "seria sua maior prioridade na área de fusões e aquisições" assim que já tiver eliminado uma quantidade suficiente de suas dívidas, afirma Earlam. "Acreditamos que a AB Inbev vai negociar com a Modelo mais para frente."
Veículo: Valor Econômico