O refrigerante Charrua ou o guaraná Simba não são marcas líderes do mercado nacional de refrigerantes. Para a maioria dos consumidores, não passam de ilustres desconhecidas. Mas Simba e Charrua são os mais novos protagonistas de uma briga que, se depender da Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras), deve chegar ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). As duas marcas pertencem à Coca-Cola Brasil e são fabricadas por engarrafadoras afiliadas à multinacional. O Simba, vendido no interior de São Paulo, é feito pela Femsa e o Charrua é fabricado pela Vonpar, e vendido no Rio Grande do Sul.
"Essas duas marcas estão praticando ação predatória e desleal contra seus concorrentes", diz Fernando Rodrigues de Bairros, presidente da Afrebras. Segundo Bairros, no fim do primeiro semestre do ano, a Coca-Cola teria baixado o preço da garrafa de 1 litro do refrigerante Charrua de R$ 1,80 para R$ 1,55. Há um mês, as bebidas da marca Simba também tiveram o preço diminuído, de R$ 1,70 para R$ 1,29. O problema, segundo Bairros, é que esses preços são inviáveis. "Esses valores só são sustentados porque, na outra ponta, a Coca-Cola sobe o preço das outras marcas de refrigerantes para compensar. O objetivo é fazer as marcas regionais baixarem também suas margens e inviabilizar o negócio delas", afirma Bairros.
Os fabricantes regionais associados à entidade aprovaram ontem o envio de um pedido de investigação à Secretaria de Direito Econômico (SDE), do Ministério da Justiça - o que deve ser feito nos próximos 30 dias. Se a SDE acatar as argumentações, pode recomendar a abertura de um processo no Cade. A Afrebras tem 147 empresas associadas, que estiveram reunidas esta semana no Congresso Brasileiro de Bebidas - Confrebras 2009, em São Paulo.
"Nenhuma marca consegue cobrir seus custos e funcionar sadiamente vendendo o litro de refrigerante por menos de R$ 1,70", afirma Bairros.
A Coca-Cola informou, por meio de nota, que "só poderá se pronunciar sobre o assunto se for instaurado procedimento perante as autoridades competentes."
A Afrebras ainda estuda levar à SDE outra queixa que envolve Coca-Cola e também a AmBev. "Essas duas empresas compram espaço nas grandes redes de supermercado, que acabam nos retirando dessas lojas", afirma. A AmBev não quis comentar o assunto.
Hoje, existem no país 835 fabricantes de refrigerantes, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir). A líder é a Coca Cola, com 56%, seguida por AmBev (11,1%), Pepsi (6,8%) e Schincariol (4%). As outras fabricantes detém, juntas, 22,1% do mercado, de acordo com dados de janeiro a julho.
Os refrigerantes regionais devem fechar o ano com uma produção de 14 bilhões de litros e faturamento de R$ 2,1 bilhões, o que representa um crescimento de 5% em relação ao ano passado. Com a crise, de acordo com Bairros, muitos consumidores da classe B passaram a consumir os regionais, que segundo ele, têm foco nas classes C e D.
Veículo: Valor Econômico