Bebidas: Verão quente e comsumidor com mais dinheiro no bolso permitem antecipar aumentos
Um verão de derreter é o que prevê o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para a maioria das regiões do país, com poucas exceções. Nada mal para a indústria de cervejas, que concentra entre novembro e abril - o "verão expandido" - 60% das vendas anuais. No embalo dessas previsões e também otimista com a Copa do Mundo de Futebol de 2010 e, principalmente, com o comportamento do consumidor de cerveja até agora, as fabricantes nacionais do setor querem tirar o atraso na estação mais quente do ano, inclusive no que diz respeito a preços. Por isso, a Ambev, líder do mercado com 70% das vendas, já prepara seus reajustes.
"A AmBev passou o reajuste mais cedo este ano, que deve ficar entre 6% e 8%, dependendo da marca", diz Emílio Bueno, diretor da rede Econ, com cerca de 30 lojas em São Paulo. "Para minimizar o impacto dessa alta, a indústria está até propondo um aumento escalonado, de 3% a 4% agora e mais 4% em janeiro ", diz o vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados, (Apas), Martinho Paiva Moreira, referindo-se à AmBev.
Um diretor de uma grande rede varejista também confirmou os mesmos percentuais de reajuste. "A alta vai de 6% a 8% e já deve se refletir sobre o preço da cerveja no fim de semana do dia 20 de novembro", disse o executivo. Para bares, restaurantes e distribuidoras consultados pelo Valor, o aumento médio proposta pela cervejaria líder do mercado nacional é de 6%.
A AmBev, entretanto, informou em nota ao Valor, que "até o momento, em 2009, seus preços têm sido ajustados em linha com a inflação e que entende inapropriado emitir comentários adicionais a respeito tendo em vista a proximidade da divulgação de seu resultado trimestral". A companhia divulga amanhã o balanço financeiro do terceiro trimestre do ano. O Valor apurou junto a fontes da empresa que a AmBev pretende fazer um aumento médio entre 4,5% e 5%.
As demais cervejarias, segundo varejistas, devem fazer reajustes em linha com o percentual adotado pela AmBev. A Schincariol disse que "não comenta sua estratégia de preços". Petrópolis e Femsa não se pronunciaram.
"Um reajuste de 6% a 8% é muito alto, mas vem para compensar os aumentos contidos que as indústrias aplicaram nos anos anteriores", diz Adalberto Viviani, consultor especializado no mercado de bebidas. Tradicionalmente, a indústria de cervejas brasileira faz um realinhamento de preços todo final de ano, no início do verão.
No ano passado, em meados de dezembro, a AmBev fez uma correção em seus preços de 5,4%, que foi seguida pela maior parte dos concorrentes.
Nos últimos 12 meses, a inflação medida na Região Metropolitana de São Paulo, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), foi de 8,4%. "O consumidor está com dinheiro no bolso e as cervejarias estão contando com isso para aumentar sua rentabilidade. O calor e a Copa do Mundo só devem reforçar ainda mais esse posicionamento de preços", explica Viviani.
O varejo, também acreditando que o consumidor deverá absorver esse reajuste sem problemas, planeja repassar o reajuste para o preço final da cerveja.
Até o final de setembro, o mercado cervejeiro vinha se mostrando promissor, segundo dados da Nielsen. Nos nove primeiros meses do ano, o mercado movimentou 6,313 bilhões de litros da bebida, o que gerou um faturamento de R$ 25,535 bilhões. Os números estão 3,6% acima do volume registrado em 2008 nesse mesmo período e 8,7% acima da receita.
Veículo: Valor Econômico