Brasil perde "janela" de alta do frango no mercado externo

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Levantamento divulgado pela Agência para Alimentação das Nações Unidas (FAO, na sigla em inglês) mostra que o frango teve a maior recuperação entre as três carnes desde o início da crise econômica mundial. No entanto, os preços internos das aves continuam em queda. Na contramão do cenário mundial, que retoma o consumo a eleva os preços, o Brasil perde mercados - o volume de carne de frango embarcado em novembro, de 237 mil toneladas, foi 21% inferior ao de outubro e a segunda menor quantidade deste ano - e o aumento da oferta pressiona os preços.

 

A valorização do real está inibindo o acesso da carne brasileira em outros mercados. Entre as oportunidades perdidas destaca-se a Rússia. O país está passando por um processo de migração na demanda de carne. Este ano o consumo per capita de bovinos já caiu 7 quilos, mas a procura por aves cresceu. "Com o início da crise, o costume alimentar dos consumidores russos mudou. Ao invés de optarem por carne bovina ou suína, mais caras, os russos estão comprando carne de frango, a mais barata", disse Sergey Yushin, chefe do comitê executivo da Associação Nacional de Carnes russa, ao site World Poultry.

 

A Rússia não foi o único país a elevar o consumo de frango em detrimento de outras carnes. De acordo com o estudo publicado ontem pela FAO, na valorização das três carnes a partir do triênio 2002-2004, a da carne suína foi de 11%, a da bovina de 17% e a da carne de frango de 53%. Vale destacar que em relação aos preços-pico históricos, a carne de frango enfrentou perda de 26,5% durante a crise. Até setembro último, porém, apresentava um bom ritmo de recuperação.

 

Segundo o órgão das Nações Unidas, o frango teve seu pior preço em 2009 durante o mês de março. Contudo a perda observada foi bem menos significativa que a das carnes suína e bovina, já que, mesmo com o recuo abrupto a partir de setembro, o valor médio do produto ainda ficou, no pior momento, 46% acima da média registrada em 2002-2004.

 

No mercado interno o cenário é oposto. Desde o mês de julho, o quilo do frango resfriado despencou de R$ 2,80 para uma média mensal de cerca de R$ 2,50 em novembro no atacado de São Paulo, principal mercado consumidor do produto. No início de dezembro, a desvalorização continuou na maioria das regiões pesquisadas pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Na última quinta-feira, o preço do frango encerrou o dia cotado a R$ 2,48 o quilo em São Paulo, foi o pior preço desde janeiro deste ano. A pressão está atrelada ao baixo desempenho das exportações.

 

Segundo Matheus Almeida, pesquisador do mercado de aves e suínos do Cepea, o cenário no Brasil para aves é o oposto do observado no mercado mundial de frango. "Aqui não teve valorização ou recuperação, pelo contrário, houve queda nos preços", disse. De acordo com Almeida, no início da crise o mercado de frango demorou a cair e a desvalorização mais intensa ocorreu apenas de julho para agosto. O pesquisador explica que no primeiro semestre a indústria tentou controlar a produção, o que apresentou bons resultados, mas foi ameaçada de ser processada por concorrência desleal e a produção voltou a ficar acima do que o mercado interno estava suportando.

 

Novos negócios

 

Na próxima sexta-feira mais um frigorífico irá se instalar no Estado do Mato Grosso. O grupo União Avícola em uma parceria com a Brasil Foods iniciará suas atividades no Município de Nova Marilândia. O frigorífico terá capacidade para abater 140 mil aves por dia, promovendo a abertura de quase 10 mil postos de trabalho, sendo 1,4 mil diretos e outros 8 mil indiretos.

 

No último domingo o frigorífico Mais Frango foi inaugurado oficialmente na cidade de Miraguaí, no Rio Grande do Sul. As operações do novo empreendimento começaram no mês de outubro com volume inicial de 20 mil frangos por dia, mas a capacidade total da planta é da ordem de 32 mil unidades. O frigorífico é abastecido por matéria-prima de 37 aviários e emprega hoje 120 pessoas com a previsão de aumentar para 250 o número de funcionários ao longo de 2010.

 


Veículo: DCI


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