Vem aí o plant-based em pó

Leia em 7min 50s

Grandes indústrias e foodtechs têm desenvolvido alimentos com a nova tecnologia para os veganos, flexitarianos e aos que querem reduzir o consumo de carne

 

 Os hambúrgueres veganos, que já são sucesso no mercado plant-based (à base de plantas) por meio de marcas como Fazenda Futuro, The New, NotCo, Wessel (Meta Foods), Veg & Tal (Sadia) e Incrível (Seara), ganharam agora novas versões em pó e em grãos. Essa é a proposta de empresas como Custom Culinary, WVegan e My Fast Bland, que lançaram misturas secas para o preparo de carnes à base de proteínas vegetais, como a ervilha.

 

Os produtos foram apresentados ao público na última semana durante a 1ª Feira de Alimentos Plant-Based do Brasil e a Naturaltech, ambos os eventos realizados na capital paulista. A novidade tem como objetivo atender a uma demanda dos flexitarianos, ou seja, aquele consumidor que não é vegetariano nem vegano (que também são público-alvo), mas busca diminuir o consumo de carne no dia a dia por questões como sustentabilidade, direito dos animais e saudabilidade.

 

Carne vegetal foi a maneira que o mercado encontrou para classificar produtos feitos com proteínas vegetais, mas com aparência, aroma e sabor análogos ao produto de origem animal. Um hambúrguer de frango, por exemplo, parece frango, mas não leva esse ingrediente de verdade.

 

Esse mercado expandiu cerca de 70% entre 2015 e 2020, movimentando em torno de US$ 83 milhões no ano passado, segundo a Euromonitor International. As perspectivas continuam sendo de crescimento daqui para a frente, com mais brasileiros buscando alternativas vegetais. Segundo pesquisa de 2020 do The Good Food Institute (GFI), 50% dos brasileiros disseram ter reduzido o consumo de carne animal – em 2018, eram 29%.

 

De acordo com o Alberto Gonçalves, sócio da AGN, consultoria especializada no mercado plant based, a carne em pó ou em grãos tem vantagens em relação aos alimentos já convencionalmente vendidos do setor. “O Brasil tem uma cadeia logística de congelados que ainda é ineficiente e isso faz com que uma das principais demandas do consumidor flexitariano, que é a conveniência, não seja atendida”, explica.

 

Na visão do especialista, o produto em pó é uma solução interessante que pode democratizar o acesso e o consumo. “Por não ser congelado, pode alcançar mais pontos de venda no País. Além disso, seu preparo é fácil.”

 

A receita do hambúrguer da Custom Culinary é simples: basta juntar à mistura que vem dentro da embalagem um pouco de água gelada e óleo para formar uma carne ou frango vegetal à base de ervilha. De acordo com Gerson Botelho, diretor de marketing da GL Foods, proprietária da marca no Brasil, a ideia é disponibilizar aos clientes um produto customizável, prático para fazer e transportar.

 

“Encontramos uma oportunidade nesse mundo de plant based. Desenvolvemos uma base seca, que pode ser moldada em formatos variados, como hambúrguer, almôndega e outros tipos de carne, oferece sabor e textura semelhantes aos produtos de origem animal e ainda conta com uma lista pequena de ingredientes”, afirma o executivo.

 

Custo de produção inferior

 

A empresa tem fábrica em Jundiaí, no interior de São Paulo, onde são produzidas as misturas em pó que, além de veganas, são GMO Free (livre de organismos geneticamente modificados) e não contam com aroma, corante, sal e ingredientes alergênicos nas fórmulas.

 

“Diferentemente da agropecuária, a produção requer menos água e emite quantidade inferior de gases do efeito estufa. Por não ser congelado, o custo de produção e logística também é menor e o alimento consegue ter uma validade estendida”, destaca Botelho.

 

Para a idealização dos produtos, mais do que tecnologia, foi necessária expertise da área de pesquisa e desenvolvimento da empresa para o balanceamento de matérias-primas. “A parte industrial é basicamente uma mistura de ingredientes secos que, na combinação e na quantidade que escolhemos, oferece esse tipo de formato em pó. Buscamos desenvolver um produto que tenha uma mordida que o consumidor brasileiro valoriza.”

 

O hambúrguer e o frango em pó da Custom Culinary atualmente são vendidos via e-commerce para todo o Brasil e em lojas de produtos naturais. Uma embalagem com 58 gramas, que rende duas porções de 100 gramas de proteínas, é vendida a R$ 28. A empresa está em fase de negociações com grandes hipermercados, além de restaurantes e lanchonetes.

 

 

 

Facilidade de armazenamento e transporte

 

Especializada em produtos plant based, a brasileira WVegan também aposta na novidade. A empresa, com sede em Indaiatuba, no interior de São Paulo, lançou na última semana o hambúrguer de carne à base de proteína de ervilha. Em breve, também chegará ao mercado o produto nos sabores frango e peixe.

 

“Eu e minha esposa não comemos carne, gostamos de fazer viagens de aventura e não encontrávamos opções para comer”, lembra Alan Navarro, fundador da companhia ao lado de Fernanda Baffa. “Entendemos que é uma necessidade de mercado, porque é um produto de transporte seco, que facilita muito também para os lojistas.”

 

Os hambúrgueres vêm para incrementar o portfólio do que a empresa chama de smart foods (comidas inteligentes), cujo preparo requer apenas água para se obter um alimento pronto para consumo. Nesse modelo, a WVegan ainda oferece queijo, gelatina, requeijão, manteiga, curau, leite em pó e pão de queijo. Em breve, ainda serão lançadas misturas em pó vegano para bolo, homus e iogurte.

 

Cada embalagem de hambúrguer rende duas porções e o custo varia de R$ 19 a R$ 22. É possível adquiri-la via e-commerce da marca e em mercados do nicho em São Paulo. Além da proteína de ervilha, a mistura em pó leva condimentos, como cebola em flocos, farinha de arroz, alho moído, beterraba e extrato de cacau.

 

“Investimos 11 meses na busca de fornecedores, matéria-prima e tecnologia diferenciada para deixar o produto bem granulado e misturado e facilitar moldar depois de pronto”, explica Navarro, que não revela cifras nem muitos detalhes da produção por questão de concorrência.

 

Praticidade no dia a dia

 

Mais do que mimetizar a carne, o foco da My Fast Blend está na saudabilidade do produto. A foodtech (startup de alimentação) plant based, com sede no Rio Grande do Sul e comandada por Eduardo Lovato, mesmo fundador da Lovato Alimentos SA, desenvolve alimentos saudáveis à base de grãos e sementes integrais, de rápido preparo. “A partir dessa base, desenvolvemos nossos produtos, como o hambúrguer e a almôndega vegetal”, diz.

 

Ambas as formulações contam com aveia, cevada, centeio, triticale, linhaça dourada, linhaça marrom, chia, amaranto e quinoa. Ao mix de cereais, foram acrescidas proteínas de ervilha e de soja, além de outros ingredientes naturais para dar sabor ao alimento. Para o preparo, basta adicionar água.

 

A foodtech investiu cerca de R$ 5 milhões para o desenvolvimento do produto, que utiliza tecnologia própria e não requer químicos ou aditivos. “Desenvolvemos uma máquina, que é basicamente um tratamento térmico mais completo, a vapor, como se fosse um duplo cozimento, que traz diversos benefícios, como agilidade na hora do preparo, extensão da validade e segurança do alimento, uma vez que inativa enzimas”, explica Lovato, que aproveitou a expertise da Lovato Alimentos SA.

 

A My Fast Blend também segue o conceito ‘farm to table’ (da fazenda à mesa) e monitora toda a cadeia de produção e distribuição dos produtos. Tanto o hambúrguer quanto a almôndega serão vendidos por cerca de R$ 21, via e-commerce, a partir de agosto. “Nossa ideia não é imitar 100% o gosto de carne e, sim, um alimento saudável e clean label (rótulo limpo), que possa ser usado de forma prática no dia a dia”, complementa o fundador.

 

Ovo vegano em pó

 

Uma das primeiras foodtechs a lançar um produto vegano em pó foi a N.Ovo. A empresa produziu, em 2019, o ovo à base de ervilha, que fornece as mesmas funções do alimento tradicional: dar liga, crescimento e ação emulsificante.

 

O portfolio também incluo N.Ovo Mexido, alimento também em pó destinado ao preparo de ovos mexidos e omeletes, feito de soja e ervilha. Em entrevista ao Estadão, Amanda Pinto, idealizadora e fundadora da empresa, conta que esse foi o produto mais desafiador. Foram estudados mais de 500 protótipos para chegar ao blend de plantas que entregasse o alimento final.

 

“Precisou de tecnologia muito específica que faz com que o produto, em pó, ao colocar água, vire líquido e, quando entra em contato com a panela quente, se pareça com ovo. Textura foi o maior desafio, depois coloração e cheiro”, explicou. O produto já está disponível para compra em grandes hipermercados.

 

Fonte: Juliana Pio, Estadão


Veja também

Dentro de 2 anos, brasileiro vai ter mais opções de peixe à mesa

Planta de 25 mil m2 vai tornar a proteína mais acessível ao brasileiro, incentivando o consumo em busca da...

Veja mais
JBS investe pesado em carne de laboratório

No Brasil, a base será em Florianópolis com o Centro de pesquisas para área de alimentos   N...

Veja mais
Marfrig diversifica produtos para captar o jovem flexitariano

Mercado plant-based deve girar nas Américas do Norte e Sul U$ 10,7 bilhões   Já faz algum te...

Veja mais
Emissão de ações da BRF torna possível fusão com a Marfrig

Operação pode levantar R$ 8 bi, mas uma das maiores acionistas é contra o negócio   A...

Veja mais
Marfrig investe na produção de carne nobre na Patagônia

Unidade da companhia localizada em ilha remota no extremo sul do Chile abate 180.00 animais por ano   Consid...

Veja mais
Valor da carne vegetal vai ficar mais acessível, diz CEO da Fazenda do Futuro

Startup de plant based aposta que categoria irá crescer também pela alta no preço da carne animal&n...

Veja mais
Consumo de carne despenca e não se recupera na pandemia

Dados da Embrapa apontam que o ciclo da pecuária pode atrasar ainda mais a retomada do mercado   O consumo...

Veja mais
JBS compra empresa espanhola e entra no mercado de carne cultivada em laboratório

Companhia também construirá, no Brasil, um centro de pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia de alimen...

Veja mais
Abate de suínos aumenta, mas de bovinos cai no terceiro trimestre

O abate de suínos subiu 7,6% e o de frangos 1,2% no terceiro trimestre de 2021, conforme mostram os primeiros res...

Veja mais