Pesquisa mostra que famílias com renda menor adotam hábitos de consumo parecidos com as dos mais abastadas
O contrafilé, o lombo, a fralda descartável e o iogurte são os símbolos da ascensão da nova classe média em Belo Horizonte. Nos últimos 30 dias, cidadãos das classe C, que já representam 49% do poder de consumo da capital mineira, foram ao açougue para comprar o corte nobre da carne de boi, tradicional nas mesas das famílias das classes A e B. Por outro lado, produtos como picanha, camarão e capuccino ainda são raros na lista de compra desses consumidores. Dados de uma pesquisa encomendada pela Associação Mineira dos Supermercados (Amis) sobre os hábitos do consumidor, divulgada ontem na abertura da Superminas, feira do setor supermercadista do estado, mostram que no último mês, 42% dos consumidores da classe C compraram contrafilé. Na classe A, foram 49% e na B, 51%. No mesmo intervalo de tempo, enquanto 17% da população mais abastada adquiriu camarão, apenas 3% da classe C fizeram o mesmo.
A renda mensal familiar da empregada doméstica Dina da Silva Rocha é de três salários mínimos. Ela vive com o marido e o filho de três anos e não abre mão de comprar dois quilos de contrafilé por mês. “Para fazer bife, é a melhor carne. Às vezes, também usamos alcatra”, conta. Com a intenção de contrabalançar o peso da carne nobre no orçamento, quando o contrafilé acaba, a família varia o cardápio com opções mais baratas. Iogurte é outro item que não falta em casa. Segundo o levantamento da Amis, a participação da baixa renda no consumo do produto também é grande. Entre os entrevistados, 60% dos consumidores da classe C compraram a bebida láctea no último mês contra 65% na classe A e 68%, na B. Na classe D, 48% incluíram esse item em suas compras.
O consumo de picanha, capuccino e camarão, porém, ainda estão na esfera do desejo da nova classe média. O levantamento aponta que enquanto 28% dos entrevistados da classe A e 19% da B compraram esse corte de carne mais nobre nos últimos 30 dias, apenas 6% da classe C e 3% da D fizeram o mesmo. “A classe C está tendo o mesmo acesso aos produtos de supermercado que as classes A e B, com exceção desses três itens”, observa Malco Camargos, do Instituto Ver, responsável pela pesquisa. O levantamento aponta também que os consumidores da Classe C se aproximaram mais da população mais rica do que os da classe D para a C.
De acordo com o levantamento, na hora de escolher onde fazer as compras, os consumidores se preocupam com o preço, mas a proximidade do supermercado da residência fala mais alto. Além disso, o dinheiro ainda é o meio de pagamento preferido pelos mais pobres. Na classe D, 76% das pessoas pagam suas compras em dinheiro, 3% em cheque, 8% no cartão de débito e 10% no de crédito. Em oposição, na classe A 37% das pessoas pagam suas compras em dinheiro, 2% em cheque, 30% no cartão de crédito e 30% no débito, o que ilustra a distância que separa as duas realidades na capital mineira.
Segundo Adilson Rodrigues, superintendente da Amis, a pesquisa mostrou, ainda, que para o consumidor popular de Belo Horizonte, as preocupações ambientais só fazem sentido depois de satisfeitas as suas necessidades básicas. Nas camadas de mais baixa renda – classes D e E –, 69% dos entrevistados não se preocupam em fazer reciclagem do lixo. A preocupação com o meio ambiente aumenta à medida que cresce o poder aquisitivo da população. Na classe C, 62% não separam o lixo, na B, 61% e na A, 36%.
Menos endividadas, as famílias brasileiras planejam ampliar seus gastos com consumo e a intenção de compras atingiu, neste mês, o maior patamar do ano (137,5 pontos, numa escala de 0 a 200), segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC). No último mês, o percentual de famílias dispostas a comprar mais subiu 1,7%. A expectativa é de aquecimento nas aquisições com pagamento a prazo e também à vista.
Veículo: O Estado de Minas