Entre os produtores de carnes brasileiros, os do segmento avícola tendem a ser os mais prejudicados pelos desdobramentos da crise financeira global. Isso porque, em comparação aos setores de carne bovina e suína, o segmento é o que soma o maior excedente de produção - que chegou em níveis históricos - e a projeção para 2009 é elevada.
Com o esperado desaquecimento da demanda, tanto no mercado externo quanto no interno, a situação é preocupante, admitem representantes do setor. "A hora agora é de cautela. A tendência é de redução do alojamento de matrizes, já que dificilmente vamos repetir no próximo ano um resultado tão bom com as exportações", avalia Ariel Antônio Mendes, que toma posse hoje do cargo de presidente da União Brasileira de Avicultura (UBA), em Brasília, na sede da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). "Para este ano, a estimativa é de exportarmos 3,8 milhões de toneladas, o que em receita equivaleria a US$ 7 bilhões".
Apesar da postura de cautela, os produtores ainda esperam terminar 2008 com alojamento de matrizes de corte significativamente superior ao do ano passado. A estimativa da UBA é alcançar 48,5 milhões de cabeças, ante o total de 42,4 milhões de cabeças em 2007.
O desempenho das exportações é importante para o setor e vem crescendo significativamente. A produção de carne de frango no País até agosto totalizou 7,167 milhões de toneladas, 7,57% a mais do que em igual período do ano passado. Desse total, 2,504 milhões de toneladas foram direcionadas ao mercado externo - crescimento de 17,43% em comparação aos oito primeiros meses do ano anterior. O mercado interno absorveu 4,663 milhões de toneladas, 2,93% mais que no mesmo período de 2007, de acordo com dados da UBA. Segundo Mendes, ainda é cedo para fazer qualquer projeção sobre o desempenho futuro de vendas.
Em meio ao cenário da crise, em Chapecó (SC), pólo importante de produção do setor no País, ainda há mescla de incertezas entre produtores, que por enquanto não sabem ao certo o que pode realmente vir pela frente. "Entreguei o último lote há cerca de 40 dias. Por enquanto, tudo está normal", disse Márcio Cella, produtor integrado da Sadia. O produtor fornece aproximadamente 200 toneladas de carne de peru para a companhia a cada quatro ou cinco meses. "Os volumes de rações e insumos fornecidos por enquanto estão nos mesmos níveis", completou. "Vamos ver na próxima entrega de aves se haverá redução no preço pago ao produtor. Meu receio é que reflita na margem", afirmou Cella.
Outra produtora da região, Idene Zardo, disse não estar preocupada. "Somos fornecedores da Aurora (Cooperativa Aurora) e não acredito que deva afetar muito. Acho que pode haver maiores reflexos para os fornecedores de empresas que exportam maior volume", opinou.
Mercados externos
Se já nos próximos três meses as exportações não mantiverem o ritmo, será preciso reduzir o nível de produção, comenta Paulo Molinari, da Safras&Mercados. "O único ponto positivo dessa crise é a desvalorização cambial, pois o produto brasileiro fica mais competitivo", comenta.
Embora o quadro seja de excesso de produção e desaquecimento de demanda, o diretor do Instituto AgraFNP, José Vicente Ferraz, não acredita em queda substancial de preços no mercado interno. Ele lembra que o ciclo de produção de aves é curto e se ajusta rapidamente. Outro fator que pode ajudar a sustentar as cotações, segundo a UBA, é a alta da carne bovina. "Pode ser que os produtores de frangos ganhem fatia do mercado de carne bovina, no entanto, o problema é saber se esse ganho de mercado compensará a desaceleração das exportações", avalia Ferraz.
UE
Para a União Européia, independentemente da crise, os exportadores já esperavam desaceleração de vendas. "Os europeus têm estoques altos e os preços estão em baixa", disse em entrevista recente ao DCI o diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos (Abef), Christian Lohbauer. Os países do bloco europeu são os maiores produtores mundiais de aves.
Veículo: DCI