Brasil e Rússia mais perto de um acordo para carnes

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Brasil e Rússia definiram, durante encontro do vice-presidente brasileiro Michel Temer e o premiê da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou, que qualquer decisão envolvendo o comércio de carnes ou outros produtos agrícolas entre os dois países só poderá ser tomada de forma conjunta e não mais por iniciativa isolada de um dos parceiros. A Rússia é o principal mercado para as carnes brasileiras, e desde abril, autoridades do Brasil tentam reduzir as restrições impostas a 29 estabelecimentos exportadores desses produtos.

 

Apesar da preferência dos produtores brasileiros pelo mercado russo, o país não tem o Brasil entre seus principais fornecedores. "A carne comprada pela Rússia tem origem, basicamente, nos EUA e na União Europeia. O Brasil está incluído na categoria outros países", afirmou ao Valor o vice-presidente, Michel Temer, referindo-se ao sistema de cotas para carnes russo.

 

Apesar do avanço nas conversas, por muito pouco a questão do comércio agrícola ficaria de fora da declaração conjunta assinada por Temer e Putin. Após a reunião entre os representantes do governo dos dois países, não havia qualquer menção à cooperação no campo agrícola. "A questão das carnes foi incluída uma horas antes do meu encontro com Putin. Mas ele demonstrou simpatia com a nossa proposta", disse.

 

Para demonstrar boa vontade com o parceiro, o Brasil prontificou-se a apoiar a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio (OMC). Foi um gesto político importante, já que isso significa o reconhecimento do governo brasileiro de que a Rússia é uma economia de mercado.

 

Segundo apurou o Valor, a possível entrada da Rússia na OMC também é boa para o Brasil. Como o país espera aumentar dos atuais US$ 6 bilhões para US$ 10 bilhões o comércio bilateral, é mais seguro que qualquer contencioso seja decidido em um foro regulamentado de discussão. "Vamos acelerar as negociações e superar as pendências para que a entrada da Rússia na OMC aconteça ainda em 2011", completou Temer.

 

Por outro lado, a Rússia concordou em apoiar, pela primeira vez de forma explícita, a entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU. "A parte russa considera o Brasil como um participante relevante e influente das relações internacionais e reafirma seu apoio à candidatura do Brasil como um merecedor e forte candidato a um assento permanente em um Conselho de Segurança das Nações Unidas ampliado", explicita a declaração conjunta assinada entre os dois países.

 

Aproveitando o clima de boa vontade entre os dois países, Putin ainda tentou um novo avanço na relação comercial Brasil-Rússia. "O governo brasileiro poderia aumentar a importação do trigo da Rússia", sugeriu o primeiro-ministro russo a Temer. Para esse ponto específico, no entanto, Temer apenas ouviu sem emitir opinião.

 

Mas, como antecipou ontem o Valor, o governo brasileiro autorizou que o trigo russo comece a ser desembarcado nos portos do Sudeste - atualmente, chega apenas pelos portos nordestinos. O Sul continuará importando trigo da Argentina. O silêncio de Temer é diplomático, já que Brasil e Argentina estão novamente em litígio comercial, desta vez envolvendo a retenção de carros argentinos na fronteira com o Brasil.

 

Além do encontro entre Temer e Putin, o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Francisco Jardim, também se reuniu com o chefe do Serviço Veterinário da Rússia, Sergei Dankvert. Na reunião, os russos pediram mais informações sobre as unidades exportadoras de carnes afetadas pelas restrições em abril.

 

Ficou definido que o ministério brasileiro fará novas auditorias em todas as indústrias de carnes bovina, suína e de aves habilitadas a exportar à Rússia, conforme comunicado da pasta. Após as inspeções, o governo brasileiro deverá encaminhará uma avaliação global sobre os frigoríficos, que será discutida em nova reunião com os russos.

 

Além disso, Dankvert também se comprometeu a vir ao Brasil na segunda quinzena de outubro, para se reunir com autoridades sanitárias dos países do Mercosul, para discutir as novas regras de comércio da União Aduaneira formada por Rússia, Cazaquistão e Belarus. A partir do ano que vem entram em vigor os novos certificados sanitários para comércio com esses países.

 

Veículo: Valor Econômico


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