O ciclo das vacas gordas da pecuária de corte brasileira, iniciado há apenas dois anos, corre o risco de terminar em 2009. O preço do boi gordo, que em outubro chegou a R$ 90 a arroba, ontem estava em torno de R$ 78,83 em São Paulo, segundo levantamento do Cepea/Esalq/USP. Para alguns analistas de mercado, a queda repentina dos preços pode desestimular a retenção de fêmeas, uma vez que os criadores devem perder o interesse em produzir bezerros.
Essa queda brusca nos preços da carne bovina foi fruto da freada nas exportações, resultado da crise mundial de crédito e a suspensão de inúmeros contratos por parte de importadores do produto brasileiro, especialmente a Rússia. Números preliminares divulgados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) até dia 15 indicam redução de 26% nos embarques em relação ao mesmo período de 2008. Em receita, a queda foi de 18%, o que fez os técnicos da entidade reverem a previsão de exportações para 2009 no valor de US$ 6,5 bilhões. Agora a estimativa é de as vendas externas repetirem os números de 2008, entre US$ 5,3 e US$ 5,4 bilhões.
Precipitação
Para o pesquisador Sergio Zen, professor da Escola Superior de Agricultura Queiroz (Esalq), qualquer previsão seria precipitada. A queda nos preços do boi gordo é recente e o comportamento do mercado é inusitado, sem precedente. "Não é possível antecipar qualquer movimento nos próximos meses".
Investimentos e desinvestimentos neste setor só ocorrem após a definição do mercado. Zen lembra que o pecuarista é conservador. Outra razão para acreditar que nada muda no médio prazo na pecuária nacional é o fato de que não há outras atividades agrícolas mais rentável para ocupar a área dos pastos. "As demais culturas enfrentam as mesmas dificuldades e as mesmas incertezas que a pecuária de corte.
Apesar das adversidades, os preços do boi fecham o ano em valor 2% acima de 2007, que, por sua vez encerrou com preço 28% acima de 2006, sendo que naquele ano o preço da carne era cotado por valor 2,93% acima do ano anterior.
Esse valores, segundo Zen, foram suficientes para que os pecuaristas tivessem uma receita aceitável. Boa renda tiveram aqueles que fecharam seus preços no mercado futuro em maio deste ano a R$ 103 arroba, em operações com liquidação em outubro. Esses produtores teriam entregue seu rebanho aos frigoríficos em vez de liquidar sua posições, uma vez que os preços no mercado físico estavam em R$ 89,00 no Estado de São Paulo, segundo levantamento do Cepea/Esalq/USP.
Veículo: Gazeta Mercantil