Marfrig confirma plano de venda de ativos

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Castigada pelos investidores nos últimos anos por sua dificuldades de gerar caixa e reduzir o elevado endividamento, a Marfrig animou o mercado ontem com o anúncio de um amplo corte de despesas em que prevê uma economia de R$ 250 milhões em capital de giro já neste ano. Como parte da restruturação, a empresa deve vender três unidades da Seara Brasil ainda no segundo trimestre e fechar quatro centros de distribuição no país e duas unidades de bovinos na Argentina.

A estratégia, agora detalhada, foi antecipada ao Valor em abril pelo futuro CEO da Marfrig, Sergio Rial. Em fase de transição, ele é o principal executivo da Seara e ainda não assumiu oficialmente as rédeas da Marfrig no lugar do fundador da empresa, Marcos Molina. Mas, na prática, Rial já está no comando. A ofensiva da companhia visa reduzir o endividamento bruto em R$ 2 bilhões até o fim de 2013, de acordo com informações do executivo.

A reestruturação anunciada ontem pela empresa é um reconhecimento de que reduzir o atual nível de alavancagem não depende apenas de uma melhora operacional. A venda de ativos é essencial. "Claramente, o 'follow-on' não foi suficiente para desalavancar a empresa", afirmou Rial, referindo-se à oferta de ações que a Marfrig realizou no ano passado, na qual levantou cerca de R$ 1 bilhão.

De fato, a emissão de ações feita pela empresa só aliviou a situação. Tanto assim que o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) da Marfrig sofreu uma leve alta desde o fim de 2012, passando de 4,31 vezes para 4,4 vezes em 31 de março. No fim do terceiro trimestre, a dívida líquida da empresa totalizava R$ 9,8 bilhões, enquanto seu endividamento bruto chegava a R$ 12,9 bilhões.

Com a reestruturação, Rial garantiu que agora alavancagem e endividamento seguirão trajetória descendente. Ao que parece, o mercado "comprou" a ideia. As ações da Marfrig fecharam o pregão de ontem cotadas a R$ 7,45 na BM&FBovespa, alta de 12,87%, a maior do Índice Bovespa.

O processo de restruturação da Marfrig só não contemplou as áreas internacionais da Seara Foods - MoyPark e Keystone Foods. No mais, todos os outros segmentos da empresa sofrerão mudanças. O principal foco, no entanto, é a Seara Brasil - a divisão de aves, suínos e alimentos processados da companhia no país. A Seara Brasil representa um terço da receita líquida total da Marfrig, que chegou a R$ 6,42 bilhões nos primeiros três meses deste ano.

Entre as medidas adotadas para a Seara Brasil está o fechamento de quatro centros de distribuição e quatro unidades, o que gerará uma economia de R$ 43 milhões neste ano. Das unidades fechadas, três serão vendidas. Segundo Rial, as negociações para a venda dessas unidades estão em curso, e a Marfrig quer anunciar os negócios até o fim de junho.

O executivo não detalhou quais as unidades que serão vendidas nem o valor esperado por elas, mas revelou que "são plantas regionais", de menor porte. De todo modo, Rial acrescentou que essas unidades não fazem parte do conjunto de dez fábricas adquiridas da BRF no ano passado.

Apesar de a Seara Brasil diminuir de tamanho, o futuro CEO da Marfrig disse que a unidade não verá seu lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) declinar. "Não perderemos receita e Ebitda. Na verdade, deixamos de colocar caixa em unidades estruturalmente mal posicionadas, que queimam caixa", afirmou. Segundo ele, a produção das unidades fechadas será redirecionada.

Para não perder receita, no entanto, a Seara Brasil terá de ganhar eficiência nas dez fábricas de alimentos processados compradas na BRF no ano passado. Esses ganhos de eficiência, de acordo com os analistas do Bank of America Merrill Lynch (BofA), já apareceram de forma "evidente" no primeiro trimestre.

Desde o fim do ano passado, a Seara elevou de 45% para 60% a utilização da capacidade instalada dos ativos adquiridos da BRF. Apontado como um dos culpados pelo mau resultado do quarto trimestre de 2012, o índice de atendimento de pedido - o chamado "fill rate", que mede a eficiência logística - da Seara saltou de 67% para 71% na média dos três primeiros meses do ano. Na prática, isso significa que, de cada 100 produtos vendidos, apenas 71 foram entregues. Contudo, em março, a empresa atingiu sua meta, de 75%.

Responsável por cerca de 30% do faturamento da Marfrig, a divisão de bovinos da empresa também terá sua estrutura reduzida. A companhia fechará dois dos cinco abatedouros que tem na Argentina neste ano. Com isso, a empresa calcula economizar mais R$ 30 milhões. Ao contrário da Seara Brasil, as unidades de bovinos na Argentina dificilmente serão vendidas devido às dificuldades políticas e econômicas do país, admitiu Rial.

Ainda na área de bovinos, a Marfrig reduzirá a estrutura de confinamentos no Brasil, Argentina e Uruguai, com o que prevê economizar cerca de R$ 70 milhões neste ano. Essa medida, no entanto, traz alguns riscos para a empresa, reconhece o próprio Rial. "Ficamos mais expostos à compra de gado, mas acredito que existe espaço para reduzir nossa posição de confinamento", afirmou. A questão é que, com a estrutura de criação do gado no coxo intacta, a Marfrig poderia comprar menos gado de pecuaristas no período de entressafra.

Outra medida a ser adotada pela Marfrig será a reestruturação da Zenda, operação de couros da empresa no Uruguai. Conforme Rial, a empresa uruguaia abandonará o atual foco na indústria automobilística europeia, que "não faz mais sentido comercial". A partir de agora, o principal mercado da empresa de couros será a indústria automobilística do Mercosul. A Marfrig projeta uma economia de R$ 50 milhões com as mudanças na Zenda.

Na reestruturação, sobrou até para o escritório central da Marfrig, onde despacham os principais executivos. Localizada no bairro nobre da Vila Olímpia, na cidade de São Paulo, a sede da empresa será transferida para uma estrutura anexa ao centro de distribuição da empresa na rodovia Anhanguera (SP). A mudança poupará gastos de R$ 7 milhões entre 2013 e 2014.



Veículo: Valor Econômico


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