As empresas de carnes que já divulgaram seus resultados do terceiro trimestre deste ano têm mostrado desempenho operacional favorável por conta de fatores como o avanço da demanda externa e custos menores de produção. E a expectativa é de que esse quadro favorável persista ainda no próximo ano para as que atuam nos segmentos de aves e suínos, de acordo com analistas.
Dentre as quatro que têm ações na BM&FBovespa, a BRF e a Minerva já divulgaram seus balanços. No primeiro caso, os números ficaram bem acima do esperado por analistas de mercado e ajudaram a alimentar a perspectiva de que outros players também apresentem dados favoráveis. Isso porque boa parte do resultado positivo decorreu de fundamentos que influenciam todo o setor, como a alta dos preços internacionais de carnes, a maior demanda da Rússia por conta do embargo a produtos de União Europeia, Estados Unidos e outros, e a queda dos custos de produção em decorrência do menor preço de grãos.
No terceiro trimestre deste ano, a BRF teve lucro líquido de R$ 624 milhões, 117,5% acima de igual intervalo de 2013. Também surpreendeu o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) de R$ 1,216 bilhão no período, com avanço de 61,3% sobre o mesmo intervalo de 2013. Com isso, a margem Ebitda ficou em 15,2% - havia sido de 9,9% no mesmo intervalo do ano passado.
Já a Minerva teve prejuízo de R$ 193,8 milhões no terceiro trimestre, reflexo do impacto da desvalorização do real sobre as dívidas em dólar. Mas como já era esperado, a receita líquida cresceu de forma expressiva (20,8%) para R$ 1,805 bilhão, impulsionada pelo aumento de capacidade de abate de bovinos depois de a empresa assumir a operação de duas unidades em Mato Grosso que pertenciam à BRF. O Ebitda também avançou, 8,9%, para R$ 177,8 milhões.
Para as empresas que ainda não divulgaram seus números, as perspectivas também são favoráveis do ponto de vista operacional. No caso da JBS, as expectativas positivas ganharam força após a divulgação do balanço da americana Pilgrim's Pride, controlada da brasileira. O Ebitda da empresa quase dobrou (alta de 95,5%), somando US$ 435 milhões. Com esse resultado, a margem Ebitda da Pilgrim's alcançou 19,2% no terceiro trimestre deste ano - no mesmo intervalo de 2013 havia sido de 10,4%.
Dados divulgados pela JBS indicando um bom desempenho da JBS Foods, sua divisão de aves, suínos e industrializados, também contribuem para as expectativas positivas. Os números foram revelados pela companhia no prospecto que apresentou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), quando refez o pedido de registro de companhia de capital aberto. Segundo o que foi divulgado, o Ebitda da divisão foi de R$ 576 milhões no período, com margem Ebitda de 17,1%.
Em relação à Marfrig, o otimismo é menor, com analistas de mercado prevendo novo resultado líquido negativo no trimestre. A avaliação é que os custos elevados do gado bovino impactaram os resultados das operações no Brasil, enquanto as operações de Moy Park (aves) e Keystone - que respondem por 53% das vendas da Marfrig - tiveram desempenho mais favorável.
Se o preço elevado do gado gera preocupação para o setor de carne bovina, o cenário deve continuar positivo para as indústrias de aves e suínos. Gabriel Vaz de Lima, analista do Bradesco BBI, acredita que o setor terá 10 a 12 meses ainda "muito favoráveis".
E vários são os fatores que sustentam essa expectativa no caso das aves, de acordo com o analista: menor capacidade de produção de frango devido a problemas sanitários com matrizes, aumento das exportações de ovos férteis para o México (alta de 64% sobre o ano anterior) - o que limita a expansão no Brasil -, forte demanda pela carne de frango na exportação, e custos de produção em queda. "Os spreads (diferença entre o preço e o custo de produção) hoje estão muito favoráveis. Vários participantes da cadeia estão com nível de lucratividade recorde", observa Lima.
O quadro também é positivo para o setor de suínos no país, acrescenta o analista. Nesse caso, as margens estão elevadas em decorrência do declínio na oferta global de carne suína por causa da diarreia epidêmica suína (PED, na sigla em inglês) nos EUA, México e Canadá, quantidade limitada de matrizes produzindo e forte demanda da Rússia. Também nesse caso, a expectativa é de que as margens recordes possam persistir por mais de um ano.
Veículo: Valor Econômico