Quase um ano após anunciar a aquisição da National Beef, a maior processadora de carne bovina do mundo, a JBS-Friboi, anunciou que desistiu da compra da empresa americana. A companhia brasileira alegou não ter encontrado "condições satisfatórias" para concluir a compra, diante de um processo judicial movido pelo governo dos Estados Unidos em outubro do ano passado e que tentava bloquear o negócio por motivos concorrenciais. Junto com a notícia, a companhia também anunciou que sentiu os efeitos da crise no quatro trimestre de 2008, período em que a empresa amargou prejuízo líquido de R$ 53,5 milhões, sobretudo por queda nas exportações de suas unidades no exterior, principalmente na Argentina, onde houve rompimento de contratos de venda devido a falta de crédito nas operações de exportações.
Em bom momento
Em mensagem publicada junto com o balanço, o presidente da companhia, Joesley Mendonça Batista, destacou a redução do crédito no último trimestre de 2008 e as incertezas sobre os efeitos da crise global. "Acreditamos que o ano de 2009 recomenda cautela. Continuaremos a fazer uma gestão financeira conservadora com o objetivo de preservar os resultados e proteger nosso caixa com maiores exigências sobre os investimentos", afirmou.
Se o JBS conseguisse completar a compra da National Beef, acabaria dominando o mercado norte-americano. No ano passado, a companhia comprou uma fatia de 50% na italiana Inalca, o Tasman Group da Austrália, além da Smithfield Beef e da Five Rivers nos EUA. O grupo brasileiro tem operações na Austrália, Itália, Argentina, EUA e Brasil. O JBS tem oito unidades de bovinos nos EUA, com capacidade diária de 28,1 mil cabeças e três para abate de suínos.
A empresa já anunciou que pretende direcionar para o caixa da empresa os recursos que iria utilizar para a aquisição da National Beef. "Vou comprar mais dois colchões (para guardar o dinheiro), porque é muito dinheiro", declarou Batista.
Além de manter o dinheiro em caixa em um momento de aperto de crédito, o JBS deixará de realizar novos empréstimos, que certamente a consolidação do negócio do National Beef exigiria. "Dinheiro não é carimbado. Caso a gente viesse a comprar o National, a gente iria levantar novos financiamentos. Como não adquiri, vou continuar com o caixa que temos", afirmou. Batista disse que a empresa fechou o quarto trimestre de 2008 com um caixa de 1 bilhão de dólares.
Rompimento
Ele enfatizou que não foi o JBS que desistiu do negócio, mas sim o Departamento de Justiça dos EUA que impediu a empresa de concluir o negócio. "Lutamos muito, mas infelizmente o Departamento de Justiça quis nos manter do mesmo tamanho da Tyson e da Cargill (outras grandes empresas do setor nos EUA). O Departamento de Justiça vai tornar a vida da Tyson e da Cargill mais fácil", declarou.
Mendonça contou que o governo dos EUA exigia que o JBS vendesse duas das oito unidades que tem em território norte-americano, para dar sinal verde para o negócio com a National. "Não acho que seria razoável comprar por US$ 900 milhões três plantas (da National) e ser obrigado a vender outras duas", afirmou.
Por sua vez, o National Beef afirmou na última sexta-feira que continuará operando como uma empresa independente, agora que o negócio com o JBS se frustrou. O National Beef é a quarta maior produtora de carne bovina dos EUA. "Agora que a transação foi encerrada, vamos seguir em frente em uma base independente", afirmou o presidente da companhia Steve Hunt. Se o negócio tivesse sido efetivado, a brasileira JBS seria a maior empresa de carne bovina dos EUA.
Resultados
Apesar do prejuízo no quatro trimestre, no acumulado do ano o resultado líquido foi positivo em R$ 25,9 milhões. A geração de caixa (Ebtida - lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização) foi de R$ 265,9 milhões, superior aos R$ 94,8 milhões de igual trimestre de 2007. A margem dobrou no período de 1,4% para 2,8%. Em relatório divulgado na sexta-feira, a Corretora Brascan considerou negativo o fato de o Ebtida ter ficado 5,7% abaixo das projeções da corretora. Parte do desempenho abaixo do esperado pelo mercado se deveu a queda nas vendas na unidade da Argentina, resultado de rupturas de contratos e perdas de vendas nas exportações. A receita com vendas externas dessa unidade foi no quatro trimestre 14% menor que no trimestre anterior.
No consolidado do JBS, as exportações caíram 7,7% no período em comparação com o terceiro trimestre. O abate de bovinos recuou 4,3%. O mercado doméstico, que cresceu 17% no período, é que ajudou a sustentar a retração das exportações.
Veículo: Gazeta Mercantil