Especialistas projetam cenário de avanço para a pecuária em detrimento da agricultura no ano que vem; movimento tende a favorecer todos os elos da cadeia
Guarulhos - Pressionada pela redução no poder de compra das famílias, a demanda doméstica por proteína animal arrefeceu neste ano, prejudicando as margens do fornecedor de insumos ao frigorífico.
A desaceleração na inflação, prevista para 2017, e a possível retomada do crescimento econômico devem puxar a recuperação do setor.
É justamente o processo inverso ao que se espera para as commodities agrícolas, que, no Brasil, tiveram os preços elevados pela combinação entre exportações, prejuízo climático e demanda interna. "Provavelmente, vamos ver uma reversão muito forte no preço do milho", aposta o sócio da consultoria MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, durante evento da Merial Saúde Animal, em Guarulhos (SP).
Desde que o clima colabore, Goiás, Minas Gerais e outros estados prometem avanços consideráveis na primeira safra de grãos. Só no mercado de adubos, o especialista destaca a alta de 10% para sustentar a hipótese de oferta vasta também na safrinha, isso sem falar em números no ganho das vendas de sementes. Em consequência, as cotações entrariam em movimento de queda - fato que, se confirmado, já favorece os pecuaristas que se utilizam do insumo para a ração.
Na terça-feira (27), o Relatório Trimestral da Inflação, do Banco Central, trouxe uma trajetória de queda gradativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir do ano que vem. Em 2016, o indicador deve fechar em 7,3%, 0,4 ponto percentual acima da projeção divulgada em junho. Para 2017, a estimativa do primeiro trimestre é de 6,2%, cai para 5,2% e 4,5% nos períodos subsequentes e encerra o ano aos 4,4%, lembrando que o centro da meta é 4,5%.
"Para o ano que vem não é difícil pensar em juros abaixo de 10%. É um desenho importante para o mercado interno, melhora o poder de compra das famílias e o consumo avança", enfatiza Barros.
Pecuária de corte
Os altos custos do bezerro para reposição impedem que a oferta de bovino cresça no mesmo ritmo que a demanda. Mesmo assim, o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, explica que a tendência para 2017 é de oferta mais confortável, pois os rebanhos estão grandes. "Apesar de um possível abate maior de fêmeas nesse ano, estamos estocados", acrescenta o especialista.
Em um ambiente de oferta e demanda maiores no mercado doméstico, considerando que 80% da produção de carne bovina é consumida aqui, as recentes negociações de abertura para exportações viriam para complementar a demanda e enxugar a oferta.
É possível que algum crescimento nos embarques esperado para este ano deslanche só em 2017.
"Os preços do ano que vem encontrariam um equilíbrio, mas pode ser que a pressão de baixa seja jogada para 2018", comenta Nogueira.
O presidente da Merial Saúde Animal no Brasil, Jorge Espanha, compartilha das expectativas de recuperação da proteína animal no mercado interno e, com isso, virá um aumento no valor agregado dos demais integrantes da cadeia. Até o momento, o negócio de bovinos da empresa cresce 22% no ano e a companhia em geral avança 10%, movimento que deve se manter até o encerramento de 2016.
"Passamos por uma questão de margens. Cerca de 50% da nossa matriz [de insumos] é importada. Nossos custos subiram 40% que não conseguimos repassar e tivemos um impacto negativo entre 20% e 25%", diz o executivo ao DCI.
Fonte: DCI