O Brasil vai tentar repetir com a carne bovina o processo que levou à abertura do Japão para a exportação de carne suína brasileira, em 2014. Naquela época, a liberação da carne de porco para exportação ocorreu depois da aprovação da autoridade sanitária dos EUA para o produto vindo de Santa Catarina (única região do Brasil livre de febre aftosa sem vacinação).
Como recentemente os EUA autorizaram a exportação de carne bovina da região livre de febre aftosa com vacinação (que abrange cerca de 12 estados), "é agora o momento de o Brasil solicitar que o Japão inicie também os estudos e análises visando abrir o mercado para a carne bovina dessa região", segundo o consultor em comércio agrícola Pedro Camargo. Camargo era o presidente da Abipecs (Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína) quando a carne suína foi liberada.
O presidente Michel Temer embarcou ontem para Tóquio, após encontro da cúpula do Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na Índia. Ele deve chegar ao país hoje. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, é um dos quatro chefes de pastas econômicas que acompanham Temer. Além dele, devem estar presentes o titular dos Transportes, Maurício Quintella Lessa; Fernando Coelho Filho, das Minas e Energia; e o secretário Moreira Franco (Programa de Parcerias de Investimentos).
O Brasil verá sua agropecuária pressionada pelo TPP, Tratado Transpacífico que foi assinado pelos EUA e deve ir à ratificação pelo Congresso após a eleição americana. O TPP garante preferências tarifárias para as exportações agrícolas norte-americanas ao Japão. "Ou seja, quando finalmente conseguirmos equacionar a questão sanitária, vamos verificar que teremos que vender mais barato que o nosso principal concorrente, os EUA, em função do menor imposto de importação pago por eles", diz Camargo. Na Coreia do Sul, que assinou acordo de livre-comércio com os EUA, as tarifas de 40% para a carne bovina serão zeradas para o EUA em 15 anos.
A balança comercial entre Brasil e Japão está em queda desde 2011, quando exportações somaram US$ 9,5 bilhões e importações, US$ 7,9 bilhões. Em 2015, os números foram US$ 4,8 bilhões e US$ 4,9 bilhões, respectivamente, em um intercâmbio comercial de US$ 9,7 bilhões, muito inferior ao que o Brasil tem com a China (US$ 66 bilhões). O Japão foi o sexto principal destino das exportações brasileiras no ano passado e o oitavo nas importações do Brasil.
Do ponto de vista global, ainda há muito espaço para crescer. Entre os destinos de exportações japonesas, o Brasil ocupa o 25º lugar, com um volume de negócios de menos de um vigésimo do que o país asiático exporta para os EUA (dados de 2014). Já em relação às importações japonesas totais, o Brasil fica em 19º lugar, com 5% do valor importado da China.
Fonte: Jornal do Comércio de Porto Alegre