Goiânia - A operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal em março, seguida pelo furacão provocado pela delação premiada dos irmãos Wesley e Joesley Batista, donos do maior frigorífico do País, abalaram os alicerces do mercado pecuário ao longo deste ano. Isso tudo pressionou o valor médio da cotação da arroba do boi gordo, que deve encerrar 2017 com uma queda de 10% em relação a 2016, com base nos preços de São Paulo.
"Esses fatos afetaram o cenário, que já era delicado, tanto que a perspectiva de queda chegou a ser de até 15%", afirmou o analista de mercado, Rodrigo Albuquerque, durante a Conferência Internacional de Pecuaristas (Interconf), que começou segunda-feira (18) no Parque de Exposições Pedro Ludovico Teixeira, em Goiânia (GO). Segundo ele, de 1º de janeiro a 15 de setembro de 2017, o valor médio do Indicador Esalq/BM&fBovespa em São Paulo à vista, livre de impostos foi de R$ 137,45. No mesmo período do ano passado, a média foi de R$ 154,81, o que indica queda de 11,2%. No ano passado inteiro, a média foi de R$ 152,90.
Segundo Albuquerque, as projeções foram revisadas e a perspectiva de queda, agora, é maior que a do início do ano, quando, se esperava baixa de 6% a 8% ante à média do ano passado. "Nos últimos dez anos, os três períodos com pior resultado ficaram nesse patamar de queda, 2009, 2011 e 2012. E tínhamos elementos para esperar um ano desafiador em 2017 também", afirma o analista. A expectativa de um ano complicado para pecuária, porém, se devia a fatos conjunturais para o segmento, que vive um ciclo de baixa de preços desde 2015, sendo antecedido por um ano de queda de demanda no mercado interno - que absorve 80% da produção nacional - somada à retração nos embarques ao mercado externo, que recuaram 1% em volume e 8% em receita.
Mas, em 2017, o cenário de crise política e econômica, aliado à operação anticorrupção, piorou tudo. Até o final de julho, o indicador Esalq/ BM&fBovespa do boi gordo acumulou queda de 13,4%, para R$ 125,53.
O que permitiu a projeção para os patamares atuais, de 10%, foi o ajuste da oferta de boi gordo, afirma Albuquerque. "A partir de agosto houve uma queda na oferta, resultado da retenção de animais no pasto diante das incertezas do mercado", diz o analista, acrescentando que, além disso, houve um desestímulo ao confinamento em razão da queda de preços e muitos produtores adiaram a decisão de confinar, o que deixou os frigoríficos com menor quantidade de animais disponível para abate. A exportação em ascensão também contribuiu para melhorar o quadro, dando sustentação à cotação.
Para, o diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin, a estimativa é que os preços médios do boi gordo em São Paulo cairão entre 8% e 10% na média de 2017. "É uma queda significativa, mas não é o pior dos mundos", avalia. "Hoje os preços se recuperaram, por conta da entressafra, uma seca muito forte e uma diminuição do segundo giro de confinamento", explica. Para o ano que vem, ele acredita em uma nova queda de preços médios da arroba em relação a este ano. "Tudo vai depender de uma normalização da oferta com a chegada das chuvas, além disso há um certo represamento de bois no pasto que afetar a oferta ao longo do ano que vem". Um indicador-chave será a quantidade de fêmeas abatidas, que sempre provoca um aumento ou baixa na oferta no curto prazo. /*A repórter viajou a convite da Assocon
Fonte: DCI São Paulo