A decisão da União Europeia de descredenciar 20 unidades de abate de aves brasileiras, anunciada ontem, deve ampliar as dificuldades que o setor tem enfrentado neste ano, especialmente após a investigação de fraudes em exames de laboratório na BRF, maior empresa do setor no País.
A medida passa a valer 15 dias após a publicação da decisão em diário oficial do bloco e foi adotada devido a “deficiências detectadas no sistema de controle brasileiro oficial”, segundo a comissão.
Desta forma, 12 unidades da BRF que detêm as marcas Sadia e Perdigão deixam de exportar para a União Europeia, assim como outras oito plantas que seriam pertencentes a cooperativas paranaenses e outras empresas de menor porte.
Segundo o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, os 20 frigoríficos vetados representam de 30% a 35% das exportações brasileiras de aves para o bloco econômico. No ano passado, a receita com os embarques para a União Europeia renderam US$ 387,1 milhões para a venda de 150,3 mil toneladas.
No primeiro trimestre deste ano, o bloco adquiriu 35,8 mil toneladas de carne de frango do Brasil. No período, o País exportou um milhão de toneladas, 5,6% a menos do que em igual período do ano passado. “Ou seja, trata-se de um impacto muito grande e [esse mercado] terá que ser substituído rapidamente”, disse o ministro.
Segundo Maggi, o Brasil terá direito de pedir uma nova missão aos europeus para avaliação do serviço sanitário brasileiro, que não poderá apresentar novos problemas, sob pena de multa.
Consequências
Na avaliação do vice-presidente técnico da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas, a decisão da UE reforça a intenção da associação e do ministério de questionar o bloco econômico na Organização Mundial do Comércio (OMC). “O mundo todo trata essa questão como corriqueira e as exigências da UE são maiores. A gente já pensava em contestar essa postura e isso deve acelerar esse processo”, afirma.
A decisão da União Europeia tem como pano de fundo a negociação com o Mercosul e um momento delicado para a avicultura nacional, que tem as margens pressionadas pelo aumento dos preços do milho. Outro agravante é a negociação em andamento para que o Brasil volte a exportar para a Arábia Saudita, que não quer mais importar carne de animais que tenham sido insensibilizados antes do abate.
“Isso é preocupante e afeta com mais intensidade regiões como a de Santa Catarina, que destina 15% das suas exportações de aves para o bloco”, avalia o analista de mercado da INTL FCStone, Aedson Pereira.
Ele acredita que mais unidades de abate de aves lancem mão da estratégia de dar férias coletivas para os funcionários, na expectativa por melhores condições para produção, a exemplo do que fez a Cooperativa Aurora no mês passado e também a própria BRF.
Para ele, a preocupação é que uma medida da União Europeia amparada em questões sanitárias possa prejudicar a imagem da carne de frango brasileira perante outros mercados relevantes para o produto brasileiro.
“Embora a cobrança de tarifa para uma flexibilização das regras deixe claro que o problema em si não é sanitário, essa decisão pode levar a questionamentos de outros mercados relevantes para o Brasil”, afirma o analista.
Fonte: DCI São Paulo