Em recuperação judicial, Arantes avalia vender ativos

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A Arantes Alimentos disse que vai recorrer à Justiça para retomar a posse da planta industrial que havia arrendado da International Food Company - IFC -, localizada em Itupeva (SP), em agosto de 2008. Na semana passada, o juiz da 6 ª Vara de Jundiaí (SP) extinguiu um processo tratando da disputa e deu a posse à IFC, segundo Aderbal Arantes, presidente da Arantes.

 

Tanto a Arantes quanto a IFC estão em recuperação judicial e vinham disputando a posse da unidade onde se fabrica "beef jerky". A IFC alega que a arrendatária nunca chegou a operar a planta de Itupeva. A Arantes, por seu lado, afirma ter pago adiantado R$ 8 milhões por parte de um arrendamento de 10 anos e alega que nunca teve a "posse pacífica" da unidade. "Eles sempre criaram problemas para que não pudéssemos assumir", afirma Aderbal Arantes.

 

De acordo com o empresário, a IFC, mesmo tendo recebido o valor do arrendamento adiantado, tentou retomar a unidade e impedir a transferência do SIF (Selo de Inspeção Federal) da planta para a Arantes Alimentos. A IFC também teria tentado um acordo para reaver a planta, propondo devolver o valor pago em 48 meses.

 

Ao mesmo tempo em que disputa a fábrica com a IFC, a Arantes, enfim, começa a fazer os levantamentos necessários para apresentar o plano de recuperação judicial a seus credores. Apesar de o pedido ter sido deferido em janeiro deste ano pela Justiça, apenas agora a empresa toma essas medidas.

 

A razão é que o processo migrou entre diferentes fóruns até ficar, definitivamente, na 8ª Vara de São José do Rio Preto (SP). O pedido foi feito originalmente em Nova Monte Verde (MT), onde está a maior unidade da Arantes. Mas credores alegaram dificuldade de acesso aos documentos e o processo foi transferido para São José do Rio Preto, sede administrativa da empresa. Lá, o juiz alegou que não tinha competência para julgar o caso, que foi transferido para São Paulo, segundo o advogado da Arantes, Joel Thomaz Bastos, da Felsberg Associados. No começo de junho, o Tribunal de Justiça de São Paulo definiu a competência para São José do Rio Preto.

 

Diante desse vaivém, o prazo normal de 60 dias para a Arantes apresentar o plano de recuperação foi prejudicado - em tese seria em 12 de março. Agora, a Arantes terá de solicitar ao juiz do processo que defina uma nova data para submeter o plano aos credores.

 

A estimativa da Arantes é que um total de R$ 1 bilhão estejam envolvidos no pedido de recuperação. O número era maior no fim de 2008, mas a queda do dólar reduziu o valor, já que parte das dívidas é na moeda americana. Segundo o presidente da empresa, da dívida total 65% se referem a débitos com bancos, cerca de 4% com fornecedores, incluindo pecuaristas, e o restante ao bônus de US$ 150 milhões captados em junho de 2008.

 

Ele afirma que as perdas com derivativos e com variação cambial fizeram o endividamento "explodir" no último trimestre de 2008, quando a crise internacional se agravou. Para piorar, as exportações despencaram e os bancos restringiram o crédito. "A Sertanejo exportava 70% do faturamento, caiu para 10%", conta.

 

Diante desse quadro, a empresa demitiu cinco mil de seus oito mil funcionários. Hoje, de sete unidades de bovinos, opera duas - Pontes e Lacerda (MT) e Nova Monte Verde. Além delas, Imperatriz (MA) deve voltar a abater este mês. As unidades de aves - adquiridas da Sertanejo - também operam parcialmente, com 60% da capacidade. As fábricas de embutidos (Hans e Éder) também estão produzindo, segundo Aderbal Arantes. Para voltar a operar, a empresa está pagando os fornecedores à vista, diz o empresário.

 

Além de adiar a apresentação do plano de recuperação judicial da Arantes, as idas e vindas do processo geraram outro efeito colateral para a empresa. "Nesse meio tempo, credores retiraram produto, gado, houve bloqueio de dinheiro", afirma.

 

Passado o pior da turbulência financeira, Aderbal Arantes admite que a agressividade da empresa - que adquiriu entre o fim de 2007 e 2008 a Hans, a Eder e Frango Sertanejo - também contribuiu para o agravamento da situação financeira da companhia. "Fomos agressivos, mas os bancos também foram", comenta, referindo-se ao excesso de liquidez que estimulou as instituições financeiras a abrirem as torneiras até o primeiro semestre de 2008.

 

Depois de ver o faturamento dobrar em 2008 - alcançando R$ 1,6 bilhão - a Arantes que deve surgir após o plano de recuperação é uma empresa menor com receita na casa de R$ 1,2 bilhão em 2010, segundo o empresário, que considera a possibilidade de vender ativos. Para este ano, prevê, a receita deve cair bruscamente, para R$ 500 milhões.
 


Veículo: Valor Econômico


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