Com 2 lances, JBS se torna líder global em proteínas

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Ao desembolsar US$ 800 milhões para comprar uma participação majoritária na norte-americana Pilgrim's Pride, na qual assumiu também dívidas de US$ 2,4 bilhões, o grupo brasileiro JBS tornou-se, a partir de ontem, a maior empresa global de carnes, entrando finalmente no negócio de frangos. Mas os movimentos da companhia não pararam por aí. A JBS também incorporou a Bertin, segunda maior do setor de bovinos do Brasil, em uma operação que envolveu ações avaliadas em R$ 5,2 bilhões e que consolida uma série de aquisições desde 2005, quando a empresa começou a se internacionalizar. A negociação com a Pilgrim's, na qual a subsidiária JBS USA terá 64% do capital social, foi avaliada em cerca de U$ 2,8 bilhões.

 

"Temos de reduzir bastante o endividamento da empresa, mesmo tirando US$ 800 milhões de equity, ela ainda fica com a alavancagem no nosso conceito acima do nosso histórico", afirmou o presidente do JBS, Joesley Mendonça Batista, em teleconferência para explicar a operação, que foi bem recebida pelo mercado.

 

A ação do JBS fechou o dia com a maior alta do Ibovespa (8,8%, para R$ 8,65), enquanto os papéis da Pilgrim's nos EUA subiram mais de 10% na bolsa americana.

 

Com os acordos, o JBS agora atua nos principais segmentos de carnes e estima o faturamento anual das operações combinadas em US$ 28,7 bilhões, numa organização com capacidade global de abate de mais de 90 mil bovinos/dia, quase 50 mil cabeças/dia de suínos e mais de 7,2 milhões aves ao dia, com unidades nos EUA, Austrália, Argentina, Uruguai, Paraguai, Itália, México e Porto Rico, além do Brasil.

 

Apenas com as chamadas sinergias internas das aquisições, considerando logística e suprimentos, a empresa espera ter ganhos de US$ 200 milhões ao ano com a Pilgrim's e de R$ 500 milhões com a Bertin. "Acreditamos que em 2010 já seguimos firmemente. Lógico, não vai ter todo potencial, mas, em 2011, você já pode considerar todas as sinergias", disse ele.

 

Apesar do gigantismo da operação, especialmente nos EUA e no Brasil, Batista não prevê problemas com órgãos de defesa da concorrência, que ainda precisam aprovar os acordos. Ele argumentou que a empresa está entrando em frango só agora nos EUA, e não haveria concentração, e que no Brasil o mercado é pulverizado e as empresas exportam cerca de 50% da produção.

 

A aquisição da Pilgrim's, que está em recuperação judicial e espera sair do processo até o final do ano, contará ainda com linhas de crédito suficientes para financiar dívida de US$ 1,5 bilhão, na mesma época em que a JBS espera ter concluúido o negócio.

 

Batista destacou que o acordo para adquirir a empresa norte-americana é "um divisor de águas", assim como o negócio da Bertin, e indicou que precisará de vultosos recursos.

 

Além dos cerca de US$ 2 bilhões previstos em um pedido de emissão pública de ações nos EUA (IPO), que devem ser destinados para reforçar uma estratégia global de distribuição, a empresa deverá fazer também uma operação privada, para tentar captar US$ 2,5 bilhões. Diante dos novos fatos, o pedido de emissão de ações vai ser reenviado à SEC e a operação será postergada

 

"Propomos algo adequado à estrutura de capital da companhia, o deal vai ser suportado por algo como US$ 2,5 bilhões, capaz de manter a empresa não só conquistando a liderança global no ramo de proteína, mas com baixa alavancagem e capacidade de seguir investindo."

 

O presidente do JBS disse ainda que, assim como na Pilgrim's, na empresa formada com Bertin a família Batista terá maioria no Conselho. A Bertin deve se transformar em uma marca. "A JBS, companhia brasileira de capital aberto listada na Bovespa, segue o seu curso. Ela incorporará a Bertin, que passa a ser uma afiliada da JBS, como todas as outras. Bertin e suas marcas viram marcas da JBS", disse Batista.

 

AVALIAÇÃO. Na prática, e em valores aproximados, a família Batista passa a controlar 36% das ações da JBS; a família Bertin possui 24%O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com importante participação nas duas empresas e grande impulsionador do setor no Brasil, deve ficar com algo em torno de 23%. 17% das ações ficam pulverizadas no mercado. Questionado sobre um valor atribuído à Bertin, de pouco mais de R$ 5 bilhões, com base no acordo acionário, o presidente do JBS disse que isso é difícil de avaliar.

 

"É uma troca de ações, não tem um valor, é um escambo. Se considerar as ações da JBS ao preço que acho que vale, eu acho que paguei caro. Já ele (Bertin) vai achar que foi barato...", disse.

 

Boa estratégia. As movimentações de parcerias e aquisições registradas recentemente no setor de carnes do Brasil é uma boa forma de defesa diante da queda no volume comercializado em relação aos últimos anos, segundo o sócio diretor da RC Consultores, Fábio Silveira.

 

Para Silveira, a união da JBS com a Bertin é uma adaptação aos novos tempos pós-crise. "Estas fusões e parcerias são medidas para que a rentabilidade destas empresas continue crescente, mesmo com um mundo em recessão, onde as vendas não deverão registrar aumentos significativos no longo prazo", disse.

 

Silveira lembra que o Brasil tem maior competitividade que outros países no setor de carne em função da sua forte produção de soja e milho, utilizado na produção de ração para os bois, e da grande quantidade de pastos, o que torna o custo de produção muito baixo. "Estes menores custos levam as empresas brasileiras a ficarem mais capitalizadas, o que as torna financeiramente mais aptas para liderarem o processo de aquisição no exterior", disse. (Com agências)

 

Grupo terá 8% do abate mundial de bovinos

 

Nos bastidores da indústria frigorífica, a aquisição da Pilgrim"s Pride e a incorporação da Bertin pela JBS gerou avaliações positivas e negativas. No caso da compra da Pilgrim"s, que a-tua basicamente no mercado americano de frango, os impactos no Brasil, por enquanto, serão pequenos, para não dizer nulos. A empresa atua apenas nos Estados Unidos e representa 20% do comércio americano de carne de frango.

 

O negócio com a Bertin, no entanto, despertou preocupação em muitos aspectos e vários elos da cadeia. Com a incorporação, a JBS terá uma capacidade instalada para abater 90,39 mil cabeças de gado por dia em todo o mundo, volume que representa aproximadamente 8% do abate mundial de gado. Um em cada 13 animais abatidos no mundo sairá de uma das 82 unidades que a empresa passa a controlar a partir de agora, nos sete países em que está presente.

 

A empresa, que já era a maior no segmento de bovinos, com a compra da Pilgrim"s passou a ocupar a segunda colocação no ranking americano de carne de frango com uma marca líder de vendas e assumiu a liderança global no segmento de couros, com a incorporação das operações da Bertin.

 

No Brasil, a nova estrutura e a presença que a JBS ganha é ainda maior A empresa passa a ter uma capacidade de abate de 43,4 mil cabeças por dia, ou seja, 10,85 milhões de cabeças por ano. Esse valor representa que a JBS, sozinha, pode ser responsável por 27% do abate bovino de todo o Brasil.

 

Um em cada quatro bois abatidos no País sairá a partir de agora de uma das 39 unidades existentes no território nacional. Na disputa com as outras empresas do setor, JBS, Marfrig - que adquiriu a Seara, da Cargill, essa semana -, e BRF despontam como as maiores do Brasil.

 


Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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