BRF espera o mercado externo

Leia em 4min 30s

A Brasil Foods (BRF), gigante do setor de alimentos que resultou da fusão entre a Sadia e Perdigão, aguarda a decisão final do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para colocar em prática sua estratégia de competição no exterior. Depois da união das duas empresas, o órgão regulador autorizou algumas operações conjuntas no setor financeiro, de forma a equacionar os problemas de endividamento da companhia, mas manteve separadas as operações.

 

Isso não afeta em nada a questão da competição interna, mas certamente daria um ânimo maior para as exportações brasileiras - afirmou o co-presidente do conselho de administração da BR Foods, Luiz Fernando Furlan, acrescentando que a empresa segue trabalhando junto ao Cade para obter as liberações necessárias.

 

CONCORRENTE. Após participar do Fórum Nacional, produzido pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, o executivo afirmou ainda que vêde forma positiva a expansão da JBS Friboi, que após associação com o frigorífico Bertin e a compra da americana de frangos Pilgrim"s Pride, tornou-se a maior empresa de proteína animal do mundo e a terceira maior companhia em receita no Brasil (atrás de Vale e Petrobras).

 

O executivo considerou positiva a união entre JBS Friboi e Bertin, destacou que a tendência de consolidação em diversos segmentos fortalece as empresas brasileiras e "aumenta a possibilidade de protagonismo na competição mundial".

 

O ex-ministro do Desenvolvimento afirmou ainda não temer o aumento da concorrência que pode resultar da união entre JBS e Bertin. Furlan evitou comentar sobre uma possível batalha de mercado entre as duas gigantes recém-criadas. "O mercado é aberto e todo dia aparecem competidores. São bem-vindos", completou.

 

DIVERSIDADE. Furlan acrescentou que a nova empresa trará mais diversificação para o mercado de aves no Brasil. "Eu vi a expansão muito positivamente e essa é uma tendência de consolidação em vários segmentos da economia", disse Furlan, ontem. Em relação aos avanços pretendidos no mercado externo, o presidente do Conselho de Administração da Brasil Foods não esclareceu se a empresa buscará a aquisição de ativos no exterior, mas ressaltou que a estratégia internacional irá favorecer as exportações brasileiras e não afetará a competição interna.

 

Ao anunciar a associação ao Bertin e a aquisição do Pimgrim"s, o JBS FrioBoi deixou a a americana Tyson Foods para trás e se tornou a maior empresa do setor de carne do mundo. A receita líquida do grupo comando por Joesley Batista saltou para US$ 28,7 bilhões, valor 2,4 vezes maior que o da Brasil Foods. Toda a operação está estimada em cerca de US$ 2,8 bilhões e para financiá-la a JBS pretende usar recursos próprios e parte de uma possível emissão privada de ações da subsidiária americana. A empresa retomará a oferta pública da JBS USA.

 


Mercado ainda analisam a operação

 

A incorporação da Bertin pela JBS ainda está sendo avaliada pelo mercado e também pelos pecuaristas. Enquanto alguns analistas tentam entender como ficam as ações, as dívidas e de onde virá o dinheiro para financiar toda essa operação, produtores temem o tamanho que a empresa passa a ter, especialmente no Brasil.

 

Algumas lideranças do setor já informaram ter pedido avaliações da empresa, impactos que o setor produtivo sofrerá e se o pecuarista perderá força nas negociações com as empresas do setor em geral.

 

O sentimento do mercado é de que ser responsável por até 27% do abate bovino nacional não é o ponto mais crítico a ser analisado. A maior preocupação é quando a análise é feita de forma regional, principalmente nas regiões onde a pecuária ainda não é tão consolidada.

 

Vale lembrar que em 2007 11 frigoríficos foram investigados pelo Cade por formação de cartel, entre os quais estavam Bertin e JBS. Na época, a Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) denunciou um suposto grupo que teria se reunido no início de 2005 para uniformizar os critérios praticados na compra de gado, alegando que as indústrias teriam feito um acordo para limitar o preço pago aos produtores. Desses 11, apenas três foram condenados pelo Cade, entre os quais estava a Bertin. A JBS pagou uma multa de R$ 13,7 milhões, passou a adotar um programa de prevenção de condutas anticompetitivas e as investigações foram suspensas.

 

"No Sul do País existem grupos tradicionais, que, apesar de bem menores que a JBS, têm força para competir na compra de gado. O problema é quando se olha para o Centro-Oeste e passa a enxergar apenas duas ou três opções de venda", afirma um pecuarista.

 

Os próprios pecuaristas consideram que, no curto prazo, a nova empresa representa um alívio para o mercado e tranquilidade para o setor. "Eu não ficava tranquilo quando vendia para o Bertin, pois sabia que eles estavam em dificuldades e existia o risco de eu não receber. Depois da fusão passei a ficar maio sossegado", admite o pecuarista.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


Veja também

O salto da JBS

Empresa será a terceira em receita líquida no Brasil e a maior de proteínas no mundo, ultrapassando...

Veja mais
Com 2 lances, JBS se torna líder global em proteínas

Ao desembolsar US$ 800 milhões para comprar uma participação majoritária na norte-americana ...

Veja mais
Crise antecipa era dos 'grupos de proteínas'

Carnes: Compra da Seara pela Marfrig espelha um segmento que procura sinergias, escala, barganha e margens   ...

Veja mais
Marfrig acredita em 'ajuda' do BNDES

O presidente da Marfrig Alimentos, Marcos Molina, disse ontem que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) "de...

Veja mais
BRF pode ser beneficiada por negócio

A aquisição da Seara, divisão de carnes da americana Cargill, pela brasileira Marfrig Alimentos, po...

Veja mais
Ibama reavalia multas a pecuaristas no Pará

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai realizar um mutirão...

Veja mais
Frigoríficos buscam aquisições e preocupam os produtores

As empresas do setor de carnes que estão conseguindo voltar a se capitalizar começam a prospectar neg&oacu...

Veja mais
Embarque de frango volta a recuar e Abef reduz estimativa de exportação para 2009

O real valorizado e a demanda menor em alguns países estão prejudicando as exportações brasi...

Veja mais
Marfrig compra Seara por US$ 900 milhões

Alimentos: Operação pode ser financiada por meio de oferta primária de ações da empre...

Veja mais