Cooperativas reagem à concentração no mercado de frango

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As cooperativas agroindustriais começaram um movimento para tentar reagir à concentração do mercado de carne de frango e de suínos, consolidado com a fusão de Sadia e Perdigão na Brasil Foods e a compra da Seara pela Marfrig.

 

Em recente encontro de executivos do segmento, em Florianópolis, algumas das principais cooperativas do Sul do país iniciaram conversas sobre a criação de uma eventual "holding" que unificaria operações agroindustriais e internacionais. Somadas, as cooperativas produtoras de carne de frango e suíno teriam 20% do mercado, o que poderia ser um "contrapeso" ao poder de fogo dos novos gigantes. O "market share" cooperativo seria quase metade do da BRF.

 

"Essa onda de aquisições e fusões ainda não terminou no Brasil. As cooperativas precisam elevar as margens de lucro e não apenas as escalas", diz o diretor-geral de mercado externo da cooperativa central Aurora Alimentos, Dilvo Casagranda. A eventual "holding" poderia reunir operações da C-Vale, Lar, Cosuel e as centrais Aurora e Frimesa.

 

Na avaliação de executivos do ramo ouvidos durante a feira mundial de alimentos Anuga, na Alemanha, o segmento ganhou com a criação da Brasil Foods porque parte da clientela passou a buscar fornecedores alternativos à grandes empresas para compor o seu mix de compras. "Por outro lado, as menores perderam poder de fogo para movimentar o mercado", analisa Casagranda.

 

A avaliação no setor é que as empresas médias nos dois segmentos não teriam capital de sobra para fazer aquisições ou incorporações. "Elas estão rodando as operações que já têm, mas ninguém está com o caixa cheio", avalia uma fonte do setor. Entre as médias que resistiram à onda de aquisições, a Pif Paf é a mais cobiçada. Mas empresas como Globoaves, Diplomata e Big Frango também teriam entrado no radar dessa nova onda.

 

A sede da Marfrig pela ampliação de sua atuação no país levou o grupo a comprar a Seara das mãos da americana Cargill para se consolidar no segundo posto no ranking das maiores produtoras de aves. Mas todos concordam que a distância que separa Marfrig da Brasil Foods poderia ser encurtada no médio prazo com a aquisição de algumas médias empresas do segmento.

 

A francesa Doux, líder neste mercado na Europa, vendeu suas operações de perus para a Marfrig e tenderia a negociar uma nova parceria para sua controlada Frangosul no futuro. Procurado pela reportagem durante a feira Anuga, o controlador da empresa, Charles Doux, preferiu não comentar seus planos.

 

Uma das gigantes do mercado mundial, a Tyson Foods está no meio do processo de consolidação de seu projeto de crescimento no Brasil. Pressionada pela acelerada consolidação no mercado brasileiro, a Tyson informa que ainda está "arrumando a casa" antes de qualquer plano de ampliação de investimentos.

 

"Nosso plano não é afetado e nosso compromisso não mudou. Não nos preocupa se empresas estão se fundindo porque não entramos para colher resultados no primeiro ano nem esperamos julgamentos", afirma o presidente da Tyson do Brasil, Joster Macedo. Analistas de mercado apontam a "necessidade" de a empresa ampliar suas operações domésticas para ocupar, no Brasil, um espaço equivalente ao seu peso nos Estados Unidos e no mercado mundial.

 

O projeto para as três unidades adquiridas no fim do ano passado deve estar consolidado em 2012. Serão abatidas cerca de 800 mil cabeças de frangos por dia. "O que nos preocupa é o mercado, a recuperação econômica, a integração das empresas adquiridas e atingir a capacidade plena de produção", afirma o diretor comercial do grupo, Raphael Martins. O esforço para ampliar a produção e certificar as unidades para exportação

 

O presidente da associação dos exportadores de frango (Abef), Francisco Turra, afirma que o cenário de concentração das operações tende a ser ampliado. "E ainda temos muitas lições de casa para cumprir", diz. Para o ex-ministro da Agricultura, as cooperativas devem desempenhar um papel "muito importante" de "contrapeso" no mercado doméstico brasileiro.

 

O movimento de associação, ou intercooperação, no segmento ajudaria a fortalecer todo o setor de frango. "Isso soma, e não divide", observa Turra.

 


Veículo: Valor Econômico


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