Credores prometem aprovar hoje plano do Independência

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O novo plano de recuperação judicial do Frigorífico Independência, que antes da crise era uma das maiores empresas exportadoras de carne bovina do Brasil, deve ser aprovado hoje em assembleia realizada na cidade de São Paulo. Após 249 dias desde a entrada do pedido, 1.524 pecuaristas credores de cinco estados vislumbram a chance de receber os R$ 194 milhões que a companhia deve. Somando o desgaste gerado pela suspensão de três assembleias e uma significativa alteração do plano, que aumentou de R$ 80 mil para R$ 100 mil o pagamento inicial a cada pecuarista, a maior parte dos credores se mostra favorável à finalização das negociações ainda hoje.

 

O não pagamento dessa dívida gerou uma quebra no ciclo pecuário desenvolvido por esses criadores e um descompasso no fluxo de caixa que irá demorar a ser equilibrado. Quando entrou com o pedido de recuperação judicial, o Independência seguiu os passos de Margen, Estrela, Arantes, IFC e Quatro Marcos.

 

"O produtor que empregou seu gado há oito meses atrás fez compromissos, tinha várias contas programadas para pagar mediante o recebimento desse dinheiro e ainda comprar o bezerro", disse Luciano Vacari, presidente da Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat).

 

"O ciclo referente àqueles animais foi perdido, não volta mais. O produtor vai ter que começar de novo o que ele já teria que ter comprado há um ano a mais o bezerro", completou Vacari.

 

Os produtores do Mato Grosso que têm a maior parcela a receber do Independência, cerca de R$ 50 milhões, devem optar pela aprovação do plano, no entanto, ainda têm dúvidas quanto ao recebimento. "Vamos trabalhar para que o plano seja efetivamente cumprido", afirmou o presidente da Acrimat.

 

No Mato Grosso do Sul, onde a dívida é da ordem de R$ 42 milhões, o pensamento é tolerar a flexibilização do débito para ter a garantia de que irá receber.

 

"Como o risco é muito grande de não receber nada e do frigorífico vir a falência a aceitação dessa proposta (atual) é quase unânime", disse Dácio Queiroz, diretor-secretário da Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul) cuja assessoria jurídica faz a representação de grande parte dos criadores do estado.

 

Segundo Queiroz, a última alteração no plano apresentando pelo Independência foi fundamental para que os pecuaristas sul mato-grossenses decidissem pela aceitação. "Houve uma melhora significativa comparada com a última assembleia que foi um desastre", avaliou o diretor da Famasul. Ele também reiterou a dificuldade enfrentada pelos criadores da região. De acordo com Queiroz, o ciclo da pecuária é de longo prazo e capital intensivo, podendo demorar de três anos e meio a quatro para ser finalizado e quando interrompido há uma frustração de receita efetiva. "Há um descompasso no fluxo de caixa que não é de uma hora para outra que a pessoa recupera. Os produtores estão cambaleando, onerando seus negócios, contraindo dívidas, sem conseguir investir", destacou.

 

Queiroz salienta ainda o efeito cascata sobre toda a cadeia já que, endividado, o produtor deixa de comprar bezerros e reprodutores, insumos e até mesmo o combustível usado no transporte.

 

Cenário futuro

 

Não serão apenas os frigoríficos em processo de recuperação judicial que terão que enfrentar um desafio no próximo ano. Com a retração do consumo mundial de carne sendo ainda uma realidade 2010 será uma temporada na qual a indústria será pressionada e, consequentemente, os produtores também. "A carne brasileira está ficando cara em relação a outros mercados e se não recuperar o mercado europeu e a Rússia, que são os mercados que podem pagar mais caro, a indústria estará caminhando para um cenário de preços pressionados", avalia Alexandre Mendonça de Barros, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio da MB Agro. O especialista afirma ainda que o mercado interno não está disposto a pagar pela carne mais cara e os repasses da oneração para os produtores deve ocorrer de forma imediata. "O encarecimento da carne vai impactar nos preços internos. Quem perde é o criador que deve entrar agora em um ciclo de baixa", disse Barros.

 

O novo plano de recuperação judicial do Frigorífico Independência deve ser aprovado hoje em assembleia a ser realizada em São Paulo.

 

Veículo: DCI


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