O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, previu ontem que a economia brasileira deverá ter este ano "um Natal excelente", sob o ponto de vista da oferta e das condições de crédito para pessoas e empresas. Segundo ele, a melhoria de fatores como massa salarial, renda e geração de empregos também produzirão efeitos positivos sobre as tradicionais vendas de fim de ano. "O crédito no Brasil aumentou muito nos últimos anos em porcentagem do nosso produto interno bruto. Era de 21% em 2003 e agora está em 45%. Mas temos muita margem para crescer", disse, lembrando que esse patamar ainda é baixo frente ao registrado em muitos outros países.
Em relação às taxas de juros das operações do sistema financeiro, apesar da elevação em outubro, Meirelles acredita que a tendência continuará sendo de queda, como já se viu nos dados parciais de novembro. Ele reconhece que juros menores são positivos para economia brasileira a estimulam o crédito. Perguntado a respeito, o presidente do BC reconheceu que bolhas de crédito são as mais perigosas para uma economia, como mostrou a recente crise americana. "O estouro da bolha de crédito leva a crises gravíssimas. Outras bolhas são deletérias." Na sua avaliação, o atual momento de expansão do crédito no Brasil não se caracteriza como formação de uma bolha, ou seja, não se trata de algo insustentável no tempo, até porque o BC está muito atento a esse processo.
Como autoridade supervisora, explicou, o BC está sempre alerta para que os critérios de concessão de crédito obedeçam a padrões sólidos de cuidado em relação ao risco tomado. "Uma boa gestão de risco é fundamental", disse, acrescentando que os bancos têm cumprido adequadamente exigências relativas a provisões, reservas de liquidez e índices de capitalização para fazer frente aos riscos. "O BC está atento a tudo isso para que a expansão de crédito seja saudável."
Em palestra ao Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), ontem, em Brasília, Meirelles reforçou suas expectativas otimistas para 2010. Segundo ele, graças às rápidas respostas dadas pelo governo e pelo Congresso, o Brasil conseguiu superar bem a crise liquidez que se espalhou pelo mundo após a queda do banco americano Lehman Brothers em 2008. Superada a crise, acrescentou, agora o Brasil "vive um momento de administrar o sucesso".
A maior evidência do sucesso do país no combate à crise e na retomada da rota de crescimento, destacou, é o aumento do fluxo de capitais estrangeiros para o país. O fluxo subiu tanto que, em outubro, o governo decidiu tributá-lo em 2% na entrada dos recursos.
Meirelles admitiu que existe, no mundo todo, muita preocupação com uma possível recaída americana. O próprio presidente Obama, lembrou Meirelles, alertou para isso. Se a recaída americana de fato vier, no entanto, pegará o Brasil mais preparado, segundo Meirelles. " O arsenal de medidas desenvolvidas para enfrentar a crise continua preparado. Estamos treinados na batalha".
Veículo: Valor Econômico