Depois de um ano de economia em estagnação, quando o produto industrial chegou a cair 4,5%, a indústria retomará, no próximo ano, os projetos adiados de investimento, impulsionada pelo mercado interno, informa a Confederação Nacional da Indústria (CNI), na edição especial de fim de ano de seu Informe Conjuntural.
Os investimentos, que caíram 10,8% neste ano, aumentarão 14% no ano que vem, elevando a taxa de investimentos (formação bruta de capital fixo), dos atuais 16,9% para 18,3%, do Produto Interno Bruto (PIB).
"Em nossa projeção, o investimento ainda não alcançará 20% em 2010; 18,6% é baixo, mas o investimento havia caído mais neste ano, a quase 16%", comentou o presidente da CNI, Armando Monteiro Neto. "Se quiser se transformar em economia de alto crescimento, o Brasil terá de elevar a poupança e aumentar a taxa bruta de formação de capital para níveis próximos a 25%."
Nas previsões da CNI, o mercado consumidor interno não só continuará robusto como deverá receber um impulso do mercado de trabalho: a taxa de desemprego deve recuar, de 8,1% em média neste ano, para 7,6% em 2010, e os salários devem aumentar, em média, 5%.
O consumo das famílias, que cresceu cerca de 3,7% em 2009, deverá se elevar em 5,6% no próximo ano, preveem os economistas da entidade. Monteiro Neto lamentou que o governo não tenha condições de aumentar significativamente o investimento do setor público, por falta de recursos orçamentários - embora economistas da CNI prevejam a contribuição, nesse item, dos investimentos previstos para a Copa de 2014 e para as Olimpíadas.
Apesar das previsões de aumento no consumo sem o crescimento necessário de investimento, o diretor da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, prevê que não haverá pressões inflacionárias sobre os preços, já que a demanda por mercadorias poderá ser atendida com a capacidade ociosa nas fábricas e a ainda confortável situação nas contas externas, que permite aumento de importações.
Monteiro Neto cobrou do governo medidas para aliviar a situação dos exportadores, prejudicados pelo aumento dos preços de suas mercadorias no mercado externo, com a desvalorização do dólar em relação ao real. A CNI calcula que o dólar estará cotado em R$ 1,70 em 2010, abaixo da média de R$ 1,72 deste ano. Mudar essa taxa é uma tarefa "complexa", diz ele, ao reconhecer que a tendência de queda do dólar é mundial, reflexo da política monetária americana. O governo pode tomar medidas para minimizar o efeito da excessiva valorização do real, como, por exemplo, acelerar a devolução dos impostos cobrados indevidamente dos exportadores, sugeriu.
A principal diferença entre a economia brasileira e a de outros países emergentes com elevado crescimento é a qualidade da política fiscal, que não tem gerado poupança suficiente para sustentar o nível necessário de investimentos, alerta o estudo da CNI. Os impactos da crise sobre o comércio externo se mostraram duradouros, mas, ainda assim, será a indústria a liderar a recuperação da economia no próximo ano, quando o crescimento do Produto Interno Bruto brasileiro deve se elevar a 5,5%, segundo prevê a CNI.
Veículo: Valor Econômico