Aumentos espalhados nos preços atacadistas impulsionaram o resultado do Índice Geral de Preços- 10 (IGP-10), que subiu 1,08% em fevereiro, após avançar apenas 0,20% em janeiro. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getulio Vargas (FGV) Salomão Quadros, produtos agrícolas e industriais estão em alta no atacado.
De acordo com ele, tanto o setor industrial como o setor agrícola têm sido influenciados por um câmbio mais elevado; por um movimento de recuperação de preços em e retomada da atividade no cenário pós-crise; e por uma redução na oferta de cana-de-açúcar e derivados.
Assim como a taxa do IGP-10, a inflação no atacado também disparou (de 0,07% para 1,15%), de janeiro para fevereiro.
Ele negou que os recentes movimentos de desvalorização do real ante o dólar sejam uma influência preponderante na formação de preços do atacado. Mas admitiu que, em comparação com o ano passado, quando o dólar praticamente não puxou para cima a inflação mensurada pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), o câmbio em 2010 não está mais tão estático.
Outro ponto destacado pelo economista foi o movimento de recuperação de preços de produtos que estão fortemente relacionados ao ambiente de retomada na atividade industrial.
O técnico também comentou que ocorre uma recuperação de margens em produtos que foram duramente afetados pelo recuo na demanda internacional, devido à crise. "O mercado internacional deve estar mais comprador. Há um movimento de recuperação no preço da carne. Isso deve ganhar mais consistência ao longo do ano", comentou.
Quadros avalia que, ao se descontar os efeitos sazonais de reajustes de preços administrados e de alimentos in natura em alta, característicos do início do ano, é possível perceber que houve um avanço consistente da inflação no começo de 2010. "Há uma movimentação de alta. De uns dois meses para cá, houve uma confirmação de uma aceleração da inflação, principalmente no varejo", disse, lembrando que o núcleo da inflação em janeiro atingiu o mais elevado patamar em quase cinco anos. "Isso pode nos tirar do centro da meta inflacionária este ano [4,5%]", afirmou.
Ele comentou que, tendo em vista este cenário de avanço da inflação tão perceptível já no início do ano, o Banco Central deve mesmo elevar a taxa básica de juros (Selic) na reunião do Copom em março.
Veículo: DCI