Mercado modera as previsões para juros

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O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne a partir de hoje para decidir se altera ou não a taxa básica de juros (Selic). Amanhã será anunciado o resultado. Enquanto isso, as divulgações recentes de importantes dados econômicos modificaram as previsões de alguns especialistas, o que favoreceu o abandono do consenso de qual será a elevação da taxa Selic pelos diretores do Banco Central (BC).

 

De acordo com o relatório Focus divulgado ontem, os consultados pelo BC prevêem que a taxa de juros termine 2010 a 12% ao ano. Porém, algumas informações recentemente divulgadas como o índice de atividade IBC-Br calculado pelo BC, que apresentou retração de 0,02% em maio, e a piora dos indicadores de atividade nas principais economias do mundo causaram a mudança das percepções.

 

O economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, divulgou ontem que sua nova previsão para a elevação da Selic é de 0,50 ponto percentual, de modo que a taxa fique a 10,75% e não mais a 11%, conforme previsão anterior. A explicação do economista é que os sinais de que não haverá um superaquecimento da economia e indicadores menos intensos das atividades da economia internacional colaboraram para a alteração da perspectiva.

 

Com as mesmas considerações, o Sindicato das Financeiras do Estado do Rio de Janeiro (Secif-RJ) também informou ontem que prevê elevação de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. "Mesmo se o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) chegar aos 7% este ano, será reflexo do crescimento pífio de 2009", avalia o presidente do Secif José Arthur Assunção.

 

O economista-chefe do banco Schahin Silvio Campos Neto cita ainda que na nota de divulgação do resultado, caso revele divisão de votos, "o que tem grandes chances de acontecer", o Copom poderá dar sinais de que o ciclo de aperto poderá estar perto do fim.

 

Já a economista-chefe da Rosenberg Consultores Associados Thaís Zara afirma que as desacelerações dos índices econômicos já eram esperadas e, portanto, ela estima que não haverá surpresas na reunião do Copom desta semana. "A demanda continua aquecida e a postura do BC deve permanecer relacionada a um aperto monetário", explica. Para ela, nesta quarta-feira, os diretores da autoridade monetária devem aumentar a Selic em 0,75 ponto percentual. Na opinião de Thais, deve haver mais uma elevação de 0,75 ponto percentual, a alcançar 11,75% ao ano em 2010.

 

Da mesma forma projeta o economista da LCA Consultores Homero Gizzo. "Prevemos elevação de 0,75 ponto percentual nesta reunião e 0,75 ponto percentual na próxima. Não vemos que é necessário mudar isto porque já aguardávamos essas desacelerações há muitos meses", diz. Para ele, "é natural que ocorra mudanças nas previsões". "Os dados da atividade econômica e a inflação até nos surpreenderam, mas não o suficiente para reavaliarmos nossas expectativas. Até mesmo o ambiente externo não deve afetar a decisão do Copom neste primeiro momento", acrescenta.

 

O presidente do Conselho de Administração do Ibef-SP, Walter Machado de Barros, também avalia que a taxa Selic chegará ao fim do ano em 11,75%. "Segue muito forte a possibilidade de o BC manter o ritmo de elevação em 0,75 ponto percentual na reunião deste mês", analisa.

 

Diferentemente dos demais especialistas, o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), Fabio Gallo Garcia, acredita que a Selic se manterá estável. "Os dados anunciados mostraram a desaceleração da expansão da economia, o que leva à perspectiva de que o Copom, nesta reunião, deverá optar pela estabilidade da taxa em 10,25% ao ano".

 

No entanto, o consenso entre os especialistas é de que é muito prematuro afirmar que as desacelerações dos fatores econômicos podem indicar um desaquecimento da economia. A expectativa da maioria é de que o aumento da massa salarial, o crédito em ritmo de expansão e os investimentos em curso devem favorecer a continuidade da alta demanda interna e, assim, em mais elevações da taxa básica.

 

Inflação

 

A estimativa do mercado para a projeção de inflação (IPCA) deste ano foi reduzida de 5,45% para 5,42%, segundo o relatório Focus divulgado ontem. Para 2011, o mercado projeta a mesma alta do IPCA há 14 semanas (4,80%).

 

Com relação aos demais índices de preços, todas as previsões foram reduzidas para 2010. A estimativa para o IGP-DI passou de 8,68% para 8,58%, para o IGP-M, passou de 8,89% para 8,79% e o IPC-Fipe, de 5,15% para 5,12%.

 

A projeção do PIB em 2010 não sofreu alteração no relatório, ao se estabilizar em crescimento de 7,20% há duas semanas.

 

Veículo: DCI


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