Idosos trocam dominó pelas compras

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Empresas traçam estratégias para atrair esse público, que movimenta R$ 7,5 bilhões ao mês.


Eles têm mais de 60 anos, aposentaram as agulhas de tricô e o dominó, e estão cada vez mais ligados nas tendências de mercado. Com disposição e tempo, "de sobra", para se dedicar às compras, a terceira idade representa um consumidor em potencial de produtos e serviços. Confirma esse dado um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelou que o Brasil está envelhecendo, e conta com 19 milhões de idosos, que movimentam R$ 7,5 bilhões ao mês e despontam como um novo filão para empresas.

Com todas essas características, os consumidores da terceira idade começam a despertar a atenção de empresas, que garimpam oportunidades geradas pelo envelhecimento do país. Empreendedores locais e multinacionais traçam estratégias para atrair esse perfil que, ao contrário do que se pensa, não é nada conservador em seus hábitos de consumo.

o que constatou a rede de drogarias Unifar, em Belo Horizonte, que encomendou uma pesquisa e verificou que 65% dos clientes têm mais de 51 anos.

"Os idosos têm mais tempo e menos pressa. Fazem questão de realizar as compras pessoalmente ou por telefone, e não pela internet, por priorizarem o relacionamento humano. Por isso, gostam de conversar e contar sobre as experiências que tiveram durante a vida. Nos treinamentos, os funcionários são orientados a ouvir e entenderem as necessidades específicas desse público", disse o gestor de Marketing da Unifar, Sérgio Martins.

A constatação do perfil da clientela levou a rede de drogarias a adotar um atendimento exclusivo aos maiores de 60. A estratégia deu certo e se converteu em lucro. De janeiro a setembro, a Unifar registrou aumento de 5% nas vendas. "Isso é muito para um mercado que está cada vez mais competitivo e agressivo, com grandes redes chegando a cada dia. A nossa empresa é pequena, o nosso diferencial é o relacionamento que as grandes redes não conseguem oferecer", disse.

Diferencial - Com 36 anos de mercado como distribuidora de medicamentos, a rede de drogaria Unifar passou a trabalhar no varejo em 1998 e hoje possui duas unidades na região Centro-Sul da Capital, com previsão de inaugurar a terceira filial até o fim do ano na área hospitalar. De olho no mercado de idosos, a empresa aposta no serviço de delivery com hora marcada. "A pontualidade na entrega de medicamento é que fideliza o idoso. Investindo nisso, a gente foge da guerra sangrenta de preços."

O varejo também vem descobrindo, entre os idosos, um mercado atraente.  o que constata o empresário João Maurício Morais, sócio da Royal Empório, que já percebeu o "peso" da população da terceira idade no faturamento da loja. Instalado no Mercado do Cruzeiro há mais de 37 anos, o armazém investe na adaptação para atender melhor a esse público que representa mais de 60% dos clientes do estabelecimento.

A venda de produtos a granel e em menores quantidades são os itens mais procurados. "As prateleiras foram rebaixadas, os produtos a granel estão em locais mais visíveis e os alimentos com menor quantidade de sal, sem glúten e leite desnatado ou sem lactose, por exemplo, são destaques devido a grande preocupação com a saúde e pensando na restrição alimentar", disse o empresário.

O poder de consumo do idoso também já é evidente no setor do turismo. Segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav), 20% da receita gerada vêm da terceira idade. De olho nesse "filão", operadoras de turismo como a CVC, controlada pelo fundo de private equity americano Carlyle, calcula que 30% das vendas dos pacotes da empresa são para clientes acima de 60 anos. "A melhor idade é um segmento que tem o hábito de voltar para o mesmo destino e hotel através da mesma agência e operadora", afirmou o supervisor técnico da Abav, Sylvio Campos.

Perfil - Especialista em varejo e diretor de planejamento da B1 Comunicação e Marketing, Bira Miranda lembra que mesmo com todas essas características, os consumidores da terceira idade ainda passam despercebidos diante dos olhos do mercado. O Brasil conta hoje com 19 milhões de idosos, faixa etária que mais cresce no país e, segundo as projeções do IBGE, deverá chegar a 40 milhões em 2030.

"O poder de consumo está nas mãos da terceira idade, que movimentam R$ 7,5 bilhões por mês. O que falta é as empresas começarem a planejar melhor as ações para atender a esse público. Há de se acelerar este processo e qualificar melhor os serviços, produtos e atendimento, indo muito além das filas preferenciais", analisou o especialista.

Um levantamento feito pela Enfoque Pesquisa, empresa especializada em pesquisas de marketing, constatou que muitas pessoas com mais de 55 anos ainda querem aproveitar a vida, mas representam um mercado ainda pouco explorado, especialmente do ponto de vista do marketing. Isto se deve, segundo a empresa, ao fato de que a sociedade atual prefere cultuar a juventude.

A empresa constatou, em seu levantamento, que há três diferentes segmentos comportamentais de "idosos". Um deles é o que denominamos "Celebrators", de pessoas que, em vez de se entregarem ao "cansaço da vida" ou de negarem que entraram num novo estágio, descobriram que ainda há muita vida para viver. Este grupo consome mais lazer, moda e alimentação.

A pesquisa mostra que este público preocupa-se em manter a vitalidade física para que o corpo possa acompanhar o seu intenso ritmo mental. "Com isso, muitas empresas, que antes não focalizavam este segmento, podem definir de maneira correta quais são os produtos que seriam consumidos por este target, aumentando o índice de efetividade de suas campanhas e serviços", diz a presidente da Enfoque, Zilda Knoploch.


Veículo: Diário do Comércio - MG


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