Nesta quinta-feira foi lançado o Momento Itália-Brasil na embaixada italiana em São Paulo. Com a presença do governador do estado, Geraldo Alckmin, e do secretário da Cultura, Andrea Matarazzo, espera-se que o evento estimule o intercâmbio cultural e econômico entre os dois países. No entanto, especialistas do setor de comércio exterior avaliam que não se pode esperar muito de um país que é considerado um dos elos mais vulneráveis da já cambaleante economia europeia.
De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a nação dirigida por Silvio Berlusconi beira a estagnação. Giovanni Sacchi, diretor do Instituto Italiano para o Comércio Exterior, concorda com o fraco desempenho econômico de seu país, mas conta com o poder de compra dos emergentes para continuar a expansão do setor exportador. "O mercado brasileiro ainda não é completamente explorado. A indústria italiana tem vocação às exportações. Indústria que exporta 80%, 90% de sua produção. E que agora olha para o Brasil no setor de investimento, com presença direta no País", diz.
De acordo com o diretor, a expansão em outros mercados é determinante para que as perspectivas para o setor industrial italiano se mantenham positivas. "As empresas exportadoras são aquelas que mais estão ganhando, e são aquelas que olharam para os BRICS. Elas estão mantendo esta situação. Acho que essa perspectiva, devido ao mercado brasileiro, continuará boa", projeta. Segundo Sacchi, a metas são ambiciosas para a corrente comercial entre os dois países. "Em 2005 tínhamos US$ 5 bilhões em intercâmbio. Este ano devemos fechar em US$ 11 bilhões, e nossa estimativa para 2015 é de que alcance US$ 15 bilhões", afirma.
Em 2010, a corrente de comércio do país mediterrâneo alcançou US$ 1,341 trilhão, 168% acima da estimativa deste ano para a corrente brasileira, cerca de US$ 500 bilhões. Até agosto, foram exportados pelo Brasil US$ 3,631 bilhões tendo a Itália como destino, enquanto US$ 4,087 vieram no sentido contrário.
O governador Geraldo Alckmin (PSDB) anima-se ao comentar as relações comerciais entre os dois países. "Percebemos um novo movimento de investimentos italianos no Brasil, especialmente em São Paulo", diz com um otimismo que apenas os políticos do alto escalão possuem. Segundo o governador, os setores aeroespacial, automotivo, e de moda e design podem se beneficiar com a aproximação.
Crise
No entanto, Roberto Segatto, presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), diz que o interesse italiano é vender, não comprar. "Ano passado exportamos menos que importamos. Este ano fecharemos com US$ 5 bilhões [exportados] e eles com US$ 6 bilhões. Não vejo muita ação da parte deles em fechar negócios aqui", afirma Segatto.
Segundo o presidente da Abracex, os italianos passam por um momento delicado. A crise afeta a cadeia produtiva do país, que além de um problema econômico, tem discussões políticas acaloradas devido ao seu primeiro ministro. "De modo geral, eles não acreditam que a crise seja grave. Mas o industrial sente o problema", comenta.
Bruno Aloi, responsável pela Promos no Brasil, agência de promoção de internacionalização da Câmara de Comércio de Milão, discorda da conclusão de Segatto. De acordo com o executivo, a crise que cria turbulências em todo o sistema financeiro mundial, não afeta a Itália como diria "a mídia". "Apesar da crise, a Itália aumentou sua exportação porque possui um setor industrial muito forte, formado por pequenas e médias empresas", comenta.
No entanto, Aloi compartilha do discurso de que o Brasil é mais interessante para exportar do que para importar. "A Itália pode contribuir muito para o Brasil, trazendo produtos para cá e com aporte de tecnologia", afirma Aloi. "No sentido oposto, é a oportunidade do Brasil investir na Itália. Está mais fácil para brasileiros adquirirem empresas, de olho na tecnologia", complementa.
O país é tido como o próximo a ter contas investigadas por detetives do mercado financeiro. A crise, evidenciada pela iminência do calote grego, tende a migrar para outros países mediterrâneos após uma definição para o problema em Atenas. Roma, Madrid e Lisboa são as próximas capitais da lista, indica Reginaldo Nogueira, coordenador do curso de Relações Internacionais do Ibmec. "O problema é que existe uma dívida muito grande. A Itália é o grande mercado da dívida na Europa. No entanto, a situação fiscal não é tão ruim quanto a de outros países".
Veículo: DCI