Os preços dos alimentos devem permanecer elevados e voláteis ao longo dos próximos anos por causa da crescente demanda, do impacto cada vez mais frequente de eventos climáticos extremos e da indústria de biocombustível, de acordo com um relatório das agências da Nações Unidas para Agricultura.
A alta dos alimentos e a crescente volatilidade dos preços se tornaram um importante problema político e econômico, especialmente nos países em desenvolvimento. O salto nos preços dos grãos e de outros alimentos básicos levou a distúrbios durante a crise alimentar de 2007-08 e mais recentemente os bancos centrais asiáticos apertaram a política monetária para combater a alta dos alimentos.
"A volatilidade nos preços está aqui para ficar", disseram as agências da ONU em seu principal relatório anual: "O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo". O relatório é publicado conjuntamente pela Agência para Agricultura e Alimentos (FAO), pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura (Ifad, na sigla em inglês) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM). "Pequenos, os países dependentes de importações, particularmente na África, estão especialmente em risco", alertaram.
Tradicionalmente, a ONU usa esse relatório para fornecer uma estimativa do número de famintos crônicos no mundo. Entretanto, as agências voltadas para a agricultura disseram que não será capaz de publicar o número no relatório de 2011, por estarem revisando a metodologia para medir a fome crônica. A FAO, o Ifad e o PAM disseram que sua melhor estimativa para o número de pessoas com fome no mundo manteve-se em 925 milhões para 2010.
O relatório alerta que os preços subiram em função do rápido crescimento da demanda por conta do desenvolvimento econômico, do crescimento da população e do aumento do uso de biocombustíveis. Ao mesmo tempo, uma "ligação mais forte entre os mercados agrícola e de energia, bem como a maior frequência de choques climáticos" estavam impulsionado a volatilidade dos preços.
A ONU disse que a especulação financeira também pode aumentar a volatilidade nos preços, embora tenha advertido que a ligação entre investimento financeiro e preços foi "uma questão muito debatida, mas sem consenso claro". Com os legisladores culpando-os pelos altos preços, a União Europeia e os Estados Unidos anunciaram restrições às posições assumidas por fundos de hedge e outros investidores grandes nos mercados de commodities agrícolas.
O índice de preços de alimentos da FAO, formado por cesta de commodities como trigo, milho, arroz, açúcar, carne e óleo vegetal, subiu 15% em relação ao ano passado. O índice saltou quase 150% na última década.
A FAO, o Ifad e o PAM alertaram que as restrições às exportações também levaram à escassez de alimentos, exacerbando a volatilidade dos preços. Enquanto "alguns grande países foram capazes de isolar seus mercados da crise por meio de políticas comerciais restritivas", numa clara referência à proibição de exportações impostas por Rússia, Índia, China e Argentina, entre outros, isso levou ao "aumento de preços e à volatilidade nos mercados internacionais".
Países pobres, principalmente na África, sofreram com a crise. Burkina Fasso e Etiópia, por exemplo, tiveram aumentos da desnutrição e pediram mais assistência alimentar. Já países como China e Índia se beneficiaram das restrições às exportações para aliviar a escassez local de alimentos, enquanto outros, como Tailândia e Vietnã, se beneficiaram da alta dos preços dos ocasionada por essas medidas.
Veículo: Valor Econômico