Cuidadosas, mas ainda otimistas. Assim estão as indústrias brasileiras de algumas das mais importantes cadeias produtivas do País e que foram ouvidas pelo DCI, diante de um cenário mais sombrio da economia internacional em 2012. Nem mesmo os investimentos serão brecados, mas devem seguir num ritmo menos acelerado. Uma variável importante para a tomada de decisão é o prazo de maturidade desses aportes: os de mais longo prazo não deverão ser afetados, diferentemente dos recursos que serão destacados para o ano que vem e que fazem parte do dia a dia das operações das companhias; nesse horizonte mais imediato, a tendência é de pôr o pé no freio com intensidade menos intensa se comparada à forma como foi feito em 2009 na crise.
Um exemplo de empresa que olha para o futuro de duas formas é a Braskem, a maior petroquímica das Américas. De acordo com o vice-presidente de Planejamento da empresa, Fernando Musa, a companhia, que tem o controle dividido entre a Odebrecht e a Petrobras, traçou uma perspectiva para 2012 com o cenário verificado entre os meses de julho e agosto, época em que formatou a base das análises para 2012.
Nesse sentido, disse Musa, o planejamento para o ano que vem pode ser alterado, dada a turbulência pela qual passa o mundo neste momento, mas sem data para que uma revisão seja efetivamente considerada. Entre as dúvidas que margeiam a tomada de decisão da empresa está o impacto que essas variáveis-chave terão sobre a economia mundial. Por enquanto, disse ele, a Braskem mantém o conjunto de premissas que estava trabalhando antes da recente turbulência. A taxa do dólar na faixa de R$ 1,62 a R$ 1, 65 na média do ano. Por sua vez, a inflação estimada deverá ser menor que em 2011 e o crescimento do PIB em linha com o que esperam para 2011, algo entre 3,7% e 3,8%.
Para longo prazo, a empresa mantém os planos para um cenário de 20 a 30 anos. É neste horizonte que a companhia trabalha para as decisões de investimentos de maior volume e prazo de maturação. "Não vemos nada diferente do que as consultorias projetam para longo prazo. Em algum momento a economia mundial irá retomar a rota de crescimento e ficar menos volátil do que o momento que vivemos agora", comentou Musa.
Na análise do presidente da Abiplast, José Ricardo Roriz Coelho, o momento é de dificuldades crescentes para as exportações do setor. "Por mais que o País esteja imune a essa crise internacional, haverá consequências para a economia brasileira. Como o setor de plástico está presente em quase todos os segmentos de atividade e na indústria de transformação, ele também será afetado. Primeiramente, teremos dificuldade de exportar, pela baixa competitividade do Brasil e redução dos mercados externos. Por isso, conforme o FMI, o crescimento de nosso PIB poder ser menor."
De acordo com o presidente da Delphi para América do Sul, Gábor Deák, a variação cambial "preocupa", uma vez que certos produtos que ainda são importados (o Brasil ainda não é autossuficiente em alguns segmentos) oscilam muito de preço. O executivo afirma que a empresa não prevê interrupção de investimentos, que giram em torno de R$ 40 milhões ao ano, e os quais se concentram majoritariamente no aumento da capacidade instalada e no desenvolvimento de novos produtos. Sobre o momento presente, ele afirmou que a empresa está avaliando a situação e, até agora, não acredita que questões como o IPI possam afetar de maneira negativa o mercado interno no próximo ano.
No mesmo sentido da Delphi, outra empresa do setor automotivo, a Truckvan, de implementos rodoviários, mantém seus planos para o ano de 2012, inclusive o aporte de R$ 10 milhões para a abertura de uma nova fábrica em Itaquaquecetuba (SP). Para o diretor da companhia, Alcides Braga, os importados podem afetar um pouco o mercado interno, mas a crise que tem se espalhado pelo mundo parece não ter chegado no setor em que atua. "Eu não creio que o mercado interno vá sofrer tanto impacto da crise", afirmou. Ele ressaltou que as companhias do setor, que atuam com a linha pesada (não é o caso da Truckvan), devem sofrer mais impacto em razão do aperto da liberação do Financiamento de Máquinas e Equipamentos (Finame).
Já no segmento de material de construção, o presidente da Eternit, Élio A. Martins, afirmou que não irá puxar o freio de mão diante do cenário macroeconômico. Segundo ele, o mercado de materiais de construção está "animado". Isso porque o setor espera crescer entre 5% e 6% em 2011, mesmo com a crise global. Só no site da unidade de Pecém (CE), a empresa mantém os seus investimentos na ordem de R$ 18,5 milhões para aumentar a capacidade de produção em até 60%. Em Anápolis (GO), a Eternit constrói uma nova planta para iniciar um projeto de produção de mármore sintético.
Martins salienta que continua aberto às compras para atingir a meta de se tornar a maior empresa diversificada de materiais de construção. O empresário, porém, não cita nomes. Para 2012, a empresa divisa demandas consideráveis, que devem se manter como as de 2011. No entanto, a empresa somente deve esperar um pouco para verificar a velocidade dos investimentos, que continuam os mesmos que os anunciados antes da crise. "A indústria da construção civil não tem perdas consideráveis mesmo em períodos de crise", completa.
Moderação
Já o diretor-comercial da Noma do Brasil, Kimio Mori, considera que é um tanto prematuro traçar estratégias para combater a crise, uma vez que a empresa ainda não sentiu efeitos da turbulência mundial. As expectativas da companhia do setor de implementos rodoviários, até o momento, são de manter o plano de investimento e crescimento.
Esse é o mesmo sentimento do presidente da Wobben-Enercon, empresa fabricante de equipamentos eólicos. De acordo com Pedro Ângelo Vial, a empresa trabalha com a perspectiva de PIB na casa de 3%, inflação de 7% e câmbio de R$ 1,80.
Veículo: DCI