Crise na Europa já se reflete nas exportações brasileiras

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A crise na Europa, principal destino das exportações de celulose brasileira, já se refletiu nos resultados da indústria brasileira, que permaneceu estagnada em 2011. Ao encerrar-se o ano, as exportações chegarão a 8,4 milhões de toneladas, 0,3% acima das de 2010. A produção da pasta deve totalizar 14,2 milhões de toneladas, mantendo o mesmo patamar obtido em 2010, conforme dados divulgados ontem, em São Paulo, pela Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa).

A Europa, que já respondeu por 54% das compras do produto brasileiro há dois anos, caiu para 46% neste ano. Por outro lado, a China, que beirava 16% há dois anos, em 2011 vai responder por 25% do total exportado, tornando-se, assim, o maior cliente único do Brasil. A América do Norte garantiu uma fatia de 19%, mas os vizinhos da América Latina só participam com 1% das compras.

"O Brasil vem sofrendo com a queda das compras européias, mas, por outro lado, o País está se consolidando como um grande fornecedor para a China", diz a presidente-executiva da Bracelpa, Elizabeth de Carvalhaes. Ela acrescenta que essa tendência deve permanecer, uma vez que os chineses não são autossuficientes na produção de celulose e nem devem ser, frente às dificuldades de clima e terras na região.

Para a executiva, mesmo sem crescimento, os dados foram considerados positivos, pois o setor manteve o patamar de 2010, considerado um bom desempenho. "Mas o cenário da economia mundial é preocupante. Por isso, no curto prazo, as empresas de celulose e papel, influenciadas pela instabilidade nos principais mercados mundiais, adotarão medidas austeras para contenção de caixa", disse ela, acrescentando que os investimentos, embora postergados, por enquanto não foram suspensos.

Embora as perspectivas no curto prazo sejam menos otimistas, no médio e longo prazos a expectativa do setor de celulose e papel e avançar nos planos de expansão da base florestal. A meta, segundo a Bracelpa, é dobrar a área plantada, passando dos atuais 2,1 milhões de hectares para 4,5 milhões até 2018. O grande entrava hoje para essa expansão é a restrição de compra de terras por estrangeiros. "Muitas empresas multinacionais querem investir no País, mas se não puderem vão direcionar seu capital para outros países. Por isso, é preciso diferenciar o capital produtivo do capital especulativo", afirma.

Elizabeth afirma que não há possibilidade de haver superoferta de celulose, uma vez que os dados da própria Organização das Nações Unidas (ONU) indicam que a população mundial, que já chegou à marca de 7 bilhões de habitantes, deve chegar a 8 bilhões até 2025. "A demanda, especialmente de papel tissue (utilizado em papel higiênico e lenços) e papel de imprimir e escrever, deve continua crescendo", afirma.

O saldo comercial brasileiro no segmento de celulose deverá crescer 5% neste ano em relação a 2010, para US$ 4,62 bilhões, segundo estimativas da Bracelpa. O resultado terá origem no incremento de 5% das exportações, para US$ 5 bilhões. As importações, por sua vez, devem crescer 5,6%, para US$ 380 milhões.

O volume exportado previsto é de 8,4 milhões de toneladas em 2011, com alta de 0,3% ante o ano passado. As importações devem encolher 2,9%, para 400 mil toneladas. A produção doméstica deve crescer 0,1%, para 14,18 milhões de toneladas. Como consequência, o consumo aparente, indicador que dimensiona a demanda interna por celulose, deve diminuir 0,3% no ano, para 6,18 milhões de toneladas.

Papel

A produção de papel chegará a 9,8 milhões de toneladas, alta de 0,3% em relação a 2010. As importações, entretanto, subiram 1,2% chegando a 1,52 milhão. A presidente da Bracelpa afirma que a entidade tem trabalhado junto às autoridades para coibir as fraudes em relação ao papel imune (papel que entra no País com isenção de imposto para uso em livros e cadernos).

A presidente da Bracelpa disse que o setor de celulose recebeu bem o novo Código Florestal aprovado pelo Senado, e, em processo de análise pela Câmara, foi bem recebido pela indústria de papel e celulose. Segundo ela, os termos permitirão ao setor cumprir os planos de investir aproximadamente US$ 20 bilhões ao longo dos próximos anos. "Esses investimentos necessitavam de segurança jurídica", afirmou.

Resolvida a situação do Código Florestal, o tema que deve voltar às discussões é a decisão do governo brasileiro de restringir o investimento de estrangeiros em terras no território brasileiro.


Veículo: DCI


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