Serviços vão manter pressão sobre a inflação

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A inflação vai perder terreno em 2012, mas provavelmente não a ponto de atingir o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, em grande medida por conta da resistência dos preços de serviços. Formado por itens como aluguel, empregado doméstico e mensalidades escolares, esse grupo subiu 9% em 2011, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15), devendo avançar de 7% a 8% no ano que vem, uma alta ainda salgada. Com isso, o IPCA deve sair da casa de 6,5% neste ano para 5% a 5,5% em 2012, contando com a ajuda dos preços administrados e, em menor medida, dos alimentos.

O mercado de trabalho ainda aquecido e o aumento de mais de 14% do salário mínimo deverão manter os serviços sob pressão, diz o economista Fabio Romão, da LCA Consultores. O item empregado doméstico é fortemente influenciado pelo reajuste do mínimo. O novo valor do piso, de R$ 625, entra em vigor já em janeiro, devendo injetar quase R$ 60 bilhões na economia. Nesse cenário, a demanda por serviços deve seguir forte, abrindo espaço para reajustes ainda significativos. Ele acredita que o grupo vai subir 8,2% em 2012, mostrando uma pequena desaceleração em relação aos 9% deste ano.

O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, destaca a rigidez do grupo de serviços, apostando que eles terão alta de no mínimo 7% em 2012. Se houver uma retomada mais firme da atividade, esses preços "podem subir 8% no ano que vem e mais de 10% em 2013". De qualquer modo, ele vê motivos para um aumento mais fraco neste ano: "O mercado de trabalho já está de lado, principalmente na indústria, e o efeito da indexação será menor, com os IGPs ficando na casa dos 5% [em 2011, subiram mais de 11%]". "Fica difícil imaginar os serviços estourando os dois dígitos em 2012."

O economista Fabio Ramos, da Quest Investimentos, também acredita em algum arrefecimento dos preços de serviços, mas nada muito drástico. Para ele, o grupo terá alta de 7,5% a 8% no ano que vem, num cenário em que a taxa de desemprego deverá registrar uma leve aumento, passando de 6% neste ano para 6,2% no ano que vem, podendo atingir 6,5%. "Mesmo subindo menos que em 2011, os serviços ainda vão ser a principal fonte de pressão sobre a inflação."

Um ponto favorável, que pode dar algum pequeno alívio à inflação, é que os serviços deverão perder peso a partir de janeiro, com a nova ponderação do IPCA feita com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009. Pelos cálculos de Romão, o peso dos serviços vai cair de 24,8% para 23,4%, numa conta que já considera a variação dos preços entre o começo de 2009 e o fim deste ano. Isso é importante porque as informações anunciadas no fim do mês passado pelo IBGE mostram o quadro que vigoraria para o IPCA em janeiro de 2009, mas a evolução dos preços de lá para cá muda a fatia de cada item.

Os preços administrados, por sua vez, vão contribuir para uma inflação menos pressionada em 2012, como destaca a economista Tatiana Pinheiro, do Santander. Neste ano, as tarifas de ônibus urbano tiveram altas expressivas, porque várias capitais promoveram reajustes elevados. No ano que vem, contudo, com as eleições municipais, é muito provável que cidades importantes como São Paulo não aumentem os preços das passagens, diz Tatiana. Ela também lembra que algumas distribuidoras de energia elétrica, como a Eletropaulo, terão um processo de revisão tarifária em 2012, o que, segundo vários analistas, deve levar à redução das tarifas. Tatiana acredita que os administrados devem subir 3,7%, "no máximo 4%", no ano que vem, bem abaixo dos 6,4% deste ano. Para o IPCA, ela projeta uma alta de 5,5% em 2012, contando com um aumento de 8% dos preços de serviços.

Ramos também vê nos preços administrados um pouco menos de pressão em 2012, mas acredita em um cenário menos benigno que Tatiana. Ele projeta alta de 4,4%. Para o IPCA, estima variação de 5,3% em 2012.

A perda de fôlego dos IGPs também deve ajudar os preços administrados em 2012. Embora as tarifas públicas não sejam mais corrigidas automaticamente pelos IGPs, a inflação passada ainda tem peso na definição desse grupo.

Por fim, os alimentos também devem contribuir para uma inflação menos pressionada. Romão acredita que o grupo vai subir 5% em 2012, menos que os 6,8% estimados para este ano. O comportamento mais favorável das commodities colabora. Ele projeta um IPCA de 4,8%, apostando em alta de 3,9% para os preços administrados. Ramos e Tatiana são um pouco mais conservadores ao projetar a variação de alimentos, apostando em aumento de 6% em 2012, o que ajuda a entender por que esperam um IPCA mais alto que Romão.


Veículo: Valor Econômico


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