Juro do cartão de crédito chega a 323% por ano

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Estudo mostra que juro do cartão subiu 85,2 pontos porcentuais, enquanto a taxa básica da economia caiu 2,5 pontos


Pagar apenas parte da fatura do cartão de crédito e acionar o gatilho do juro rotativo é um risco cada vez maior para o consumidor. Estudo da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste) mostra que os juros anuais médios da modalidade subiram de 237,9% em janeiro para 323,14% em junho. No mesmo período, a Selic, a taxa básica de juros, caiu de 11% para 8,5% - sem contar o corte da última reunião do Copom, para 8% ao ano.

Segundo a pesquisa, o juro do cartão de crédito no Brasil é maior que em outros seis países da América Latina. O segundo colocado, o Peru, tem taxa de 55% ao ano, um sexto da brasileira, seguido pelo Chile (54,24%) e Argentina (50%). Na outra ponta do ranking está a Colômbia, com juro anual do cartão de crédito em 29,23%.

"Não há uma explicação econômica para isso. A partir do momento que a Selic cai, os juros ao consumidor deveriam acompanhar essa trajetória", afirma Hessia Costilla, economista da Proteste. O pagamento do chamado juro rotativo ocorre quando o consumidor não quita a totalidade da fatura. Depois, é como se o consumidor refinanciasse o restante da dívida, com a desvantagem de pagar juros altos por isso.

Falta de concorrência e de educação financeira são os principais fatores que provocam essa situação, avalia o professor da escola de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana. "Há poucos bancos e pouca informação. Ninguém sabe o que significa pagar juros de mais de 100% ao ano", diz.

A Proteste pesquisou taxas de bancos (públicos e privados) e financeiras: Banco do Brasil, Banrisul, BMG, Bradesco, BV Financeira, Caixa, Citibank, Itaú Unibanco, HSBC, Ibi, Losango, Panamericano e Santander. Primeiro, foram levantados os juros das instituições pela internet. Depois, o órgão foi às agências para saber quanto, de fato, é cobrado do consumidor. Procurados, Banco do Brasil e Bradesco disseram que não comentariam a pesquisa. HSBC e Ibi informaram que não tinham porta-vozes disponíveis. As demais não responderam o pedido de entrevista.

Custo. O cheque especial é outra modalidade com custo elevado ao consumidor. Dados do Banco Central mostram que o juro médio anual da operação caiu apenas 3,82 pontos porcentuais em 13 anos. De maio de 1999 até maio deste ano, caiu de 173,27% para 169,45% ao ano. Nesse período, a Selic caiu 21 pontos porcentuais - de 29,5% para 8,5% ao ano.

Os especialistas recomendam que os consumidores evitem o uso do juro rotativo ou cheque especial. "A pior coisa que o consumidor pode fazer é ficar devendo nessas duas modalidades. É preferível pedir um empréstimo, por exemplo", afirma Dana.



Veículo: O Estado de S.Paulo


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