Para empresários, redução dos juros sustenta retomada

Leia em 7min 10s

Executivos das maiores empresas do país estão confiantes na retomada da economia em 2013. O longo ciclo de redução da taxa básica de juros é considerado pela maior parte deles como a medida mais importante e emblemática tomada pelo governo federal. Seu impacto sustentará a recuperação, seja como indutor da demanda ou como fator de redução do custo de capital, afirmaram empresários que participaram ontem da cerimônia de premiação do anuário "Valor 1000".

"A queda dos juros seguramente vai estimular o consumo e a taxa de câmbio estabilizada permite maior previsibilidade no negócio", diz Paulo Cesar Teixeira, diretor-geral da Telefônica/Vivo. "Ela favorece a Ouro Verde, que é intensiva em capital, dando maior competitividade para nossas operações", diz Karlis Kruklis, que comanda a empresa de locação de veículos, equipamentos e serviços.
Assuntos relacionados

A maioria das grandes empresas vai manter seus investimentos para 2013 e os executivos apontam o que lhes dá perspectivas otimistas, além da redução dos juros: as medidas tributárias que reduziram o custo do investimento, o plano de concessões de rodovias e ferrovias e a abertura, pelo governo, de maior espaço para o setor privado em outros segmentos da infraestrutura.

A expansão da rede de fibra óptica e implantação da quarta geração de telefonia celular (4G) não só garantem os investimentos da Telefônica/Vivo como o de seus fornecedores, como a Furukawa, que para atender a demanda de novas redes, afirma Foad Shaikhzadeh, presidente da companhia, vai ampliar a capacidade de produção. A infraestrutura sustenta também projetos de empresas como State Grid, de energia, Petrobras e Sabesp.

Ricardo Mendes da Silva, presidente-executivo da farmacêutica Aché, diz que a desaceleração foi muito suave para o setor em 2012. Por isso, a companhia não mudou os planos para 2013. "Mantivemos os investimentos programados em pesquisa e desenvolvimento e em ampliação da capacidade de produção, com aquisição de novos equipamentos".

Após a desaceleração de 2012, a empresa de propriedades comerciais BR Properties espera um 2013 positivo e avalia investimentos de R$ 3 bilhões em novos negócios. Para Claudio Bruni, presidente, empecilhos como a limitação de crédito para pessoas físicas "são coisas do passado". O mercado imobiliário, diz, tem espaço para crescer.


Queda de juros reforça aposta em retomada do crescimento



As maiores e melhores companhias do país estão otimistas e esperam a retomada da economia no próximo ano. Um dos principais pilares da confiança é a recente e contínua queda na taxa básica de juros. Empresários presentes ontem à premiação do anuário "Valor 1000" apontam o impacto positivo dos juros reduzidos na economia doméstica, seja como indutor da demanda, seja como uma medida para reduzir o custo de capital, barateando o custo do investimento.

Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração e fundador da Cosan, vê boas perspectivas. "Nossa decisão é investir ainda mais no país e isso é impulsionado pela queda da taxa de juros", diz o empresário. Segundo Mello, o grupo Cosan deverá manter planos de expansão em 2013, mesmo com cenário de desaceleração da economia doméstica no primeiro semestre.

"A queda na taxa de juros seguramente vai estimular o consumo e a taxa de câmbio estabilizada permite maior previsibilidade no negócio", diz Paulo Cesar Teixeira, diretor-geral da Telefônica/Vivo. As medidas de estímulo adotadas pelo governo, diz Teixeira, já começaram a beneficiar o setor.

Outro segmento que já sentiu o efeito das medidas do governo federal foi o varejo. O presidente das Lojas Cem, Cícero Dalla Vecchia, lembra que no comércio de eletrodomésticos e móveis, segmento no qual a empresa atua, as vendas a prazo representam quase 70% do total. Com a redução dos juros, o consumidor pode direcionar a economia financeira para a compra de mais produtos. Vecchia destaca também a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca e dos móveis. O benefício com o imposto, diz, contribuiu em boa parte para o crescimento da empresa.

Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a economia brasileira já traz sinais claros de aquecimento, como o resultado das vendas do varejo em junho e os dados mais recentes de criação de emprego. O ministro reiterou sua confiança de que o país estará crescendo cerca de 4% ao ano no último trimestre de 2012. Para a indústria, que passou por um período de desaceleração, Mantega vê um momento de "virada para o crescimento", com expansão moderada em junho e um ajuste de estoques, que deve permitir o aumento da produção nos próximos meses para atender às encomendas de fim de ano.

Os juros reais, hoje em 2%, e o câmbio em torno de R$ 2 reduzem o custo do investimento e "dão competitividade às exportações brasileiras", ressaltou o ministro.

José Isaac Peres, presidente da Multiplan, lembra que a queda dos juros tem impacto positivo não só para o consumo como também para investimentos. "As medidas não afetam a companhia, mas indiretamente colhemos os bons frutos das políticas de estabilização, da expansão do consumo e da redução dos juros." Otimista, a construtora prevê continuidade no programa de investimentos para 2013. Isso inclui a inauguração de um shopping em Maceió, a expansão do Barrashopping no Rio e a conclusão de duas torres no Morumbi Corporate, em São Paulo.

Além da redução da Selic, executivos de empresas também ressaltam como medida importante o corte nos juros cobrados em linhas específicas de crédito. Karlis Kruklis, presidente da Ouro Verde, empresa de locação de veículos, equipamentos e serviços, ressalta três iniciativas importantes do governo. A primeira, diz, foi a ampliação de prazos e redução das taxas de juros do BNDES para o financiamento de máquinas e equipamentos; depois o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), e, por fim, a redução do IPI para aquisição de veículos.

Francisco Bosco, diretor comercial e de operações da fabricante de elevadores Atlas Schindler, diz que a empresa vai se beneficiar dos incentivos do governo. "Medidas que estimulam o setor de construção, como queda na taxa de juros, afetam indiretamente o nosso segmento." Para 2013, a empresa enxerga cenário de continuidade de investimentos. "Estamos com fortes investimentos na renovação de nosso parque industrial, desenvolvimento de novos produtos e capacitação dos colaboradores", diz Bosco, sem citar valores.

Os estímulos do governo também devem fazer diferença no setor hospitalar, diz Irlau Machado Filho, CEO do Hospital A. C. Camargo. Para ele, o câmbio desvalorizado está ajudando a baratear os custos de importação, enquanto a queda da Selic ativa a economia. O hospital deve investir R$ 60 milhões em 2013, mesmo montante estimado para este ano. Em 2012, a arrecadação total do hospital deve bater, segundo o executivo, R$ 620 milhões, valor 22% maior que o do ano passado. Machado Filho projeta um faturamento cerca de 20% maior no ano que vem.

O diretor-presidente da Cinpal, Vitor Luiz Taddeo Mammana, tem uma visão mais moderada. "A queda de juros e o câmbio mais desvalorizado estão ajudando meu setor e minha empresa, mas não o suficiente." Mesmo assim, o executivo diz que a empresa, do ramo de veículos e peças, vai investir em produtos como fórmula para conseguir bons resultados em 2013. Segundo Mammana, contratações e preços irão depender do câmbio.

O presidente da Bic Amazônia, Horácio Balseiro, diz que, como a empresa é capitalizada, a queda de juros e a taxa de câmbio mais desvalorizada não afetam a empresa diretamente. "Mesmo assim, é uma boa medida, que claramente ajuda os investimentos."

A Mili, especializada em papel sanitário, passou longe de ser uma das empresas mais impactadas pela desaceleração no primeiro semestre. A empresa previa crescimento da receita em 12% este ano, mas hoje já trabalha com projeção de 17% a 18%, mesma taxa de crescimento da última década, segundo Valdemar Lissoni, presidente da empresa. "Os primeiros seis meses do ano não foram excelentes, mas agora já há uma retomada." O executivo está otimista. "Em 2013, vamos crescer por volta de 17% também."

A Duratex diz que seguirá seus planos de investimento para o ano que vem sem grandes mudanças, mesmo sentindo um enfraquecimento da economia em 2012. "Nossos planos são de três a cinco anos. Se o ano não for como esperado, não é um desastre", afirma Raul Penteado, diretor-executivo da Deca, divisão da Duratex. O executivo diz que já viu sinais de recuperação aparecendo em julho, mas que o resto do ano segue "incerto".

A dúvida sobre a retomada também está presente na Ambev. O segundo semestre deste ano é decisivo para a companhia, diz Ricardo Rolim, diretor de relações socioambientais. "Vamos começar a ver se o país está respondendo [aos estímulos à economia]", afirmou.


Veículo: Valor Econômico




Veja também

Para desenvolvimentistas, novo mix de câmbio e juro precisa ser preservado

O Banco Central e a Fazenda agiram bem ao aproveitar a piora da crise global para corrigir as distorções n...

Veja mais
Preço de exportação cai com câmbio, briga por mercado e desoneração

O arrefecimento da demanda externa, a desoneração da folha de pagamentos e o efeito da desvalorizaç...

Veja mais
Alimentos sobem menos e ajudam a segurar a inflação na terceira prévia do mês

Principal contribuição para o decréscimo do IPC-S foi verificada no grupo alimentação...

Veja mais
Alta de preços no atacado deve ser minimizada no varejo

As taxas de inflação têm-se mostrado mais pressionadas nos últimos meses. O principal compone...

Veja mais
Prévia da inflação sobe, puxada pelo setor de serviços

Inflação medida pelo IPCA-15 em agosto foi de 0,39% e economista já aposta em apenas um corte da ta...

Veja mais
Inadimplência menor deve levar clientes de volta às compras

Os sucessivos recuos mensais dos índices de inadimplência mostram que o consumidor brasileiro recupera o f&...

Veja mais
Fim de parcerias do Itaú com o varejo

As parcerias entre o varejo e instituições financeiras estão sob ameaça da conjuntura econ&o...

Veja mais
Brasil se afasta de países avançados, diz estudo

O Brasil entrou num processo de desindustrialização precoce e de distanciamento em relação &...

Veja mais
Verba para investir na indústria cai 18,9%

Dados do BNDES apontam redução nos desembolsos no 1º semestre, em comparação com igual ...

Veja mais