Alimentos pressionam e analistas estimam IPCA entre 0,38% e 0,43%

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Os preços dos alimentos continuaram pressionados em agosto, mas não devem ser o único fator a contribuir com a manutenção do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em trajetória pouco compatível com a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% ao ano. A média das projeções coletadas em 11 departamentos econômicos e consultorias aponta alta de 0,41% do IPCA de agosto, resultado que, se confirmado, traria nova elevação dos preços no acumulado em 12 meses. O intervalo entre as estimativas é de avanço de 0,38% a 0,43% e o índice deve ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Economistas ouvidos pelo Valor para o indicador em agosto acreditam que o índice de difusão - medida que mostra quanto a inflação está disseminada na economia - deve se acelerar. Se a estimativa para o IPCA de agosto estiver correta, o índice em 12 meses passará de 5,2% em julho para 5,24% no mês passado.

Para Priscila Godoy, economista da Rosenberg & Associados, o grupo alimentação, que avançou 0,91% em julho, deve subir um pouco menos em agosto: 0,75%. Ainda assim, ela espera que o IPCA registre alta de 0,43% no último mês, mesmo resultado de julho, por causa da expectativa de que a aceleração da inflação seja mais disseminada.

Para Fabio Romão, economista da LCA Consultores, o tomate, um dos itens que mais pressionaram o IPCA em julho, com alta de 50%, deve agora subir um pouco menos, 17%. "Mas começam a entrar em cena, de forma discreta, os efeitos do choque de oferta por questões climáticas que afetaram os preços de milho e soja", avalia. A carne bovina, que teve deflação de 1,13% em julho, por exemplo, agora deve ficar estável, enquanto o grupo aves e ovos deve deixar avanço de 0,49% para subir em agosto 1,47%.

Priscila estima que a alta de preços concentrada em alimentos, em julho, deve atingir mais produtos em agosto. "Se em julho o IPCA subiu por causa de alimentos, em agosto a pressão é generalizada". Priscila destaca o grupo vestuário, que com o fim das liquidações deve ter subido 0,26% no mês passado, e o reajuste de alguns itens da saúde como elementos que devem substituir a alta menor de alimentos. Além disso, o efeito da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis também deve se dissipar, avalia a economista da Rosenberg, pois boa parte dos descontos concedidos já foi contabilizada em junho. Como itens como seguro e conserto de automóveis subiram no IPCA-15 de agosto, considerado uma prévia do índice oficial, o grupo transportes deve ter avançado 0,19% no mês passado, ante queda de 0,03% em julho, calcula Priscila.

Thiago Curado, economista da Tendências Consultoria, estima que o índice de difusão, que mede o quanto a inflação está espalhada pela economia, deve permanecer em patamar elevado em agosto. No IPCA-15 do mês passado, o índice chegou a 65,75%, o maior nível desde janeiro, quando 69% dos preços analisados pelo IBGE apresentavam alta. Para Curado, entretanto, o avanço no índice de difusão não significa repique na inflação. "Poderíamos ter um IPCA no centro da meta com o mesmo nível de difusão que temos atualmente. Preocupa mais a resistência da inflação de serviços e os núcleos de inflação, que devem continuar acima do índice oficial", afirma.

Pelas suas contas, o IPCA de agosto subirá 0,4%, praticamente a mesma variação vista no IPCA-15 do mês passado, que foi de 0,39%, e se situará um pouco abaixo do IPCA de julho, que foi de 0,43%. Já as estimativas para os núcleos de inflação, que retiram do cálculo do indicador os fatores de maior volatilidade, apontam elevações mais intensas. A projeção para a média dos três núcleos de inflação do IPCA em agosto é de alta de 0,44%, ligeiramente acima do 0,43% contabilizado no IPCA-15, mas abaixo do 0,46% visto no IPCA de julho.

Para Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, as trajetórias do índice de difusão e dos núcleos de inflação reforçam a percepção de que não foi apenas o choque de oferta que prejudicou a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5%. Para Arnosti, as expectativas para o IPCA em 2013, situadas em 5,5%, reforçaram a inércia inflacionária. Além disso, os reajustes de salários acima da produtividade tendem a elevar os custos do setor de serviços, impedindo recuo nos preços.

Romão, da LCA, também não enxerga mais espaço para acomodação da inflação de serviços. Nos 12 meses encerrados em julho, a alta foi de 8,8%, abaixo dos 9,7% registrados no fim de dezembro. Daqui para frente, os preços devem se estabilizar nesse patamar e acelerar apenas em meados do ano que vem, respondendo à atividade mais aquecida. Romão projeta alta de 5,2% do IPCA neste ano.

Apontando ainda o fato de que parte dos repasses ao varejo de preços em função da desvalorização cambial ainda não se materializou nos preços ao consumidor, a Rosenberg revisou a projeção para o IPCA em 2012 de alta de 5,1% para aumento de 5,5%.



Veículo: Valor Econômico


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