Empresários afirmam que alguns setores, como o de alumínio, estavam operando com 'margens muito apertadas'
A indústria comemorou a redução da conta de luz, mas admitiu que pode não repassar todos os ganhos para os consumidores. Parte da redução na conta de luz deverá servir para elevar a margem de lucro das empresas.
O empresário Robson Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirmou que setores como os fabricantes de alumínio "estão no limite, operando com margens muito apertadas" e que, portanto, essa redução do custo produtivo será usada como "um alívio para esses empresários continuarem produzindo no País".
O risco de o benefício não ser repassado preocupa integrantes do governo. O presidente de Itaipu, Jorge Samek, reconheceu que precisará contar com a boa vontade da indústria. Ele sugeriu que, nas próximas rodadas de renovação, o governo restrinja os descontos aos consumidores residenciais, caso a indústria não colabore.
De modo geral, no entanto, o presidente da CNI reforçou que a medida deve ser repassada, em maior ou menor grau a depender do ramo produtivo, ao consumidor. O mesmo afirmou o presidente da Federação da Indústria do Rio de Janeiro, Eduardo Gouvêa Vieira.
Ação na Justiça. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não descartou entrar na Justiça para barrar a renovação de contratos de energia anunciada ontem pela presidente Dilma Rousseff, mas pretende estudar o modelo antes de confirmar se vai ao Supremo Tribunal Federal (STF). O diretor de Infraestrutura da federação, Carlos Cavalcanti, definiu como uma "ação casuística" a decisão de não licitar os contratos, como determina a Constituição. Segundo ele, cinco ex-ministros do STF, que integram os quadros da Fiesp, vão avaliar o texto da medida provisória. Ele citou como exemplo de contradição do governo, o fato de as usinas de Belo Monte, Jirau e Santo Antônio não preverem renovação dos contratos ao fim dos 35 anos de concessão.
O advogado-geral da União (AGU), Luís Inácio Adams, não vê possibilidade de o formato de renovação dos contratos de concessão de energia ser derrubado na Justiça. Isso porque, segundo ele, as concessionárias estão assinando novos contratos mediante o compromisso de redução de tarifa. "Se o compromisso não for aceito pelo concessionário, a concessão não será prorrogada e vamos fazer o leilão."
Ele descartou a possibilidade de utilização desse mesmo formato para outros setores da economia. "Do ponto de vista de energia temos esse modelo para reduzir tarifa", afirmou.
Gerdau. Para o empresário Jorge Gerdau, presidente da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo federal, o pacote cria condições para que a matriz hidrelétrica brasileira de baixo custo seja repassada às indústrias para aumento da competitividade. Para o empresário, a decisão do governo de exigir um contrato para o corte das tarifas de energia, foi "muito inteligente" porque transfere ao consumidor o investimento que já foi feito no parque elétrico nacional.
Segundo ele, a energia produzida no País já foi amortizada três vezes, na forma de empréstimos compulsórios cobrados na conta de luz de empresas e de consumidores. Indagado se novas licitações não sairiam mais barato do que a renovação das concessões, Gerdau disse que o tema é muito complexo e que demandaria uma modelagem mais complicada dos leilões. Para o empresário, da maneira como foi feito, o pacote permite o estabelecimento de investimentos e estratégia de longo prazo.
Veículo: O Estado de S.Paulo