Alimentação perde força e IPCA-15 deve desacelerar

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A desaceleração dos preços dos alimentos observada nas últimas semanas tende a se intensificar no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) em novembro, segundo economistas. Em outubro, a prévia do indicador oficial de inflação teve a maior alta desde janeiro ao avançar 0,65%, puxado principalmente pelo grupo alimentação e bebida. Para novembro, a média das projeções de 11 consultorias e instituições financeiras ouvidos pelo Valor Data é de alta de 0,52% do IPCA-15, com intervalo entre as estimativas de 0,50% a 0,57%. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje o indicador.

Se confirmado o resultado esperado pelos economistas, no entanto, a inflação acumulada nos últimos 12 meses será de 5,63%, a maior alta desde janeiro. Para os especialistas, a variação mais forte do IPCA nos últimos meses é decorrência não apenas do choque de oferta que afetou as cotações dos grãos e, indiretamente, dos alimentos, mas também dos avanços de preços disseminados pela economia.

A MCM Consultores projeta que o IPCA-15 mostrará avanço de 0,52% em novembro, principalmente por causa da alta mais moderada esperada para alimentos e bebidas. No índice de outubro, esse grupo subiu 1,56% e a projeção da consultoria para a leitura deste mês é de avanço entre 0,7% e 0,8%. Para Basiliki Litvac, economista da MCM, essa forte desaceleração é resultado do movimento de descompressão dos produtos agropecuários já observado no atacado. No Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) de novembro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Preços ao Produtos Amplo - Agro recuou 1,10%. "Os alimentos vão continuar desacelerando até o IPCA-15 de dezembro", afirma Basiliki, que projeta arrefecimento para 0,50% na alta do grupo no IPCA de novembro. "Só não teremos uma desaceleração maior por causa da alimentação fora de casa, que, por incluir mão de obra, continuará pressionada", diz a economista.

Novembro e dezembro, afirma Basiliki, serão marcados pela perda de força da alta dos alimentos, mas ao mesmo tempo a expectativa é que a inflação de serviços volte a subir. Pelos seus cálculos, depois da alta de 0,43% em outubro, ela será de algo em torno de 1% neste mês. "Os serviços costumam ficar mais caros no fim do ano, o que deve provocar avanços mais fortes nas despesas pessoais." No IPCA-15 de outubro, esse grupo subiu 0,15%.

A proximidade do Natal e do Ano Novo, ressalta Basiliki, também deve levar a altas mais intensas em vestuário, que no mês passado já subiu 1,05%. Outra aceleração esperada vem de transportes, com reajustes na gasolina em Salvador, Curitiba e Fortaleza. "Os postos estão recompondo margem", diz a economista.

Por causa desses focos de pressão, a economista da MCM vê os núcleos de inflação - em que se procura minimizar o impacto dos preços mais voláteis, como alimentação - ainda com variação maior do que a do índice geral. A média dos três núcleos de inflação mais utilizados, pelas estimativas da MCM, mostrará alta de 0,53% em novembro, levemente menor que o avanço de 0,55% em outubro. "Percebemos uma certa rigidez na inflação, que não deverá ceder pelo menos até o fim do ano", afirma Basiliki.

Natacha Perez, economista do Banco Fator, concorda com a avaliação. Para ela, o fato de o índice de difusão (percentual dos itens que registram alta no mês) registrar, com frequência, resultados acima de 65% mostra que a inflação no país está mais disseminada. Em novembro, o índice de difusão deve alcançar 70%, nos cálculos do Fator, apesar da alta menor, de 0,90% esperada para alimentos e bebidas, neste mês. Em outubro, 66% dos itens do IPCA-15 tiveram elevação de preços, quando os alimentos subiam com mais força. O desempenho do grupo alimentação e bebidas costuma ter forte influência sobre o índice de difusão.

Com a alta dos preços mais disseminados pela economia, os analistas descartam a possibilidade de a inflação no próximo ano convergir para o centro da meta de 4,5% perseguida pelo Banco Central, mesmo com a queda esperada para as tarifas de energia.

Para Natacha, do Fator, que projeta IPCA de 5,5% no próximo ano, as altas mais modestas dos alimentos vão durar somente até o fim do ano. A partir de janeiro, afirma a economista, a tendência é de novas acelerações por causa das chuvas de verão, que prejudicam as lavouras.

Para Constantin Jancsó, economista do HSBC, parte do desconto na tarifa de energia será compensado pelo reajuste do preços dos combustíveis, esperado por ele para o primeiro trimestre de 2013. Ao contrário do que ocorreu em junho deste ano, quando o governo zerou a alíquota da Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico - Combustíveis (Cide) para evitar que o reajuste da gasolina chegasse aos consumidores, dessa vez parte do aumento de preços deve alcançar às bombas, segundo Jancsó.




Veículo: Valor Econômico


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