Janeiro reforçou sinais de acomodação no comércio

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O comércio varejista iniciou 2013 com sinais de acomodação e ritmo menor de crescimento. No segmento ampliado, que inclui automóveis e material de construção, o volume mensal de vendas está praticamente constante há oito meses, e as vendas de janeiro foram 0,3% maiores que as de dezembro, na série com ajuste sazonal. No segmento restrito, janeiro registrou alta de 0,6% na mesma comparação, mas dezembro havia recuado sobre novembro, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Embora o varejo ainda apresente níveis altos de crescimento em relação a 2012, economistas avaliam que o ritmo mais fraco dos últimos meses é reflexo de um cenário de menor crescimento da renda real, de orçamento comprometido com vendas a crédito e de inflação mais elevada. Como o cenário dos analistas para 2013 é de um menor crescimento na renda e taxas de desemprego mais estáveis (sem a queda registrada ao longo de 2012), as projeções para o varejo são de um crescimento inferior aos 8% registrados no ano passado.

Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE, o volume de vendas do varejo restrito, que não considera os setores de veículos e de materiais de construção, teve alta de 5,9% em janeiro, na comparação com janeiro do ano passado. É ainda um nível, mas está abaixo da média dos últimos anos: de 2004 a 2012, o crescimento médio do varejo restrito foi de 7,9% ao ano, segundo cálculo feito pela Tendências Consultoria.

"O desempenho do comércio é reflexo direto das condições de renda e de mercado de trabalho, e não dá mais para imaginar muito espaço para que ambos continuem crescendo", disse Mariana Hauer, economista do banco ABC Brasil. "No ano passado, as taxas mensais chegaram a 1,7%. Em janeiro passado foi de 2,9%, e agora estamos com 0,6%." Um crescimento de 0,6% ao mês, ressalta Mariana, representaria 7,4% no ano -- "mas é provável que seja menor do que isso." Em 2012, o volume de vendas do varejo restrito subiu 8,4%.

"Tivemos um ciclo robusto de crescimento nos últimos cinco anos, mas já começamos a ter alguns sinais de esgotamento. Já não contamos mais com uma série de fatores que impulsionaram o desempenho de 2012", disse Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Entre alguns desses fatores, Carvalho destacou as desonerações de IPI que alavancaram automóveis, eletrodomésticos e móveis no ano passado, a redução dos juros, a ampliação do crédito e um aumento real na faixa de 7% para o salário mínimo e de 6% na massa salarial como um todo no último ano. "Esse cenário já é bem distinto em 2013", disse ele. Neste ano, o reajuste real do mínimo foi de 2,7%, o crédito vem inibido pelo aumento no endividamento das famílias e as expectativas de que o Banco Central volte a aumentar as taxas de juros crescem a cada semana, coladas a uma inflação que já se aproxima do teto da meta.

Os preços altos, inclusive, já são um dos fatores que começam a aparecer como possíveis inibidores do crescimento do varejo: enquanto o aumento das vendas em volume foi de 5,9%, o ganho em receita, segundo o IBGE, foi de 12,4%. ambos em relação a janeiro de 2012. E, enquanto as expectativas apontam para um 2013 mais devagar para os volumes, o aumento da receita deve ficar quase estável. "Nossa previsão é que o volume de vendas cresça 5,2% em 2013, e a receita nominal 12,1%", disse Mariana Oliveira, analista da Tendências. Em 2012, os crescimentos foram de 8,4% e 12,3%, respectivamente.

As vendas do varejo ampliado, incluídos o setor de veículos e motos, partes e peças e de materiais de construção, apesar da alta de 7,1% sobre janeiro de 2012, oscilou apenas 0,3% ante dezembro, puxado para baixo principalmente pelos de 1,2% nas vendas de veículos. Em igual comparação, o IBGE registrou queda de 2,6% nas vendas de móveis e eletrodomésticos.

A retirada parcial do IPI reduzido para automóveis, móveis e eletrodomésticos influenciou as vendas desses produtos na passagem de dezembro para janeiro, disse o gerente da coordenação de serviços e comércio do IBGE, Reinaldo Pereira. "O reajuste do IPI tem um efeito sobre as vendas desses setores, mas não se pode afirmar que o comércio vem sendo afetado por essa medida fiscal", disse Pereira.

O consenso entre economistas, no entanto, é que, mesmo reduzindo o compasso, o comércio varejista ainda segue em campo positivo. "Mesmo desacelerando, a difusão do crescimento ainda está alta", pontuou Mariana, do banco ABC. Dos dez setores verificados pelo IBGE no varejo ampliado, sete tiveram crescimento entre dezembro e janeiro, com destaque para materiais de escritório e informática (+18,5%) e outros artigos de uso pessoal (+4,7%). Com variação de 1,4% no mês, o desempenho do setor de supermercados foi também bem visto pelos economistas. "É um setor que cresceu bem e, como não depende de crédito, serve como um bom termômetro da renda", disse Carvalho, da Fecomercio.



Veículo: Valor Econômico


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