Após a surpresa positiva com a indústria em abril, quando a produção nas fábricas cresceu 1,8% ante março, feito o ajuste sazonal, o dado de maio deve devolver parte desse alta, segundo economistas, sinalizando que a recuperação do setor segue frágil e sujeita a incertezas. A média de 14 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para queda de 1,1% da produção industrial ante o mês anterior.
As estimativas para a Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física (PIM-PF) referente ao quinto mês do ano, que o IBGE divulga hoje, vão de recuo de 0,7% a retração de 1,6%. O cenário de reação para o ano, no entanto, ainda está mantido por grande parte dos analistas, embora os índices de confiança do setor manufatureiro mostrem pouco otimismo.
Com projeção de contração de 1,2% para a produção industrial entre abril e maio, Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, ressalta que grande parte dos indicadores que antecedem o comportamento do setor registraram queda no período, de acordo com cálculos dessazonalizados por ele. O fluxo pedagiado de veículos pesados caiu 4,1%, enquanto a expedição de papel ondulado cedeu 2,7% e o consumo de energia elétrica, 2,1%.
A produção de veículos, por outro lado, aumentou 2,1% nessa comparação, segundo dados da Anfavea (entidade que reúne as montadoras do país), mas Bacciotti afirma que essa variação não é suficiente para reverter a tendência contrária indicada pelos outros antecedentes. Para o economista, a retomada do setor, que já não era forte, ganhou riscos adicionais com a recente mudança do cenário externo e a consequente apreciação do dólar, que coloca cautela sobre investimentos e pode encarecer os custos industriais.
Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o câmbio mais depreciado e a menor confiança do consumidor "serão fatais para a indústria", que deve continuar registrando taxas negativas ao longo do ano. Em maio, ele prevê queda de 1,5% da produção ante abril. Segundo Vale, o dólar mais caro aumenta os custos de insumos e bens de capital do setor, enquanto o ramo automobilístico, que vinha mostrando bons resultados no primeiro semestre, não deve mais contribuir tanto com a produção daqui em diante.
Uma parte desse arrefecimento, diz o economista, vem das elevadas bases de comparação de meados de 2012, quando o governo reduziu o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis, mas também há uma piora na conjuntura, já que as manifestações populares recentes podem funcionar como um "gatilho" para um consumidor que já estava mais retraído, num momento em que o mercado de trabalho dá indícios mais claros de perda de fôlego. "Isso certamente vai afetar uma indústria que já começava a dar sinais de excesso de estoques."
A despeito das oscilações mensais, André Muller, da Quest Investimentos, afirma que a indústria segue em lenta trajetória de reação, mas há dúvidas sobre a manutenção desse comportamento. Segundo seus cálculos, a produção recuou 0,9% em maio ante abril. "Os indicadores de confiança não vão na direção de uma recuperação consistente", nota Muller. Medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança da Indústria (ICI) caiu 1,1% entre maio e junho, para 103,8 pontos, menor nível desde julho de 2012.
A mudança recente de cenário, diz o economista da Quest, após a desvalorização do câmbio e a expectativa de juros maiores, pode ter afetado o humor dos empresários. "De um modo geral, o custo do capital tem ficado bem mais alto". Para 2013, contudo, Muller mantém sua estimativa de avanço de 2% para a produção industrial, com oscilações nos dados mensais, a exemplo dos números observados até abril.
Com perspectiva semelhante, Bacciotti, da Tendências, trabalha com expansão de 2,3% da produção no ano. Para a previsão se concretizar, ele calcula que a indústria precisa crescer a uma média mensal de 0,25% de junho até dezembro, com ajuste sazonal, variação que considera fraca. "O cenário para a produção é de continuidade de uma recuperação gradual, mas se tornou mais incerto", resume.
Veículo: Valor Econômico