Baixo risco abre as portas do crédito para lojistas

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A elevação da taxa básica de juros e a desaceleração da economia nos últimos meses tiveram impacto negativo no crédito. Os bancos, especialmente os privados, ficaram mais cautelosos e a concessão de empréstimos diminuiu. Mas isso não se aplica às franquias. Desde o fim da década passada a oferta de crédito para as franquias vem aumentando como resultado de um persistente trabalho da Associação Brasileira de Franchising (ABF) com os associados e ao sistema financeiro.

O "pulo do gato" foi convencer o franqueador a ser o elo de aproximação do franqueado com os bancos e estabelecer parcerias com as instituições financeiras, disse o consultor de negócios da ABF, Walter Batista. Ao fazer a parceria, o franqueador fornece ao banco informações detalhadas a respeito do seu negócio, modelo de desenvolvimento, faturamento e critérios de seleção dos franqueados, que vão mitigar o risco do empreendedor e lhe dar acesso ao crédito em condições diferenciadas.

Hoje, os bancos já assumiram que os franqueados têm um risco de crédito inferior ao de uma pequena ou média empresa comum porque, em última análise, ele é semelhante ao do franqueador. "O índice de mortalidade das pequenas empresas é elevado, mas entre as franquias ele tende a zero", afirmou Batista.

O diretor do HSBC, Marcelo Aleixo, concorda. O banco já tem parceria com 86 grandes cadeias de franquias e montou times de especialistas no setor. "Esse é um mercado em expansão, onde queremos estar", afirmou Aleixo. Por meio do franqueador master chega-se aos franqueados já com conhecimento profundo do seu negócio. Como sintetizou o executivo, o principal problema das pequenas e médias empresas é geralmente a gestão. Mas a franquia não enfrenta esse problema, porque o franqueador a ajuda a administrar o negócio, fazer as compras e até escolher o ponto. Com tudo isso, a inadimplência das franquias é 40% menor do que a da carteira de pequenas e médias empresas comuns, informou Aleixo.

De acordo com o Banco do Nordeste do Brasil (BNB), a inadimplência no segmento de franquias fica entre 2% a 3% da carteira ativa e geralmente está concentrada nos setores de produtos e serviços não essenciais, como cosméticos. As franquias focadas em produtos básicos como alimentos e medicamentos raramente ficam inadimplentes, disse o diretor de negócios do BNB, Paulo Sérgio Ferraro.

Em 2007, quando assumiu a atual posição, Ferraro buscou expandir sua área de atuação no foco principal do banco, que são as micro e pequenas empresas. Fez então parceria não só com a ABF, mas também com a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), espaço por excelência das franquias. O BNB também tinha em mente o fato de os negócios de franquia terem crescido bastante na sua área de atuação, que abrange o Nordeste e parte de Minas Gerais e Espírito Santo.

As franquias cresceram 19% em 2012 e atingiram faturamento de quase R$ 104 bilhões. No Nordeste, a expansão foi de 14,5%. Só em shopping centers foram abertas 5,5 mil a 6 mil franquias de 2012 para 2013 e 38% delas estão no Nordeste. Quando financia a construção de um shopping, o BNB já oferece o crédito para os pequenos franqueados.

Não há estatísticas oficiais a respeito da oferta total de crédito para franquias. As operações estão incluídas nas carteiras de pequenas e médias empresas dos bancos, que só são discriminadas para controle interno. De várias instituições consultadas, a mais transparente foi a Caixa Econômica Federal, que informou ter desembolsado R$ 803 milhões no ano passado para franquias e esperava mais do que dobrar esse valor neste ano, emprestando R$ 2 bilhões. De janeiro a maio foram R$ 470 milhões, 60% a mais do que em igual período de 2012.

O BNB fez 33 mil operações com franquias, de 2007 a janeiro passado, totalizando R$ 300 milhões. Nesta década, o crescimento anual tem sido de 23% a 25%. No HSBC, a expansão da carteira de crédito para franquias foi de 86% em 2011 e de 100% em 2012. A Desenvolve SP financiou R$ 17,5 milhões para o setor.

O Banco do Brasil preferiu fornecer dados a respeito da carteira de crédito para micro e pequenas empresas, que inclui as franquias, e fechou o primeiro trimestre em R$ 89,3 bilhões, com incremento de 27,1% em relação ao mesmo período de 2012. O saldo das operações de capital de giro atingiu R$ 60,11 bilhões, com crescimento de 24,8% em comparação a março de 2012. Já as operações de financiamento de investimentos tiveram alta maior, de 33,9%, chegando ao saldo de R$ 26,97 bilhões.

Cerca de 80% da demanda de crédito das franquias é motivada pela necessidade de recursos para implantar a primeira loja ou para construir uma nova unidade, informou o sócio da Decisão Consultoria, Walter Dallari, especializado em desenvolver o projeto de viabilidade econômico-financeira exigido pelos bancos para liberar os recursos para essa finalidade.

É o perfil do negócio que define se é melhor tomar dinheiro emprestado para implantar uma nova franquia ou não, disse Dallari. Há atividades que demandam muitas máquinas em sua implantação, mas gastam pouco em manutenção, como é o caso de uma lavanderia. Nesse caso, é melhor recorrer ao sistema financeiro, que oferece várias alternativas de linhas de longo prazo e juros baixos para novos projetos e poupar o capital próprio para o giro. Outros negócios exigem pouco ativo fixo e bastante capital de giro, e demandam uma estratégia diferente.

Dallari avalia que a oferta de crédito para as franquias ainda tem muito espaço para melhorar. Os principais bancos oferecem linhas específicas para a implantação dos negócios, mas as alternativas para capital de giro seguem o leque oferecido para qualquer empresa de pequeno e médio porte.

As linhas mais procuradas são as oferecidas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O BNDES estuda atuar diretamente na área.

Outros bancos públicos também têm alternativas com juros favorecidos. O BNB oferece linhas de longo prazo para instalação da franquia, construção e compra de máquinas, lastreadas em recursos do Fundo Constitucional do Nordeste (FNE), além de linhas de curto prazo para capital de giro para aquisição de mercadorias, insumos e despesas correntes. A linha de longo prazo, lastreada no FNE, têm juros de 4,12% ao ano com bônus de pontualidade de 15%, que reduz a taxa a 3,5% ao ano, disse Ferraro. O prazo pode ir até 12 anos com quatro de carência.

O Proger do Banco do Brasil, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), segundo o diretor de micro e pequenas empresas do banco, Adilson Anísio, financia até 80% dos projetos de investimentos, com ou sem capital de giro associado, destinados à ampliação ou modernização de micro e pequenas empresas com faturamento bruto anual de até R$ 7,5 milhões. O prazo é de seis anos, com um de carência e juros a partir de 0,61% ao mês. Na Caixa, informou o superintendente nacional de micro e pequenas empresas, José Ricardo Veiga, há o BCD Franquias, que cobre até 60% do investimento total, com cinco anos de prazo e taxa de 1,25% ao mês.



Veículo: Valor Econômico


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