A inflação continuará alta e acima do teto estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) - de 6,5% ao ano - ao fim dos próximos 12 meses, período em que os juros serão elevados, segundo a expectativa dos consumidores que participaram da Sondagem do Consumidor de julho, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).
Embora a inflação mensal tenha perdido força em maio e junho, a percepção do consumidor é de que o ritmo de aumento dos preços persistirá. Na sondagem, a expectativa do consumidor para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a ser acumulado nos próximos 12 meses é de alta de 6,8%, ao passo que, na previsão dos cem analistas ouvidos no boletim Focus, do Banco Central, a previsão é 5,7% de avanço no período.
"Na percepção do consumidor, não existe desaceleração na inflação. A avaliação do consumidor está distante da dos analistas. Pode haver defasagem na avaliação do consumidor em relação a dos analistas, mas também há pessimismo sobre a inflação no curto prazo", disse Viviane Seda, coordenadora de análises econômicas do Ibre.
Já André Braz, economista da FGV, explica que a percepção do consumidor é "mais lenta" do que a dos analistas para detectar a diminuição no ritmo de expansão dos preços. "O consumidor, em alguns casos, paga 50% mais caro para determinados itens de sua cesta de consumo hoje do que pagava há um ano. O preço pode até cair 10% agora, mas, ainda assim, ficará bem mais caro do que no ano passado. O consumidor só capta diminuição da inflação quando a queda tem a mesma magnitude da alta. O efeito de redução é recente e vai levar um tempo até os preços ficarem convidativos para os consumidores", afirmou.
A inflação também levou à piora na expectativa do consumidor sobre os juros. De acordo com a pesquisa, em julho, 6,1% dos participantes da pesquisa responderam que esperam queda dos juros, enquanto em junho esse grupo representava 12,5% dos entrevistados. No mesmo período, o contingente de pessoas que preveem alta dos juros subiu de 57,9% para 59,7%. Foi o nono mês consecutivo de alta na parcela que vê alta dos juros.
Preços e juros são duas das principais influências à deterioração da confiança dos consumidores, segundo Viviane. Na passagem de junho para julho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) caiu 4,1%, feitos os ajustes sazonais, para 108,3 pontos, o menor nível desde maio de 2009 (103,6 pontos). Foi a maior queda desde agosto de 2011, quando o recuo foi de 4,6%.
A especialista da FGV diz que a desaceleração do mercado de trabalho e as manifestações que ocorrem pelo país também reduzem a confiança do consumidor.
Os dois indicadores que integram o ICC, o Índice da Situação Atual (ISA) e o Índice de Expectativas (IE), caíram entre junho e julho, na série dessazonalizada, segundo a FGV. O ISA recuou 9,7%, para 109,2 pontos, patamar mais baixo também desde maio de 2009 (103 pontos), enquanto o IE caiu 1,6%, para 106,7 pontos.
"Estamos observando que a confiança do consumidor vem se deteriorando com o passar dos meses. Em julho, a diferença é que houve queda na confiança em todas as classes de renda", diz a economista da FGV. "A variável emprego não está mais tão favorável como antes."
Veículo: Valor Econômico