Os reajustes nas tarifas de energia e a alta nos preços dos combustíveis são os principais itens que exercem pressão sobre o indicador no início de 2015; em fevereiro elevação deve ser de 7,5%
Segundo economistas, a inflação do primeiro trimestre pode chegar ao patamar de 7,3%, bem acima do teto da meta de 6,5%, que é fixada pelo governo federal. Os reajustes nas tarifas de energia e a alta nos preços dos combustíveis são os principais itens que exercem pressão sobre o indicador neste início de ano. Em janeiro, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já foi pressionado pelos administrados e teve variação de 1,24% no mês, a maior registrada desde fevereiro de 2003. No acumulado em 12 meses, o índice se elevou em 7,14% e foi o mais alto desde setembro de 2011.
O aumento nos gastos da população com habitação, em 2,42%, transportes, em 1,83% e com alimentação e bebidas, em 1,48% teve o maior impacto no IPCA de janeiro e foi responsável por 85% do índice do mês. Em habitação, o maior impacto veio da energia elétrica, que sofreu alta de 8,27% no mês. Já no grupo de transportes, destaca-se a elevação nos gastos com ônibus urbano, em 8,02%, com ônibus intermunicipal, em 6,59%, ônibus interestadual, em 1,21%, tarifas de metrô, em 9,23%, preços de táxi, em 2,63%, e tarifa de trem, em 8,95%.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação de bens e serviços monitorados saltou de 0,43% em dezembro para 2,50% em janeiro, ficando bem acima do IPCA cheio de janeiro. A taxa em 12 meses dos preços administrados alcançou 7,55%, também superior à do IPCA no mesmo período. Além da pressão das tarifas de energia elétrica, a taxa de água e esgoto teve alta de 1,42%, e foi puxada pela cidade de Campo Grande, onde os preços se elevaram em 11,19%, devido ao reajuste de 12,26%, no dia de 3 de janeiro.
Segundo economistas ouvidos pelo DCI, o IPCA deve continuar pressionado neste mês e pode chegar a 7,3% no primeiro trimestre. A gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patrícia Pereira, calcula que a inflação de fevereiro pode ter variação positiva de 1% no mês e de 7,5%, no acumulado em 12 meses. "Um dos impactos para cima virá do aumento das mensalidades escolares, que são apuradas pelo IBGE no mês de fevereiro. Além disso, o IPCA deste mês irá captar a alta do PIS e Cofins sobre combustíveis", afirma a gestora da Mongeral.
Outros impactos
Ao comentar os resultados do IPCA, a coordenadora de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, lembra que o indicador absorverá, em fevereiro, os impactos dos reajustes de energia em São Paulo, efeitos residuais de aumentos das tarifas de ônibus urbano em Recife, São Paulo e Fortaleza. Além dos reajustes de tarifas de táxi em Salvador.
Eulina acrescenta que a inflação de fevereiro deve vir ainda com influência do sistema de bandeiras tarifárias sobre as contas de energia elétrica, já que, assim como janeiro, o mês terá a bandeira vermelha, repassando ao consumidor o gasto maior pelo acionamento de usinas térmicas. "Ainda temos que acompanhar a história da bandeira tarifária que pode sofrer um novo reajuste, mas em fevereiro ela continuará vermelha", afirmou Eulina.
Patrícia ressalta que, até o momento, é esperado que a inflação de alimentos ofereça um alívio ao IPCA de fevereiro, já que ainda não foi apurado nenhum choque nas colheitas de produtos in natura. Nas projeções da economista da Tendências Consultoria, Adriana Molinari, o IPCA de fevereiro deve ter alta de 1,10% no mês e de 7,58% no acumulado em doze meses, expectativas próximas da Mongeral Aegon Investimentos.
Para Adriana, os preços das mensalidades escolares e combustíveis também serão os maiores fatores de pressão.
Já no fechamento do primeiro trimestre, a economista da Tendências afirma que a expectativa é que o IPCA feche com alta de 6,98%. No entanto, ela ressalta que a consultoria deve revisar a projeção para cima, após a aplicação dos reajustes extraordinários das tarifas de energia, a partir de março, que ainda seguem sem definição. A consultoria espera que, nos três primeiro meses do ano, a alta no IPCA cheio seja de 2,73% e, no grupo dos administrados, de 3,82%. No acumulado em doze meses, o conjunto de preços monitorados deve ter alta de 8,5%.
Já na expectativa da Mongeral, o IPCA do primeiro semestre de 2015 pode ter elevação de 7,34%, no acumulado em doze meses e de 3,10%, nos primeiros três meses de 2015.
No entanto, Patrícia acrescenta que devem ocorrer impactos adicionais no índice, em decorrência de mais aumentos a serem definidos nas tarifas de energia elétrica.
O professor do Instituto Insper, Otto Nogami, também projeta uma alta entre 7,2% e 7,3% no IPCA do primeiro semestre, puxada, principalmente, pelos serviços e produtos controlados pelo governo.
Fazenda
O ministro da Fazenda Joaquim Levy, não comentou o desempenho do índice oficial de inflação divulgado na última sexta-feira. O resultado do IPCA de janeiro é o primeiro dado consolidado que Levy enfrenta desde que assumiu a Fazenda, no início do mês.
A postura do ministro, contudo, tem sido de não comentar o desempenho da economia. De acordo com a agenda oficial do ministério, Levy despacha em seu gabinete.
Veículo: DCI