Varejos populares de BH apuram queda nas vendas

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Disparada do dólar refletiu sobre o preço final das mercadorias

 



A alta do dólar, cotado acima de R$ 3,10, tem refletido negativamente sobre os negócios estabelecidos nos shoppings populares de Belo Horizonte. Dependentes, quase que exclusivamente, de produtos importados (made in China), os comerciantes desses centros de compras têm adquirido mercadorias até 70% mais caras e, diante dessa realidade, têm sido obrigados a optar por duas realidades distintas: absorver o prejuízo, para não perder a clientela; ou repassar o reajuste para o consumidor, com o risco de ver as vendas despencarem.

Com oito anos de atuação no Shopping Oiapoque, no centro da Capital, a loja Mundo da Hora tem sofrido o impacto da alta do dólar nos últimos meses. O estabelecimento é focado na venda de relógios, mas também oferece algumas marcas internacionais de cosméticos para cabelo e corpo. De acordo com a proprietária, Angélica Miranda, os produtos vêm do Paraguai e dos Estados Unidos e são comprados por ela durante viagens a esses países organizadas em conjunto com outros comerciantes.

Segundo a comerciante, o valor da mercadoria vendida sofreu aumento de até 25%. No primeiro momento, ela tentou não repassar o reajuste, mas como a alta do dólar se manteve, ela não teve escolha e precisou aumentar o preço dos produtos. "Eu conseguia vender um vidro do hidratante Victoria Secrets por R$ 25 no atacado, mas agora ele já custa R$ 28", exemplifica.

De acordo com Angélica Miranda, o aumento nos preços refletiu diretamente nas vendas, que caíram pelo menos 25% nos últimos meses. A comerciante afirma que a saída que ela encontrou foi o diálogo com o consumidor. "A gente tenta explicar para o cliente que ele está comprando em real, mas que o produto é importado e comprado em dólar", diz. Além disso, ela tem conseguido equilibrar o preço com um estoque de mercadoria que foi comprada antes da disparada do dólar.

Também no segmento de relógios, o comerciante César Oliveira Silva sofre a mesma realidade em sua loja C e C Relógios e Bijuterias, localizada no Shopping Xavantes, no centro de Belo Horizonte. A mercadoria vendida em seu estabelecimento vem de São Paulo e do Paraguai e teve seu valor aumentado em até 50%.

O proprietário afirma que precisou repassar um pouco desse reajuste para o consumidor final, mas que absorve parte do prejuízo para não perder clientela. "Nos últimos meses, contabilizei 30% de prejuízo. Para compensar essa perda, o jeito é trabalhar mais: abrir a loja no feriado e até no domingo, que eram dias que eu descansava", diz.

Outro segmento muito afetado é o de produtos de informática, pois a maioria dos componentes é importada. Na Log Informática, localizada no Shopping Oiapoque, o aumento de preço dos produtos resultou em queda de até 30% nas vendas. "O valor do nosso produto é muito baseado na variação do dólar, então se a moeda sobe, toda a minha mercadoria acompanha. Infelizmente o mesmo não acontece quando o dólar diminui, pois os fornecedores mantêm o preço", destaca a proprietária Mariza Almeida.

A comerciante está no shopping há oito anos e vende produtos como pendrive, teclado de computador, cartão de memória e placa de vídeo. Segundo ela, toda a mercadoria vem de São Paulo. Para sofrer menos o impacto da alta do dólar, a comerciante está tentando controlar seu estoque, diminuindo a quantidade de produtos na loja. "Estou repondo apenas o que estou vendendo, o que aumenta as minhas idas à São Paulo. Antes eu fazia uma viagem por mês e comprava todo o estoque, mas agora faço duas e até três viagens mensais", diz.


Descontos - Muito comum no comércio popular, a famosa pechincha ganha ainda mais lugar entre os proprietários de lojas em shoppings como o Oiapoque e Xavantes. Diretamente afetados pela disparada do dólar, eles são obrigados a aumentar o preço dos produtos mas, por outro lado, sabem que se não cederem aos descontos acabam perdendo os clientes.

o caso da Esquinão das Bolsas, loja que fica no Shopping Oiapoque e comercializa principalmente mochilas. De acordo com o proprietário Márcio Vieira, os produtos são comprados em São Paulo e no Paraguai e, devido à disparada do dólar, os preços na loja foram reajustados e o estabelecimento registrou queda de até 50% nas vendas. O caminho encontrado pelo comerciante para compensar a perda foi aceitar a pechincha. "Fazemos promoções com diminuição de até 30% do valor da mercadoria. Antes também costumávamos dar descontos, mas normalmente eles ficavam na casa de 10%", diz.

A loja de capas e acessórios para celular Multicapas também está apostando na estratégia da promoção. Há três anos no Shopping Oiapoque, o comércio pertence a uma família chinesa que traz os produtos da própria China, além dos Estados Unidos e do Paraguai. De acordo com a vendedora Graziela Souza alguns produtos tiveram aumento de preço de até 70%, o que assustou os consumidores e gerou queda de até 50% nas vendas da loja.

"O cliente está acostumado a vir ao Oiapoque para comprar produtos baratos, então quando ele chega aqui e vê que o valor não está muito diferente acaba desistindo. A solução que encontramos é dar descontos e diminuir o preço de alguns produtos, principalmente os que estão na loja há mais tempo. No mais, é fazer de tudo para cativar o cliente", afirma.



Veículo: Diário do Comércio - MG


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