Cenário é de consumo moderado no futuro

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                                   Seminário em Caxias do Sul reuniu especialistas que detalharam a situação e as perspectivas de setores estratégicos



Depois de consumir acima da sua capacidade nos últimos anos, o brasileiro forçosamente está ingressando em nova fase, que tende a exigir mudanças nas estratégias das empresas. O recado foi dado pela economista Fabiana D'Atri, coordenadora do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, na palestra de encerramento do seminário sobre perspectivas econômicas para 2015 e 2016 realizado pelo Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs) de Caxias do Sul.

Segundo ela, o crescimento do PIB médio brasileiro para os próximos quatro anos deverá ser na ordem de 2,38%, pouco mais da metade do que se previa em outras épocas. "O brasileiro se achou rico sem ser rico. Gastou bem mais do que poderia em todas as áreas."

A economista afirmou que a crise atual, ao contrário de 2009, é doméstica. Boa parte dela decorre da falta de confiança do consumidor e do investidor, mas também tem relação com a fragilidade política e com a corrupção, que parece não ter fim. "E isto não se resolverá no curto prazo", argumentou. Fabiana citou que a crise está disseminada por todas as regiões do Brasil e setores produtivos. "A retração não é exclusiva do setor automotivo, certamente o mais atingido."

De acordo com a economista, há indícios claros de agravamento no mercado de trabalho, com expectativa de a taxa de desemprego chegar a 8,2% no próximo ano e redução dos salários de admissão. "Projeta-se a perda líquida de 600 mil empregos em 2014." Segundo ela, a indústria já fez dois terços dos ajustes. A partir de agora, construção civil, serviços e comércio começam a adequar seus quadros. "É oportunidade, mesmo que dolorosa, para tentar melhorar a produtividade, um dos maiores problemas das empresas", definiu. Os juros, segundo projeções do banco, continuarão subindo, alcançando 14,25% em dezembro; a inflação baterá perto dos 9%; e o PIB cairá 1,7%.


Agricultura é a que sofre menos


A pouca interferência do poder público, restrita à liberação de recursos por meio do Plano Safra, é fator determinante para que o setor agrícola esteja em situação um pouco melhor do que as demais atividades no atual momento de crise na economia brasileira. Ainda assim, a produção de tratores para consumo interno deve baixar, em 2015, para algo próximo a 40 mil unidades, em torno de 25% a 30% inferior à média de outros anos.

Apesar da retração, de acordo com Rogério Vacari, diretor executivo da Agrale, é necessário que se invista de forma a atender novas características do setor, como ocorreu há 25 anos, quando o cultivo tradicional cedeu lugar ao direto. Ele assinalou que a agricultura empresarial busca cada vez mais equipamentos de maior potência e a familiar prioriza a especialização.

Vacari destacou que o Brasil tem, atualmente, 5 milhões de propriedades agrícolas, das quais 4,8 milhões são familiares. Destas, 3 milhões estão localizadas no Nordeste, mas com características de subsistência, que dificultam o acesso a financiamentos. "Este é o ponto a ser mudado", defendeu. Enfatizou que existem 1,8 milhão de propriedades com potencial de crédito para o Programa Mais Alimentos, das quais 600 mil na região Sul.

Com queda de 5% no faturamento, no período de janeiro a maio, o segmento eletroeletrônico tem se ajustado por meio da busca de novos nichos de mercado e investimentos em produtos e tecnologias. De acordo com Edson D'Arrigo, diretor-presidente da Intral, o setor atende demandas dos setores automotivo, automação e controle e residencial. "A área automotiva, principal cliente, apresenta redução de 33%; na automação, o recuo é de 12%. No segmento residencial, estão surgindo oportunidades para fazer frente ao aumento dos custos de energia."

Para o empresário, o setor não pode parar de investir, mesmo em momentos de crise, sob pena de morrer. Destaca que a obsolescência dos produtos se dá muito rapidamente, obrigando permanentes aportes em novas tecnologias visando à atualização e redução de custos. "O mercado não paga mais do que R$ 12,50 por um reator. Para atender esta situação, só com tecnologias e atualização permanente para segurar o preço.

Depois de mais do que dobrar a produção anual, saindo de 16 mil, de 2001, para 35 mil em 2011, a indústria brasileira de carrocerias de ônibus convive com momento de forte retração. No ano passado, o declínio foi de 16%, totalizando 28 mil unidades, com média mensal de 2,3 mil veículos. Até maio deste ano o setor produziu 8 mil ônibus, média de 1,6 mil por mês, correspondendo a uma queda próxima a 30%. Diante deste cenário, Ruben Bisi, diretor de negócios ônibus da Marcopolo, aponta como grande dilema identificar qual deve ser o tamanho do mercado nacional de ônibus para os próximos anos. "Talvez se situe na faixa de 20 mil anuais."

O executivo lembrou que nos últimos anos o setor conviveu com crédito fácil e juros baixos, além do financiamento de até 90% do bem. Desde o início do ano, as taxas dobraram e o valor financiado caiu para 50%. "O transporte de passageiros está aquecido, mas o frotista não quer investir na renovação ou ampliação em razão da falta de confiança", argumentou.

De acordo com o executivo, uma das preocupações centrais da empresa, diante deste cenário de incertezas, é com os fornecedores e com a rede de distribuidores. Segundo ele, o período é de ajustes e redução de despesas, o que exige que cada integrante da cadeia busque se adequar ao momento de dificuldades. Defendeu a união de esforços para encontrar formas de passar esta crise sem traumatizar nenhuma das partes. "Sabendo que sem rentabilidade ninguém sobrevive."

Enxergar oportunidades em outros mercados mundiais, aproveitando o potencial de crescimento de vários países, é alternativa que Vanei Geremia, diretor comercial da Master, fabricante de autopeças das Empresas Randon, defendeu como alternativa ao momento de crise no Brasil. Ele lembrou que, em 2013, foram produzidos mundialmente 4,1 milhões de caminhões e 871 mil veículos rebocados. "Há espaço para ser ocupado pela nossa indústria. Temos é que nos organizar para aproveitar estas oportunidades", reforçou. Mas ponderou que não dá para esquecer o mercado interno. Para ele, a crise vai passar. A dúvida, assinalou, é saber quando.

De acordo com Geremia, o mercado nacional de caminhões acima de 3,5 toneladas deve cair 38,5% neste ano, para 86 mil unidades. Em veículos rebocados será ainda maior: 41,5%, somando 35,5 mil. No segmento de vagões ferroviários, a queda será menor: 9%, para 4,3 mil unidades. "Neste ano, está sendo muito difícil definir o que fazer no próximo mês. Imagina o que fazer no próximo ano", definiu.




Veículo: Jornal do Comércio - RS


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