Inflação deve desacelerar nos primeiros meses do ano

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Sem o choque de alta da energia e combustíveis que alimentou a disparada do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos três meses iniciais do ano passado, a inflação tende a começar a desacelerar e voltar à casa de um dígito entre o final do primeiro trimestre e o início do segundo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na manhã desta sexta-feira que a taxa fechou 2015 em 10,67% e instituições financeiras ouvidas pelo boletim Focus, do Banco Central, tem por enquanto expectativa de que a variação fique em 6,87% em 2016 .

Para o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, o IPCA terá um lento recuo no primeiro semestre, que deve se acentuar um pouco mais na segunda metade do ano. A projeção da consultoria indica que, em abril, a inflação oficial em 12 já deve encerrar em 9%. O gerente de análise econômica do Banco Cooperativo Sicredi, Pedro Lutz Ramos, tem expectativa mais otimista. Pelos cálculos da instituição, o IPCA em 12 meses estará em 9,3% ainda em março.

— No primeiro trimestre do ano passado tivemos o aumento dos impostos sobre combustíveis e dois reajustes de energia elétrica — recorda Ramos, lembrando que em janeiro, fevereiro e março de 2015 a taxa encerrou acima de 1,2%.

Mas apesar de não existir previsão de novo susto com preços administrados (como energia, combustíveis e tarifas de transporte), que estavam represados até o ano passado, a inflação em 2016 permanece pressionada. Para Vale, a lista de fatores que ainda deve nutrir o IPCA são câmbio de volta a um patamar acima de R$ 4, preços dos alimentos em alta devido ao excesso de chuva em algumas regiões e seca em outras, reajuste de 11,6% no salário mínimo e tarifas de transporte. Mesmo com o preço do petróleo abaixo de US$ 40, o economista não considera impossível uma nova alta no preço dos combustíveis para ajudar a Petrobras a melhorar o caixa. No caso da energia, diz Vale, a melhor hipótese é o país ter bandeira amarela nas tarifas por alguns meses devido ao aumento do níveis de reservatórios de hidrelétricas e desligamento de térmicas, mais caras.

Um dos poucos fatores que pode ajudar a segurar ainda mais os preços, observa Vale, é a paralisia da economia. O mercado de trabalho fraco e o aumento do desemprego, acrescenta Ramos, podem ser outro freio para os preços.

— Estamos em uma recessão muito forte e teremos outra queda significativa do PIB em 2016. Isso é importante para evitar repasse de preços. Não há espaço para repassar — observa Vale.

Mas a grande diferença entre a inflação de 2015 e a de 2016 deve ser relacionada aos preços administrados. Ramos lembra que o item representa um quarto do IPCA e, ano passado, subiu acima de 18%, respondendo por 4,5 pontos percentuais da alta do índice geral. Agora, projeta, deve subir 7,8%, contribuindo com 1,9 ponto percentual da variação do IPCA em 2016, calculado em 6,5% pelo Sicredi.

Ramos pondera que o cenário de inflação em 6,5%, o teto da meta do governo federal, é condicionado à taxa de câmbio não ultrapassar a casa dos R$ 4,20.

Apesar da expectativa de arrefecimento da inflação e da atividade econômica em queda, o Banco Central deve voltar a aumentar o juro. Para a MB Associados, o Comitê de Política Monetária (Copom) sobe a Selic mais 1,5 ponto percentual, chegando a uma taxa de 15,75%. Para o Sicredi, sobe para 15,50% ao ano e, no final de 2016, cai para 14,75%.

 



Veículo: Jornal Zero Hora - RS


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