Definição sobre a taxa básica de juros movimenta 91% do volume na BM&F

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Não é por acaso que o mercado criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic em 14,25% ao ano. Os operadores tiveram que rever as suas posições nos últimos dias para evitar perdas e giraram o recorde de 91% do volume na BM&F.

Dados do boletim do segmento de futuros da Bolsa de Valores (BM&F) evidenciam que movimentação em contratos de taxa de juros saltou do patamar de R$ 80 bilhões (69,7% do volume) em 18 de janeiro para R$ 309 bilhões no dia 19 (82,7%), e atingiu R$ 373 bilhões (91%) na quarta-feira (20/1), data da decisão do Copom sobre a taxa básica de juros (Selic).

Ontem, os operadores do mercado financeiro ainda se ajustavam a reviravolta na política monetária e a questão da credibilidade do Banco Central (BC) brasileiro. As taxas de curto prazo (DI) caíram forte enquanto as longas subiram indicando a falta de confiança no controle da inflação nos próximos anos.

O contrato da taxa de depósito interfinanceiro (DI) com vencimento no próximo mês de abril caiu 1,8% ontem para 14,27%. Ao passo que um vencimento mais longo, para janeiro de 2020 fechou em 16,85% ao ano.

Alguns economistas considerados ortodoxos até avaliaram a decisão do BC de não elevar taxa Selic como "correta", pois o agravamento da recessão brasileira eliminou a inflação de demanda, mas criticaram a declaração do presidente do BC, Alexandre Tombini feita pouco antes da reunião que alterou todas as expectativas, o que ressaltou a suspeita de interferência política na autoridade monetária.

Nos últimos dois meses, o próprio Tombini havia sinalizado que o Banco Central subiria os juros para convergir a inflação para o centro da meta de 4,50% ao ano em 2017, mas mudou de avaliação após um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) prever retração de 3,5% da economia brasileira ao final de 2016.

"A inflação não está sendo alimentada pelo consumo excessivo, pela demanda. Mas, sim, por outros fatores como o aumento dos preços administrados, dos impostos, do câmbio, e pela inércia dos reajustes anuais da inflação passada. Sem capacidade para absorver, o empresário acaba repassando nos preços [de produtos e serviços], os reajustes de salários e dos fornecedores", disse o diretor de operações da FN Capital, Paulo Figueiredo.

Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a "boa notícia" é que a economia brasileira está ruim. "Não era mesmo para subir os juros. Faz sentido a Selic ficar estável. Temos um problema externo muito grande. A tendência da política monetária mundial é de juros para baixo".

Ele tem razão. Além da situação interna de recessão, o cenário externo ficou ruim muito rapidamente por causa da desaceleração da economia chinesa, da queda das commodities (petróleo e minerais) e da falta de reação econômica na Europa e no Japão, mesmo com estímulos monetários. "Na Alemanha, os juros nominais estão negativos -0,44%", exemplificou o economista.

Diante desse cenário, Perfeito reviu ontem suas projeções e aponta os juros pós-fixados em queda no final de 2016. "A Selic pode cair para 12,25% ao ano", calcula o economista.

Atratividade dos prefixados

Caso essa expectativa de queda nos juros pós-fixados venha a ocorrer, o investidor deveria olhar para aplicações financeiras em taxas de juros prefixadas. "Daqui para frente, uma estratégia em pós-fixado [Selic ou DI] não faz muito sentido", argumentou André Perfeito.

Na visão de Paulo Figueiredo, estamos num momento de impasse. "A rentabilidade dos pós-fixados vai acabar recuando, mas ainda há incertezas se a inflação vai começar a ceder ou não. Para o investidor, o prefixado passa ter uma taxa mais interessante", alertou o diretor sobre os riscos.

No mercado de renda fixa há aplicações prefixadas de risco soberano (Tesouro Prefixado) prometendo juros nominais de 16% para vencimento em 2018, enquanto títulos privados oferecem taxas de até 18% ao ano.

Ontem, no programa de compra e venda de títulos públicos federais pela internet (Tesouro Direto), a antiga LTN ou Tesouro Prefixado prometia juros nominais de 16,01% para 2018, e de 16,72% para o vencimento de 2021. Já o Tesouro Prefixado com Juros Semestrais, antiga NTN-F, com vencimento em 2025 prometia juros nominais de 16,69% ao ano. Já o Tesouro IPCA com vencimento em 2019 prometia juros reais de 6,41% ao ano.

 



Veículo: Jornal DCI


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